terça-feira, 9 de julho de 2013

“FAUSTO” COM MUSICA AO VIVO

"Fausto", de F.W.Murnau será exibido no Olympia com acompanhemento musical

Prossegue hoje (09/07) no Olympia (18h30) o programa “Cinema e Música” revivendo os primeiros anos daquele cinema com a projeção de filmes mudos e acompanhamento musical ao vivo pelo pianista paraense Paulo José Campos de Mello. É uma iniciativa da FUMBEL e Fundação Carlos Gomes, além do apoio da Associação de Críticos de Cinema do Pará (ACCPA).
O filme de hoje é o clássico expressionista “Fausto”(Faust/Alemanha, 1925) de F. W. Murnau (1888-1931). O último que o cineasta de “Nosferatu”(1922) e“A Última Gargalhada” (1924) fez em sua terra natal antes de embarcar para os EUA, contratado pela Fox e ai criar outra obra que se tornou clássica “Aurora”(Sunrise, 1927).
Murnau faleceu em 1931, num desastre rodoviário. Além de “Aurora”, em seu novo espaço de trabalho fez quatro filmes: “Os quatro demônios”(1928),A garota da cidade”(1930) e “Tabu”(1931), este de parceria com o documentarista Robert Flaherty. Além do expressionismo alemão ele fez parte também do movimento Kammerspiel.
Sobre “Fausto” é preciso evidenciar os nomes da literatura alemã que subsidiaram as letras com essa figura. O Dr. Johann Wolgang von Goethe (1749-1832), escritor alemão e também cientista, liderou a literatura romântica européia, no final do século XVIII e inicio do XIX. Sua obra traduz-se entre romances, peças de teatro, poemas, autobiografias, teoria da arte, literatura e ciências naturais. Muito se escreveu sobre sua figura e sua produção literária, mas o que o imortalizou foi o poema “Faust”. Essa obra partiu da lenda de Fausto que seria o Dr. Johannes Georg Faust (1480-1540), misto de médico, alquimista e mágico, inspirador de contos populares e da obra do escritor Christopher Marlowe em “A Trágica História do Doutor Fausto”(1604). Nas histórias que circulavam dizia-se que esse personagem teria vendido a alma ao demônio (Mefistofeles, que quer dizer “Sem Luz”). Isso era visto como parte de possiveis blasfemias que irritaram os membros da igreja, na época, projetando essa obra de Goethe como símbolo do mal.
A odisseia do Dr. Fausto deu margem a diversos filmes nem sempre com base na obra de Goethe. Mas à época de Murnau, o movimento expressionista tomava as artes de um modo geral e há quem o veja como uma forma de retratar a Alemanha entre duas guerras, assolada pela hiperinflação e diminuição de seu território repercutindo a dor de uma derrota em campo de batalha.
No cinema, o expressionismo ganhou seu primeiro grande exemplo em 1919 com “O Gabinete do Dr. Caligari”, de Robert Wiene. Na década seguinte, o jovem Frederich Murnau foi buscar inspiração na obra de Bram Stoker com “Nosferatu”(1921). Não usou o nome Dracula, pois não pagou direitos autorais. O sucesso gerou a sua obra-prima na fase alemã, “Dert Letze Mann” (A Última Gargalhada) onde, além da forma expressionista, usava elementos do movimento que surgia e que se chamava “kammerspiel (cinema de câmera). Não tinha diálogos (nos intertítulos). Só as imagens contavam o drama de um porteiro de edifício que se julgava uma autoridade devido ao uniforme que usava. “Fausto” seria uma consequência natural da trajetória do cineasta na escola que aderiu. Emil Jannings, seu ator de “...Gargalhada” e um dos maiores talentos do cinema alemão da fase silenciosa, protagonizou o médico desesperado com as mortes causadas pela peste que aceitava negociar com o demônio para não só curar os doentes como viver para sempre. O trato só vai despertar o arrependimento do médico quando se apaixona por uma virgem, Gretchen, fato que a interferência diabólica logo se faz sentir.
Jannings e a direção de arte a cargo de Robert Herlth e Walter Roehrig criaram o clima de pesadelo do original. Deve-se muito à fotografia de Carl Hoffman. A concepção musical que na estreia estava a cargo de Wolfgang Dauer agora passa para a concepção do pianista paraense. Com esta obra prima do cinema, o programa de filmes silenciosos ganha mais um motivo inerente à qualidade de centenário de nossa casa de exibições cinematográficas.

O programa “Cinema e Musica” recupera as façanhas de uma “máquina do tempo”. Na primeira fase do Cine Olympia atraia as mulheres com seus vestidos de tafetá changeant e enormes chapéus, e homens de casaca e cartola. Uma cópia da assistência das óperas e comédias exibidas no vizinho Theatro da Paz. Hoje, a democracia das artes explora mais o olhar dos estudiosos e curiosos em assistir as imagens desse tempo, o “point” de seus  ancestrais, nessa sala centenária. 

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