“A Parte dos Anjos”
O
cineasta inglês Ken Loach, 76 anos, 45 de carreira, 26 filmes lançados, se
notabilizou pela realização de filmes entre o drama, a comédia e outros
gêneros, como seja, a temática política. É filho de operários, e segundo alguns
comentários sobre sua filmografia, dedicou-se a explorar o cotidiano das
condições de vida da classe operária, e/ ou a menos favorecida. Destaco, entre
suas várias realizações, “Terra e Liberdade” (Land and Freedon, 1995) e
"Pão e Rosas" (2000), embora muitos outros exemplares de sua criação
tenham percorrido festivais e circulado em cinemas do mundo.
Entre
nós (Cine Estação) está sendo exibida uma comédia de Loach, “A Parte dos Anjos”
(The Angel’s Share, UK, Fr., Bélgica e Itália, 2012), filmada na Escócia, que
também engrena o drama. Nesse filme, com menos rispidez às suas denúncias,
retrata uma classe social apontando as dificuldades de personagens que tentam
se firmar num cenário adverso. O roteiro escrito por Paul Laverty evidencia Robbie
(Paul Brannigan),
um jovem temperamental, egresso da prisão por atitude violenta e que volta a
responder na justiça por agressão. Preste a se tornar pai (a sua namorada
Leonie está grávida), ele ganha liberdade, mas com a ressalva de prestar
serviços comunitários. Ao se apresentar para cumprir a pena, conhece Harry, o
atencioso diretor que o ensina boas maneiras e como apreciar e degustar uísque.
Também conhece um grupo de “condenados” os jovens Rhino (John Henshaw), a
cleptomaníaca Mo (Jasmin Riggins) e Albert (Gary Maitland), um
tipo desastrado. Enquanto isso, Robbie é ameaçado por um bando rival e
convidado a sair do país pelo pai de namorada. Com dificuldade em arranjar
emprego, aceita furtar um uísque raríssimo que está chegando à Londres para uma
exposição e venda em leilão afamado. Com a habilidade de provador ele é a
pessoa indicada para o roubo e o executa de forma minuciosa gerando o suspense
que sintetiza um pouco a trama que em alguns momentos tende a se perder pelo
número de personagens e situações.
Tudo
funciona sem atropelos no ritmo. O que se lamenta é algum excesso. Não é
possível guardar tantas personagens que surgem no caminho de Robbie. Mas isso
não macula radicalmente o resultado, pois o filme funciona no que se refere à
figura dramática principal e seus colegas. Se o filme não pertence ao grupo de
denúncias sociais a que se acostumou Loach nem assim deixa de enquadrar o
personagem central em uma classe esquecida e marcada por discriminação. Quando
ele sai da prisão a ideia é refazer a vida, trabalhar honestamente. Ainda mais
quando tem conhecimento de uma próxima paternidade. O problema é que o trabalho
não é fácil naquele momento e há uma forte opressão por conta da família da sua
amada. É nesse quadro que o rapaz vai aceitar o convite dos velhos companheiros
de furtos e se meter numa operação mirabolante.
O
filme não chega a um plano de angústia diante do espectador durante as
estratégias de cometimento do roubo. Mas o pouco de uísque não chega aos
valores de milhões ambicionados pelos ladrões. E o que resulta da operação não
tem o mesmo fim. Claro que a trama engendra peripécias adversas na aventura dos
quatro mostrando como eles fazem os arranjos chegarem a um plano eficiente,
pelo menos para o momento. A parte hilária fica na expertise de um atrapalhado
ajudante que desperdiça o líquido precioso conseguido a duras penas.
Trata-se
de uma comédia de exceção, com o mesmo toque de humor inglês que foi visto nas
produções dos antigos estúdios Ealing (lembro “As 8 Vitimas”, 1949). Mas
considere-se que o cinema inglês mantém a aura crítica sob as ordens de uma
comédia social sem apelar para inconveniências.
O
filme deve estar em suas ultimas sessões neste final de semana no Cine Estação.
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