"O Grande Gatsby" a nova versão, com Leonardo DiCaprio.
Cultuado
como uma das obras mais expressivas da literatura norte-americana moderna, “O
Grande Gatsby”(The Great Gatsby), escrito em 1925, ganhou a sua primeira versão
cinematográfica logo no ano seguinte, dirigida por Herbert Brenon com Warner
Baxter protagonizando o milionário do título, apaixonado por uma namorada de
juventude que não esperou o seu retorno da guerra (a 1ª Mundial) casando-se com
Tom Buchanan, um homem rico local. Uma adaptação do romance de Fitzgerald foi
produzida em 1949, com o ator Alan Ladd vivendo o milionário. O título do filme
em português: “Até o Céu Tem Limites”, dirigido por Elliott Nugent.
Nova
versão do livro voltaria às telas em 1972 roteirizada por Francis Ford Coppolla
e dirigida pelo inglês Jack Clayton (de “Os Inocentes” e “Todas as Noites às
9”), com Robert Redford no papel-título, Mia Farrow como a namorada Daisy, e
Sam Waterston como Nick Carraway, o amigo de Jay Gatsby que serve de corifeu à
historia. O filme aplicou recursos muito grandes e não fez sucesso nem de
critica nem de público.
Houve
também uma adaptação do romance para a televisão, em 2000, com Toby Stevens,
Mira Sorvino e Paul Rudd nos principais papéis.
Surge
agora esta versão de 2013 dirigida pelo australiano Baz Luhrmann com Leonardo
DiCaprio interpretando o personagem-título, mais Carie Mulligan como Daisy, Joel
Edgerton é Tom Buchanan e Tobey Maguire vivendo o corifeu Nick.
O
filme abriu este ano o Festival de Cannes sob críticas. O diretor deu muitas
explicações. Usou Nick como o próprio Fitzgerald, escrevendo o livro sobre o
amigo. As duas principais versões mantêm alguma analogia que não se podia
desprezar com relação ao original literário. A diferença em Luhrman é que ele
caracterizou a sua filmografia, ora usando uma edição acelerada com efeitos
visuais que procuram apoio na tecnologia 3D (como as letras das cartas de Daisy
a Jay, ganhando primeiros planos e como que saindo da tela), ora maior evidência
nas metáforas, como a imagem do óculos do out-door que seria “o olho de Deus”
vendo os trágicos acontecimentos, e um final alongado, detendo-se no escritor, com
chance de inserir frases que devem ter saído da veia poética do autor da obra
literária. Mas todo esse arcabouço artesanal do diretor de“Moulin Rouge”(2001)
e do alucinado “Romeu e Julieta”(1996) tem a meu ver certo esvaziamento
tomando-se alguns aspectos: a escolha de seu elenco, por exemplo, como Leonardo
DiCaprio (o Romeu, de Luhrman) vivendo um Gatsby que a mim não convenceu. Da
mesma forma não se via o milionário apaixonado em Robert Redford. O tipo, pela
construção do enredo (não li o romance), exigia um ator que transparecesse a tensão
do homem maduro, envolto no mundo do crime (a venda de bebida na fase da “lei
seca”), magoado por sua Daisy tê-lo trocado por outro. Nos dois filmes o grande
desempenho fica nos intérpretes de Nick: tanto Sam Waterston como Tobey Maguire
conseguem uma máscara expresiva para revelar os fatos (em off). Este último,
inclusive, recebe um diferencial que é o apoio médico que o leva a escrever a
história de seu amigo.
Também
não se dimensiona a base da obra original, ou seja, o retrato de um milionário
que traduz a gênese do capitalismo e o seu objetivo. A época passa nas festas
onde o Charleston é o ritmo e as melindrosas dançam ao som de músicos negros.
Não se evidencia o efeito da guerra e só se avança nas imagens do mundo
financeiro no final do filme de agora, quando Nick já trata da crise que se
esboça em Wall Street (pouco antes do choque de 1929).
Gatysby
é para Fitzgerald – que chegou a escrever roteiro para cinema – o arquétipo do norte-americano
que viveu o decantado “sonho”do país, ganhando fortuna de qualquer maneira e
esperando muito do sentimento por que lhe parecia ideal, mas difícil de
alcançar. Este símbolo de uma riqueza de árduo acesso é justamente o propiciador
da morte do personagem, por meio de uma verdadeira armadilha colocada pelo
marido da sua amada. E o fato de ela sair incólume do drama é a chave da farsa
em que o dinheiro cai de repente de um trono, tornando-se vilão para que outra
igura fuja do cenário com tudo o que ele quis e perdeu.
Um
tema árduo que o cinema tornou a minimizar como um faustoso melodrama.
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