Imagem perfeita para captar os efeitos de "Sob Você, a Cidade". Em exibição no Olympia. 18h30.
O
Instituto Goethe (Salvador/Bahia) tem proporcionado ao cinéfilo paraense, um
acervo considerável em obras
cinematográficas que jamais chegariam ao circuito comercial , não só porque há
desnível na forma de distribuição de filmes para o Norte (no caso, Belém/PA),
como devido a uma produção que as vezes é dedicada a cineclubes. Esse formato
de circulação de filmes, o CC-APCC efetivou nos idos de 70-80 numa parceria com
o então diretor desse instituto, Guido Araujo. Hoje, reativado esse contato com
a ACCPA ( seguimento daquela associação anterior) esse instituto está enviados
a melhor produção que tem por lá. Louve-se, então, essa parceria reativada.
O
filme presentemente exibido no Cine Olympía é “Sob Você, a Cidade”(Unter dir
die Stadt, Alemanha, 2010). Centra sua perspectiva em dois enfoques. As personagens
e a cidade. No primeiro caso, há dois tipos, em que cada um deles tendo tempos
específicos em seu objetivo de vida: um banqueiro – que define a dimensão de um
micro-mundo onde circula o recurso financeiro da cidade. E a esposa de um
funcionário recem-chegado em Frankfourt, que domina a cena do jogo afetivo em
meio á turbulência financeira que se desenrola no centro de interesse dos
negócios do patrão do marido. Evidencia-se um sistema capitalista destruidor
subjacente nas entrelinhas das negociações entre os “grandes” da cidade e os
pequenos funcionários que tendem a se adequar à máquina que é destruida e ou
renovada conforme o interesse do capital circulante.
Em
meio à trama afetiva iniciada entre o presidente do conglomerado bancário - que
“arremata” seus congêneres e torna quase impossivel a vida dos citadinos (só se
percebe como estes são atingidos pelas negociações envidraçadas, na cena final)
– e a jovem esposa do funcionário novato naquele novo cartel – as situações de
violência subjazem nesse “affair”. Sem
dúvida serão definidas em novas negociações, agora na base das trocas, em que a
suposta inadvertência desta jovem ao iniciar seu jogo de sedução ao banqueiro
desconhece as consequências que advirão. Somente muito depois percebe o quanto
se tornou cúmplice de toda a trama de violência ccometida nos subterrâneos dos
negócios. No final, embora se considere que o filme poderia terminar em dada
cena, este vai além e capta o teor da trama de amor. De quem? E porque deixou
de ser drama? É o público quem decidirá essa situação.
A
direção de “Sob Você a Cidade” é de
Christoph Hochhäusler, com roteiro do próprio diretor associado a Ulrich
Peltzer. A narrativa tende a afastar-se daquela construção tradicional imposta
pelo “cinemão norte-americano”, daí porque há estranhamento sobre a dinâmica
dialética da apresentação dos personagens. O envolvimento linear que uma dada
escola de cinema credencia para a formação de seu público, diga-se, nem sempre
é seguida pelas várias escolas do cinema mundial. É o caso da escola alemã e de
outras escolas do cinema europeu que desmontam a criação desses tipos e
desenvolvem excelentes maneiras de tratar enredos simples com insights
inteligentes. Dessa forma, somente ao final do filme é que o/a espectador/a
percebe o significado inicial da sedução da jovem ao chefe do marido, cuja
atitude não se traduz como a apelação do conhecimento da causa que será o jogo
principal das negociações na mesa dos demais empresários. O caráter desse tipo feminino é observado no processo
de exposição dos demais figurantes do négócio. Assim, a sequência final –
atitude do banqueiro e de sua amante – reduz a presunção dos conflitos conspiratórios
dos primeiros momentos em suposição de evidencias. A partir daí, uma nova
configuração do re-encontro e dos negócios decidirão a trama. Agora não sob os
olhares do público, mas na sua imaginação do que acontecerá a partir daí.
Outro
detalhe a observar, é sobre a arquitetura da cidade, com os grandes prédios
dominando o ambiente e planos demorados de vidraças, refletindo de forma
distorcida as imagens de habitantes. Nesse caso é a sempre procurada ideia de
que há uma forma de massificação das pessoas, de que os sentimentos se diluem
numa amostragem de gigantismo arquitetônico.
Desempenho
impecável dos atores, em especial de Nicolette Krebitz, protagonizando Svenja
Steve, e de Robert Hunger Bühler, como Roland Cordes.
O
sucesso da programação extra dá o seu recado ao
cinema comercial em Belém. Ainda bem.
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