Anita Björk protagoniza "Senhorita Júlia"
O cinema sueco foi evidenciado pelo talento de Ingmar
Bergman (1918-2007) um dos meus diretores preferidos. Entretanto, não se deve
pensar que só ele fez bons filmes nos estúdios de Estocolmo. Por isso, o
programa iniciado no último dia 30/08,
no nosso centenário Olympia, deve mostrar o que era produzido e realizado na
Suécia antes ou em paralelo ao mestre de “Gritos e Sussurros”.
Os filmes exibidos na seguinte ordem:
1.
Sexta, 30/ 08: “Carruagem
Fantasma”(Körkalen, 1921) de Victor Sjöstrom
2.
Sabado/ 31, 08: “Tormento”(Hets, 1944) de Alf Sjöberg
3.
Domingo, 01/ 09: “Juventude”(Sommarlek,
1951) de Ingmar Bergman
4.
Dia 3/ 09: “Senhorita Julia”(Fröken Julie,
1959) de Alf Sjöberg
5.
Dia 4/ 09: “Sede de Paixoes” (Tõrst, 1949)
de Ingmar Bergman]
6.
Dia 5/ 09: “Minha Vida de Cachorro” (Mitt
Liv Som Hund, 1985) de Lasse Hallstöm.
“A Carruagem Fantasma” foi exibido em Belém, pela ultima vez,
em uma sessão do Cine Clube “Os Espectadores”, em 1955. Antes esteve no mesmo
cinema que está exibindo a mostra, da fase de “cena muda”, quando muitos filmes
europeus ganhavam cartaz com a orquestra acompanhando as imagens debaixo da
tela. O enredo trata de uma lenda em que uma pessoa dirige a carroça da morte recolhendo
as almas recém-desencarnadas até que alguém falecido à meia-noite de um 31 de
dezembro venha substituí-la. Na historia do filme focaliza-se um homem violento
que ao ver a desgraça de sua família e saber de sua próxima morte pede para
interferir nesse destino trágico mesmo que venha a ser condutor da carroça por
algum tempo.
“Tormento” ganhou no Brasil o nome de “Tortura do Desejo”.
Foi o primeiro roteiro que Bergman escreveu. Na época, ele era um novato integrado
ao jornalismo e desejava fazer teatro e cinema. Escreveu para Sjöberg dirigir,
este já considerado um ícone da indústria cinematográfica sueca. Trata de um
estudante que sofre violência de um professor e se apaixona por uma jovem a
quem este professor torturava. O relacionamento é interrompido quando a moça
morre durante um assédio do mestre despótico. O rapaz, imputado como o
assassino, perde o lugar na escola quando já estava para se formar. Com isso,
ganha desprezo do pai e sai de casa. Mas o velho professor acaba por se
arrepender do que fez. Um quase melodrama que atrai o espectador ainda hoje
posto que a linguagem é primorosa.
“Juventude” é outro filme de Bergman em seus primeiros anos
como cineasta. Enfoca o romance de verão de uma jovem, sentimento que sofre
impactos de uma série de acontecimentos se extinguindo aos poucos. Anos depois
ela recebe uma carta deste antigo amor. O filme ganhou elogios da critica
internacional que o considerou como “o primeiro grande trabalho de Bergman”. Mesmo
com 62 anos de produção esse filme emociona.
“Senhorita Julia” foi baseado em uma peça teatral de August
Strindberg, tomada , na ocasião, como preconceituosa em relação a representação
feminina que enfoca. A personagem-título é de família rica e numa noite em que é
festejado o solstício (época do ano em que o Sol incide com grande intensidade
em um dos dois hemisférios) tem romance com um plebeu em meio à dança que se
efetua no campo. O filme dividiu o a Palma de Ouro do Festival de Cannes em
1951 com “Milagre em Milão”. A narrativa de Sjöberg utiliza recursos que
elimina a impressão da origem teatral. Há impressionantes enquadramentos que
lembram o trabalho de direção de Dreyer, em “Jeanne D’Arc”.
“Sede de Paixões” é pouco conhecido dentre os trabalhos de
Bergman. Trata de uma viuva que resiste ao assédio de um psiquiatra e de uma
amiga próxima. Evidencia ainada um casal em crise de matrimonio que viaja de
Estocolmo para Roma. Ingmar Bergman ensina como tratar de um potencial
melodramático com densidade fugindo à pieguice.
“Minha vida de Cachorro” focaliza um garoto que ao conhecer
a situação de morte da cadela Laika no satélite russo, se sensibiliza com o
fato. Foi o filme que revelou o diretor Lasse Hallstrom, hoje trabalhando em
Hollywood.
Essa mostra evidencia um tipo de cinema de uma das escolas
mais importantes da produção mundial de filmes. O cinéfilo aprenderá que não só
de filmes norte-americanos vive a cinematografia. Diferentes tons da narrativa
encorajam a descobertas de saberes sobre cinema. Imperdível.
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