O muro e os "mortos-vivos": uma versão a pensar. A metáfora.
Vários
filmes trataram de pandemias que dizimam multidões e levam cientistas a lutar
para conseguir o controle do mal. À lembrança vem logo “Contagio” (Contagion, 2011),
dirigido por Steven Soberbergh de um roteiro de Scott Z. Burns. Tratava da
proliferação de um vírus a rivalizar com a realidade do Ébola e febre aviária,
sem falar na Gripe Espanhola e, muito distante no tempo, da Peste Negra que dizimou
populações na Idade Média. O tema, sempre atual, pode caber neste novo filme do
diretor Marc Forest “Guerra Mundial Z” (World War Z, 2013) produzido e
interpretado por Brad Pitt. Aqui não se diz bem da causa, mas o efeito é a
proliferação de “mortos vivos”, infectados pelos micro-organismos que circulam
pelas ruas e devoram as pessoas quando não, simplesmente, as ferem
contaminado-as.
O roteiro
que deriva de um livro de Max Brooks, filho do diretor Mel Brooks (“O Jovem
Frankenstein”) com a atriz Anne Bancroft (“O Milagre de Anne Sulivann, 1962; “Nunca
Te Vi, Sempre Te Amei”, 1986) deixa margem a mais de uma leitura. Assim como é
possivel apontar para o argumento de uma luta médica contra uma forma de doença
contagiosa há espaço para que sejam denunciados os males ecológicos (tratam
muito da poluição ambiente) e de uma metáfora malsã da luta entre israelitas e
palestinos, focando um recorte da ação em Jerusalém, onde os segundos são
zumbis que atacam os primeiros, inclusive, nas imagens mostrando a subida de um
alto muro edificado pelos judeus como forma de proteção. No caso, os “doentes”
seriam resultado de ação internacional, ou o veiculo que fez dessas pessoas,
títeres de uma forma de eliminação de uma etnia como pensaram os nazistas.
Com esse
leque de interpretações o mais prudente (pela natureza narrativa) é ver o filme
como um blockbuster e nessa qualidade ele foi até mesmo vencedor de um premio
da indústria (“o blockbuster de verão”). Brad Pitt, dono da produtora Plano B,
afirmou que fez o filme “para as suas crianças” (ele cria algumas ao lado da esposa
Angelina Jolie). Custa-me crer que Jolie, especialmente, tenha preconceito
étnico. Como uma superprodução de aventuras, com um astro da tela transformado
em super-herói que na qualidade de ex-agente da ONU vai atuar nas areas de
conflito, o trabalho possui uma produção e edição bem esmeradas e efeitos
especiais que impressionam (cf. a sequencia dos zumbis subindo uma ladeira,
vistos como formigas em superfície doce).
Sendo um
mero espetáculo, “Guerra Mundial Z” esmera-se em cópias de 3D e 2D com uma
equipe técnica que passa muito tempo desfilando nos créditos finais. Com esse
objetivo imediatista o filme transforma-se simplesmente na historia do mocinho
americano audaz que arrisca a vida pelo bem comunitário apesar de para isso
deixar seus familiares em outro país e sem ter a certeza de que estarão
seguros.
Há uma
sequencia em que o personagem de Brad Pitt, Gerry Lane (ex-investigador da ONU retornando ao trabalho), entra em um laboratório onde os
cientistas (cerca de 80) se tornaram mortos-vivos devido ao contágio com o
vírus. Seu objetivo é pegar uma droga para outras doenças letais já
identificadas com as mesmas servindo para contaminar os sãos. A corrida dele
pelos corredores do prédio e a chegada ao espaço onde estão os tubos de ensaio
são típicas de filmes de ação. Mas nesse caso sabe-se que os zumbis não atacam
quem está doente e a meta é o personagem se infectar com algum vírus ou
bactéria de fácil tratamento para fugir deles (e com isso dar margem a ideia de
que devem contaminar todas as pessoas para que resistam aos mortos). Gerry se
imuniza. Os mortos não o perseguem, deixando que ele caminhe entre eles. A
“moral da historia” ou reflexo desse comportamento centra-se no entendimento
médico de que os doentes não enfrentam seus iguais. A meta é salvar os sãos a
partir do subterfúgio de um contágio experimental e eliminar o desespero dos
mortos-vivos em fazer mais vítimas.
A
narrativa dá informes pontuais sobre o final do filme. Que não deixa de ser uma
aventura de suspense brincando com a morte e com a vida. Desta vez ao pé da
letra.
decepcionante até para um blockbuster
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