quarta-feira, 17 de julho de 2013

ILUSIONISTAS



"Truque de Mestre" , de Louis Leterrier.

Quatro ilusionistas conseguem polarizar a atenção de uma platéia ao tempo em que assaltam um banco em outro país. Ainda mais: distribuem parte do dinheiro com a plateia, provocando, explicitamente, uma chuva de cédulas. Nesse caso, cabe pensar no quanto é possível vender ilusões às pessoas. Pelo menos é isso o que disse o diretor Louis Leterrier (“Carga Explosiva 2”, “O Incrível Hulk”, ”Fúria de Titãs”), afirmando que foi o filme que lhe deu chance de atuar espontaneamente, ou seja, sem estar preso às regras dos grandes estúdios produtores.  
Esse filme de que trata Leterrier, “Truque de Mestre” (Now You See Me, EUA, 2013), parte de uma boa ideia. Não é simplesmente desmascarar “mágicos” como Uri Geller que ia para a televisão entortar talheres. Estes são amparados por uma suntuosa direção de arte e aplicam os truques, sua especialidade (escapismo, "ler" mentes etc.) que podem chegar ao sugestionamento coletivo, sem deixar brechas para críticas de cima da hora. Tanto que uma das partes do roteiro é saber como os artistas nos EUA conseguem que se faça um roubo na França ao mesmo tempo em que atuam num palco em Las Vegas.
O roteiro é curioso, mas tem furos, ou melhor, não satisfaz nas explicações de certos comportamentos, em especial, o de um agente de policia (Mark Ruffalo) que acompanha o caso dos roubos. E, diga-se de passagem, pouco ajuda a intervenção de um mágico veterano que se mostra solicito com as autoridades (Morgan Freeman).
Os quatro ilusionistas são interpretados por Jesse Eisenberg, Woody Harrelson, Isla Fisher e Dave Franco. São todos simpáticos bastante a se filiarem no grupo dos vilões heróicos. E a narrativa ajuda na composição de um cenário hipnótico, com uma intensa movimentação de câmera (poucas vezes fixa), uma direção de arte que inspira grandiosidade e uma iluminação digna de números circenses (gelo seco, fumaça). Leterrier consegue criar o clima para os seus personagens. Mas não interessa defini-los. São apresentados ao público cada um de per se, com suas virtudes e truques, daí despertarem a atenção do responsável pelo clima entre truques e roubos. Interessante que um membro do grupo ao sucumbir ao trabalho da policia não leva à lamúria os colegas como se poderia esperar (mas isso tem razão de ser). E afinal nada é dito sobre a mágica ligada ao furto e com que recursos esses ilusionistas atuam para produzir esse furto. O palco das aventuras dos quatro colegas é tão grandioso que seria licito pensá-los milionários excêntricos se divertindo em desafiar a lei e imitar Robin Hood.
Esse, aliás, é o dado que emerge ao público espectador. Contudo, nas entrelinhas, a narrativa vai expondo, sem que seja notado ostensivamente, quem é que está por trás da negociação inicial na reunião entre os quatro mágicos, quem financia, inicialmente, as investidas mágicas, e quem completa a sentença da pretensão final. Mas esse percurso escamoteado se torna eficaz devido integrar a justificativa das mágicas, embora, subjacente, esteja o real meio de realizar os roubos que ocorrem no momento da apresentação.
“Truque de Mestre” só consegue impressionar na temporada cinematográfica atual por ser “um estranho no ninho”. Claro que exibe o lado de espetáculo exigido a um blockbuster (e o diretor veio desse gênero de filme), mas o argumento não tem super-herói nem trata de ETs ou lendas. No máximo lança com bom humor a imagem de novos tipos lendários como o cinema mostrou um Arséne Lupin. Mesmo assim são personagens que em fuga lembram os “colegas” de quadrinhos ao saltar por edifícios em noite que só falta ter uma imagem de Batman nas nuvens.
O filme tem bom humor e consegue por isso mesmo divertir. À saída do cinema as pessoas vão perguntar pela racionalidade das situações expostas, como o cofre construído à semelhança de um verdadeiro, o modo simultaneo de crimes a distancia, fatos expostos nas imagens com poucas e nem sempre aceitáveis explicações. Mas o objetivo dos autores foi divertir. E conseguiram. Cinema é uma ilusão. Mesmo sem nada consistente. É o truque pelo truque.


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