Debora Kerr em uma cena de "Tortura da Suspeita" (1961). Filme "noir".
Profundidade de campo que anuncia
presenças, iluminação com impressionante jogo de sombras, enquadramento
aproveitando o enfoque e salientando detalhes que poderiam passar
despercebidos, esses são os principais elementos que justificam a categoria do
chamado “film noir” e estão presentes em “Tortura da Suspeita”(The Naked Edge, UK,
1961), baseado em um livro de Max Ehrlich, com roteiro de responsabilidade de Joseph
Stefano, também roteirista de “Psycose”(1960). Com esse trabalho estético, o
filme suplanta a inverossimilhança do desenvolvimento da historia e deixa que
se perdoem os estereótipos que surgem aquém e além das personagens expostas na
trama.
“Tortura
da Suspeita”marca a despedida do ator Gary Cooper (1901-1961) e lembra
“Suspeita”(Suspicion, EUA, 1940) de Hitchcock, filme com roteiro de Samson
Raphaelson, Jim Hamison e Alma Reville inspirado num texto de Anthony Barkeley
denominado “Antes do Fato” (Before the Fact). A semelhança está justamente na
construção do sentimento de suspeita. George Radcliff, o executivo vivido por
Cooper, é testemunha decisiva contra seu colega de empresa Donald Heath (Ray
McAnnaly), acusado de matar seu chefe. A esposa de George, Martha (Deborah
Kerr), tende a aceitar a posição do marido, mas a suspeita começa quando ele,
depois do crime e do sumiço de 60 mil libras da cena, constrói um centro
industrial de seu sonho em Londres. Gradativamente as dúvidas contra o marido aumentam
quando outros personagens entram em cena e as poucas palavras de George sobre o
assunto sintonizam com as querelas que começam a surgir quando uma carta da
época do assassinato é entregue em sua casa. No final há um embate. E nesse
ponto o filme não segue o trabalho de Hitchcock. Há uma revelação drástica da
historia e ela se faz em meio à construção de um suspense gradativo.
Exemplarmente delineado na luz, contraluz, gestual e sintoma de medo da
personagem.
O
roteirista assinou “Psicose” e o diretor Michael Anderson (de “A Volta ao Mundo
em 80 Dias”) soube contar a trama com excelente linguagem de cinema. O filme
cativa o cinéfilo. E é uma aula sobre a narrativa cinematográfica. Procure ver.
Outro
lançamento nas locadoras é “Órfãos da Tempestade” (Hereb Comes the Groom, EUA,
1952) de Frank Capra. Mas atenção: o filme esta sendo lançado em DVD com o
titulo de “A Sorte Bate à Porta”(só em letras pequenas abaixo está o título com
que foi lançado nos cinemas).
Trata-se de uma das últimas
comédias do diretor de “A Felicidade não se Compra” e compondo a lista com tantos
outros clássicos norte-americanos dos anos 30 e 40. O ator Bing Crosby
(1903-1977) protagoniza um correspondente de jornal em Paris e dá assessoria
também a um programa de ajuda a crianças órfãs de guerra (o tempo é o imediato
pós 2ª. Guerra Mundial) auxiliando as diretoras da escola no processo de adoção.
Mas um dos garotos não aceita ser adotado por outra pessoa, salvo o amigo que é
chamado para o seu cargo e ao mesmo tempo espera reatar o noivado com uma
garota que deixou em NY há tres anos. Essa situação leva-o a pensar que pode
levar seus dois amiguinhos providenciando a adoção se casar-se com a noiva. A
demora na preparação dos papéis para o processo dificulta a sua viagem daí a
namorada(Jane Wyman) ficar noiva do patrão milonário (Franchot Tone). A chegada
a NY é dramática e até as questões serem resolvidas há um jogo de interesses
que define a situação.
O roteiro original era de Robert
Riskin parceiro de Capra em obras clássicas como“O Galante Mr Deeds”(1936).
Riskin já havia falecido e o diretor usou uma releitura escrita por Laim
O’Brien e Virginia Van Upp. Essa conversão dilui na opção pelo musical. Mas foi
uma imposição dos estudios Paramount a quem Capra tinha compromissos por esta
empresa ter ajudado nos prejuízos que teve com sua firma Liberty. Uma comédia
com Bing Crosby não deixava de ter música. E a canção “Cool cool the Evening”
tornou-se vitoriosa ganhando o Oscar do ano na categoria.
Um filme
divertido com o grupo mirim bem dirigido.
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