segunda-feira, 2 de setembro de 2013

MOSTRA DE CINEMA SUECO


Anita Björk protagoniza "Senhorita Júlia" 

O cinema sueco foi evidenciado pelo talento de Ingmar Bergman (1918-2007) um dos meus diretores preferidos. Entretanto, não se deve pensar que só ele fez bons filmes nos estúdios de Estocolmo. Por isso, o programa iniciado  no último dia 30/08, no nosso centenário Olympia, deve mostrar o que era produzido e realizado na Suécia antes ou em paralelo ao mestre de “Gritos e Sussurros”.
Os filmes exibidos na seguinte ordem:
1.   Sexta, 30/ 08: “Carruagem Fantasma”(Körkalen, 1921) de Victor Sjöstrom
2.   Sabado/ 31, 08: “Tormento”(Hets,  1944) de Alf Sjöberg
3.   Domingo, 01/ 09: “Juventude”(Sommarlek, 1951) de Ingmar Bergman
4.   Dia 3/ 09: “Senhorita Julia”(Fröken Julie, 1959) de Alf Sjöberg
5.   Dia 4/ 09: “Sede de Paixoes” (Tõrst, 1949) de Ingmar Bergman]
6.   Dia 5/ 09: “Minha Vida de Cachorro” (Mitt Liv Som Hund, 1985) de Lasse Hallstöm.
“A Carruagem Fantasma” foi exibido em Belém, pela ultima vez, em uma sessão do Cine Clube “Os Espectadores”, em 1955. Antes esteve no mesmo cinema que está exibindo a mostra, da fase de “cena muda”, quando muitos filmes europeus ganhavam cartaz com a orquestra acompanhando as imagens debaixo da tela. O enredo trata de uma lenda em que uma pessoa dirige a carroça da morte recolhendo as almas recém-desencarnadas até que alguém falecido à meia-noite de um 31 de dezembro venha substituí-la. Na historia do filme focaliza-se um homem violento que ao ver a desgraça de sua família e saber de sua próxima morte pede para interferir nesse destino trágico mesmo que venha a ser condutor da carroça por algum tempo.
“Tormento” ganhou no Brasil o nome de “Tortura do Desejo”. Foi o primeiro roteiro que Bergman escreveu. Na época, ele era um novato integrado ao jornalismo e desejava fazer teatro e cinema. Escreveu para Sjöberg dirigir, este já considerado um ícone da indústria cinematográfica sueca. Trata de um estudante que sofre violência de um professor e se apaixona por uma jovem a quem este professor torturava. O relacionamento é interrompido quando a moça morre durante um assédio do mestre despótico. O rapaz, imputado como o assassino, perde o lugar na escola quando já estava para se formar. Com isso, ganha desprezo do pai e sai de casa. Mas o velho professor acaba por se arrepender do que fez. Um quase melodrama que atrai o espectador ainda hoje posto que a linguagem é primorosa.
“Juventude” é outro filme de Bergman em seus primeiros anos como cineasta. Enfoca o romance de verão de uma jovem, sentimento que sofre impactos de uma série de acontecimentos se extinguindo aos poucos. Anos depois ela recebe uma carta deste antigo amor. O filme ganhou elogios da critica internacional que o considerou como “o primeiro grande trabalho de Bergman”. Mesmo com 62 anos de produção esse filme emociona.
“Senhorita Julia” foi baseado em uma peça teatral de August Strindberg, tomada , na ocasião, como preconceituosa em relação a representação feminina que enfoca. A personagem-título é de família rica e numa noite em que é festejado o solstício (época do ano em que o Sol incide com grande intensidade em um dos dois hemisférios) tem romance com um plebeu em meio à dança que se efetua no campo. O filme dividiu o a Palma de Ouro do Festival de Cannes em 1951 com “Milagre em Milão”. A narrativa de Sjöberg utiliza recursos que elimina a impressão da origem teatral. Há impressionantes enquadramentos que lembram o trabalho de direção de Dreyer, em “Jeanne D’Arc”.
“Sede de Paixões” é pouco conhecido dentre os trabalhos de Bergman. Trata de uma viuva que resiste ao assédio de um psiquiatra e de uma amiga próxima. Evidencia ainada um casal em crise de matrimonio que viaja de Estocolmo para Roma. Ingmar Bergman ensina como tratar de um potencial melodramático com densidade fugindo à pieguice.
“Minha vida de Cachorro” focaliza um garoto que ao conhecer a situação de morte da cadela Laika no satélite russo, se sensibiliza com o fato. Foi o filme que revelou o diretor Lasse Hallstrom, hoje trabalhando em Hollywood.
Essa mostra evidencia um tipo de cinema de uma das escolas mais importantes da produção mundial de filmes. O cinéfilo aprenderá que não só de filmes norte-americanos vive a cinematografia. Diferentes tons da narrativa encorajam a descobertas de saberes sobre cinema. Imperdível.


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