"Fausto", de F.W.Murnau será exibido no Olympia com acompanhemento musical
Prossegue hoje (09/07) no Olympia (18h30) o
programa “Cinema e Música” revivendo os primeiros anos daquele cinema com a
projeção de filmes mudos e acompanhamento musical ao vivo pelo pianista paraense
Paulo José Campos de Mello. É uma iniciativa da FUMBEL e Fundação Carlos Gomes,
além do apoio da Associação de Críticos de Cinema do Pará (ACCPA).
O filme de hoje é o clássico
expressionista “Fausto”(Faust/Alemanha, 1925) de F. W. Murnau (1888-1931). O
último que o cineasta de “Nosferatu”(1922) e“A Última Gargalhada” (1924) fez em
sua terra natal antes de embarcar para os EUA, contratado pela Fox e ai criar
outra obra que se tornou clássica “Aurora”(Sunrise, 1927).
Murnau faleceu em 1931, num desastre
rodoviário. Além de “Aurora”, em seu novo espaço de trabalho fez quatro filmes:
“Os quatro demônios”(1928), “A garota da cidade”(1930) e “Tabu”(1931),
este de parceria com o documentarista Robert Flaherty. Além do expressionismo
alemão ele fez parte também do movimento
Kammerspiel.
Sobre “Fausto” é preciso evidenciar os nomes da literatura alemã que
subsidiaram as letras com essa figura. O Dr. Johann Wolgang von Goethe (1749-1832), escritor alemão e também
cientista, liderou a literatura romântica européia, no final do século XVIII e
inicio do XIX. Sua obra traduz-se entre romances, peças de teatro, poemas,
autobiografias, teoria da arte, literatura e ciências naturais. Muito se
escreveu sobre sua figura e sua produção literária, mas o que o imortalizou foi
o poema “Faust”. Essa obra partiu da lenda de Fausto que seria o Dr.
Johannes Georg Faust (1480-1540), misto de médico, alquimista e mágico,
inspirador de contos populares e da obra do escritor Christopher Marlowe em “A Trágica História do
Doutor Fausto”(1604). Nas histórias que circulavam dizia-se que esse personagem teria vendido a alma ao demônio
(Mefistofeles, que quer dizer “Sem Luz”). Isso era visto como parte de
possiveis blasfemias que irritaram os membros da igreja, na época, projetando
essa obra de Goethe como símbolo do mal.
A odisseia do Dr. Fausto deu margem a
diversos filmes nem sempre com base na obra de Goethe. Mas à época de Murnau, o
movimento expressionista tomava as artes de um modo geral e há quem o veja como
uma forma de retratar a Alemanha entre duas guerras, assolada pela
hiperinflação e diminuição de seu território repercutindo a dor de uma derrota
em campo de batalha.
No cinema, o expressionismo ganhou
seu primeiro grande exemplo em 1919 com “O Gabinete do Dr. Caligari”, de Robert
Wiene. Na década seguinte, o jovem Frederich Murnau foi buscar inspiração na
obra de Bram Stoker com “Nosferatu”(1921). Não usou o nome Dracula, pois não
pagou direitos autorais. O sucesso gerou a sua obra-prima na fase alemã, “Dert
Letze Mann” (A Última Gargalhada) onde, além da forma expressionista, usava
elementos do movimento que surgia e que se chamava “kammerspiel (cinema de
câmera). Não tinha diálogos (nos intertítulos). Só as imagens contavam o drama
de um porteiro de edifício que se julgava uma autoridade devido ao uniforme que
usava. “Fausto” seria uma consequência natural da trajetória do cineasta na
escola que aderiu. Emil Jannings, seu ator de “...Gargalhada” e um dos maiores
talentos do cinema alemão da fase silenciosa, protagonizou o médico desesperado
com as mortes causadas pela peste que aceitava negociar com o demônio para não
só curar os doentes como viver para sempre. O trato só vai despertar o
arrependimento do médico quando se apaixona por uma virgem, Gretchen, fato que
a interferência diabólica logo se faz sentir.
Jannings e a direção de arte a cargo
de Robert Herlth e Walter Roehrig criaram o clima de pesadelo do original.
Deve-se muito à fotografia de Carl Hoffman. A concepção musical que na estreia
estava a cargo de Wolfgang Dauer agora passa para a concepção do pianista
paraense. Com esta obra prima do cinema, o programa de filmes silenciosos ganha
mais um motivo inerente à qualidade de centenário de nossa casa de exibições
cinematográficas.
O programa “Cinema e Musica” recupera
as façanhas de uma “máquina do tempo”. Na primeira fase do Cine Olympia atraia
as mulheres com seus vestidos de tafetá changeant e enormes chapéus, e homens
de casaca e cartola. Uma cópia da assistência das óperas e comédias exibidas no
vizinho Theatro da Paz. Hoje, a
democracia das artes explora mais o olhar dos estudiosos e curiosos em assistir
as imagens desse tempo, o “point” de seus
ancestrais, nessa sala centenária.
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