segunda-feira, 15 de julho de 2013

ANA KARENINA


Keira-Knightley e Aaron-Taylor-Johnson em "Ana Karenina".

Com direção de Joe Wright (“Orgulho e Preconceito”, 2005; “Desejo e Reparação”, 2007), roteiro de Tom Stoppard e fotografia de Seamus McGarvey, a mais nova versão de “Ana Karenina”(UK, 2012), baseada no romance de Leon Tolstoy, ganhou o Oscar de melhor figurino este ano. E só não alcançou as nossas telas grandes no tempo hábil (quando foram exibidos alguns filmes já candidatos ao prêmio da Academia de Hollywood) devido à insensibilidade de nossos exibidores que têm privilegiado os blockbusters vazios impingidos pelos distribuidores. Hoje, felizmente, o filme de Wright chega aos cinemas locais e excepcionalmente em lançamento simultâneo no Cine Libero Luxardo e Estação das Docas - Cine Teatro Maria Sylvia Nunes.
Ambientado na Rússia imperial de meados do século XIX, o roteiro do vencedor do Oscar por “Shakespeare Apaixonado”(1998) e coautor dos roteiros de”Império do Sol”(1997) e “Brazil-O Film(1985), além de mais de 20 outros títulos entre longas e curtas, “Ana Karenina” tem Keira Knightley no papel-título, uma aristocrata que viaja de São Petersburgo a Moscou com o objetivo de salvar o casamento de seu irmão - o Príncipe Oblonsky (Matthew Macfadyen) -, tentando convencer a cunhada a perdoar as traições dele com uma empregada. Durante esta missão acaba se apaixonando pelo jovem militar Vronsky (Taylor-Johnson) que encontra durante uma festa. De volta a São Petersburgo, Ana inicia um longo relacionamento extraconjugal esforçando-se em guardar segredo de seu marido, o aristocrata Karenin (Jude Law), mas sem evitar os comentários maldosos da sociedade. A paixão adúltera chega a um ponto que ameaça a guarda do filho de Ana a quem o marido faz questão não só de manter a guarda como de proibir que ela veja a criança.
“Ana Karenina” já teve 10 versões cinematográficas (contando o que se fez para a televisão) sendo a mais conhecida a que foi realizada em 1935 com direção de Clarence Brown e interpretação de Greta Garbo. A versão de agora mescla cinema e teatro de forma inventiva, com a atitude servindo a um ritmo alucinante. É assim que o primeiro plano é um palco onde a cortina se abre e a câmera penetra como se fosse um espectador a invadir a cena. Esse movimento de câmera não é exclusivo da abertura. Grande mobilidade cerca o “décor” realçando uma direção de arte aprimorada de Thomas Brown, Nick Gottschalk, Tom Still e Niall Moroney, por sua vez responsável pela evidencia do guarda-roupa premiado de Jaqueline Durran.
A impressão do luxo ambiente retira um pouco da textura melodramática que cercou as outras versões do livro. E com isso aproxima mais “Ana Karenina” do objetivo de Tolstoy, no caso, uma visão critica da Russia imperial. Tanto assim que a sequencia de lagrimas que cercava a despedida da mãe com o filho, colocada em evidencia não só na obra de Clarence Brown como na de Julien Duviver ,em 1948, com Vivien Leigh, passa ao largo de um fecho que deixa a estação ferroviária do epilogo (a titulo de exemplo) para uma volta ao palco, como se o que foi apresentado fosse uma peça de caráter dinâmico e que por sua estrutura dramática caberia muito bem no ambiente do palco. É um raro exemplo de como as artes teatral e cinematográfica podem se unir sem perder suas características ( e sem diminuí-las, ao contrário, estimulando-as).
Há também que ser evidenciada a direção de atores – uma multidão de principais e extras circulando no set – uma dificil empreitada que tem no filme um exemplar significativo de trabalho conjunto com os técnicos da segunda unidade.
Outra nota é quanto ao desempenho nos protagonismos de figuras clássicas do romance de Tolstoi, assumido pelos atores principais, todos do cinema inglês e adjacências. Mas o conjunto tem força inegável na representação integrada.
Um belo espetáculo. Quem já assistiu ao filme em telinha (DVD) deve experimentar em espaço maior. Para não perder.


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