"O Concurso": tempo perdido
A ideia que deu origem ao roteiro do
filme “O Concurso”(Brasil, 2013) não é ruim. Este roteiro foi escrito pelo
diretor Pedro Vasconcelos e por L.G. Tubaldini Jr. e, ainda, Leo Lewis. No
enredo, quatro rapazes de diferentes estados candidatam-se a uma vaga de juiz
federal, com o exame a ser efetuado no Rio de Janeiro. Há um carioca (Danton
Mello), um paulista (Rodrigo Pandolfo), um gaucho (Fabio Porchat), e um
cearense (Anderson di Rizzi) se esforçando para a classificação ao cargo. O
carioca é que parece ter mais chance de aprovação por ser advogado militante no
fórum do Rio, conhece pessoas, e sabe usar de lábia para obter favores que
impulsionem sua carreira. Mas há um tropeço e ele é obrigado a ajudar os
colegas. Pensam, entre outras estratégias, comprar os gabaritos da prova. E
onde encontrar esses gabaritos? Não é em alguma gráfica ou na casa de algum
professor, mas, por incrível que pareça numa favela onde um anão traficante não
só vende as questões ambicionadas como deixa que os candidatos entrem num
esquema de farra com direito a mulheres e drogas.
É notória a lembrança da série
norte-americana “Se Beber Não Case”(2009). Mas o exagero de passagens hilárias,
embora não exista nada de novo nisso, é fórmula de pornochanchada tradicional,
dessas que eram realizadas na época da ditadura para driblar censores e chamar
um publico que não se sentia à vontade com o cerebralismo do movimento “cinema novo”
dos anos 50-60.
Chega a ser curiosa esta marcha à ré da
cinematografia nacional em tempo de
governo democrático, onde é possível ir à rua, gritar contra o que acha que não
está correto (ou simplesmente fazer coro sem ter a noção do que venha a estimular
um movimento de reivindicações). O que acontece é simplesmente um processo
industrial & comercial resolvido às pressas. Hoje um filme nasce com os
custos já resolvidos. São muitos os subsídios de empresas que com isso
descontam no imposto de renda. Os produtores que não conseguem quitar uma
realização cinematográfica estão sujeitos ao prejuízo que a má distribuição e
exibição oferecem na eterna luta contra o produto estrangeiro. Por esse motivo,
fazem-se muitas comédias sabendo-se que é o que o público gosta, pois, não
perde o gênero na televisão.
“O Concurso” é o pior exemplo da nova
vertente de um tipo de filme “caça níquel”. Todos os personagens repousam em
estereótipos. O carioca, como maior exemplo, é visto por duas vezes numa praia,
olhando as garotas e tomando sorvete ou bebendo cerveja. O cearense tem a máscara
do ingênuo que se mete em trapalhadas. Enfim, cada tipo é moldado de forma e
gerar o riso antes mesmo que se meta em aventuras, por sinal, previsíveis.
Não creio que as pessoas com um mínimo
de bom gosto ou que estejam numa sala de cinema dispostas a se divertir
apreciem o que poderia se ver como uma paráfrase da matriz norte-americana
dizendo que não adianta beber nem casar para saber de um concurso antes de ele
ser realizado. E se os autores da historia não fossem tão preocupados com a
gaiatice dos seus personagens podiam adentrar pela critica sociopolítica
chegando à violação do conhecimento às questões da prova passando ao conhecimento
de candidatos de uma elite, ou pelos (des)caminhos de pessoas ilustres (há uma
caricatura delas no papel de Pedro Paulo Rangel) que favorecem seus
“afilhados”.
Para o bem do cinema nacional que ainda
contra essa maré de desacertos deixa bons exemplos como “Xingu” (2012), “Corações
Sujos”(2011), “À Beira do Caminho” (2012) o melhor é esquecer este “Concurso”.
Que classifica um besteirol de baixissima qualidade.
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