Gael Garcia Bernal em "NO", filme chileno em exibição
Pablo Larrain é um diretor chileno com 5 títulos no currículo e só
conhecido agora, entre nós, por este “No” (Chile, 2012) candidato ao Oscar de melhor
filme estrangeiro este ano.
Escrito por Pedro
Peirano e Antonio Skármeta é baseado na peça
inédita El Plebiscito, deste
último, que possui crédito como cineasta, já tendo dirigido dois filmes e escrito
roteiro de 15 para tv e cinema e protagonizado seis tipos para essas mídias. O
enfoque é sobre o plebiscito efetuado em 1988, no Chile, que decidiria se o
ditador General Augusto Pinochet continuaria ou não no governo. Sabe-se que
Pinochet assumiu a chefia de estado com o golpe que depôs o presidente eleito
Salvador Allende, em 1973, estando no poder há 17 anos. A ideia de uma pesquisa
de opinião pública deu-se em face da pressão exercida pelos países do
continente. O general tinha certeza que venceria com a força exercida pelo
atrativo do poder. Mas deu “não”. E o filme trata justamente da luta pela
vitória do “não” cuja campanha foi encabeçada pelo jornalista & publicitário
René Saavedra, interpretado pelo ator Gael Garcia Bernal, hoje um nome
internacional, haja vista ter protagonizado diversos filmes em vários países, a
exemplo, seu protagonismo como Che Guevara, em “O Diário da Motocicleta” (2004),
do brasileiro Walter Salles. A interpretação de Gael Garcia é um dos fatores que
impulsionam o trabalho de Skármeta, uma proposta realista que do modo como foi
tratada ganha a feição de documentário dos acontecimentos (há inclusão de sequências
extraídas de filmes da época).
Pouco se constrói em torno de personagens. Mesmo o tipo principal da
historia não ganha muita substancia psicológica. Sabe-se que em principio
hesitou assumir a campanha de combate do ditador considerando-a quase inócua.
Mas a decisão de lutar por uma oposição veemente (afinal o anseio popular)
surgiu e o empenho diante disso foi fundamental.
O filme é homogêneo na sua proposta de refazer o episódio histórico. Uma
linguagem simples diz o que se pede no argumento. E como já haviam se passado muitos anos dos
acontecimentos isto não foi fácil. Há de se evidenciar o trabalho da direção de
arte, mas cabe muito a ideia do diretor em filmar com uma câmera semelhante a
usada pelos documentaristas do período focalizado, dando ao conjunto uma
continuidade que impressiona, como se tudo estivesse sendo gravado na hora.
Por outro lado, o filme captura as evidências de revanche de colegas
opositores ao jornalista, incluindo-se ai seu próprio chefe, mostrando as
dificuldades de circular entre seus demais trabalhos de criação caso dê
continuidade junto com sua equipe aquela posição política. Com recursos
limitados e sob a vigilância da guarda do governo, Saavedra mantém o plano que
ousou criar para eliminar o “sim”.
“No” está sendo exibido em Belém num
programa duplo no Cine Libero Luxardo com o excelente “E Se Vivêssemos Todos
Juntos”, filme que a coluna analisou ontem. Em horários específicos: um título é exibido às 19h e o outro às 21h.
O cinéfilo paraense deve notar que a programação extra realmente ganha a
semana posto que a única estreia comercial foi o blockbuster “Homem de Ferro 3”
lançado em 4 salas de cada circuito exibidor o que vem a provar a teoria de que
não adiante a cidade inaugurar muitos cinemas novos, pois, os filmes são sempre
os alardeados pelos grandes produtores como atrações populares e com isso
ocupam a maioria dos espaços mais nobres.
Na mesma área, ou seja, nas salas especiais, está hoje, no Olympia, em
despedida, o imperdível “A Estrangeira”(Die Fremde/Alemanha, 2010) e, a partir
de amanhã, outro imperdível: “A Cor do Oceano” (Die Farbe des Ozeans/Alemanha,
2011), de Maggie Peren (comentário oportunamente). Na Sessão Cinemateca de
domingo, 5, no mesmo cinema, o clássico popular “La Violetera”(Espanha, 1958)
de Luis Cesar Amadori, filme que impulsionou a carreira da atriz e cantora Sara
Montiel, falecida recentemente (e a exibição é em sua homenagem). Com esses
programas, e ainda mais com os de cineclube, o cinéfilo local tem várias opções
para apreciar o bom filme expurgando os blockbusters.
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