Lillian Gish em "O Vento e a Areia". Hoje, 10/09, no Olympia.
Considerado um dos últimos clássicos do cinema mudo - o
outro seria “Aurora” de Murnau realizado um ano antes, 1927 – “O Vento e a
Areia”(The Wind, EUA, 1928) será exibido logo mais no programa “Cinema e
Música” do Cine Olympia. A produção desse filme partiu da iniciativa de Lillian
Gish (a atriz preferida do pioneiro David W. Griffith), que teve a ideia de
adaptar o livro de Emily Dorothy Scarborough escrito em 1925 e publicado
anonimamente. A pedido da atriz veio a autorização para Irving Thalberg, um dos
diretores de produção da Metro Goldwing Mayer, onde se incluía a escalação do
diretor Victor Sjöstrom e do ator Lars
Hanson, pois ela já havia trabalhado com ambos em “A Letra Escarlate” (The
Scarlet Letter) dois anos antes (1926).
O argumento pode ser resumido pela força de vontade de
Letty (a personagem de Lillian) ,que se muda do leste para o oeste
norte-americano, tentando viver no interior do Texas com um primo. O problema é
que a esposa deste, Cora (Dorothy Cummings) passa a ter ciúmes da recém-chegada
e força não só a sua despedida como o seu casamento com o fazendeiro Lige (Lars
Hanson). O lugar é permanentemente sacudido pelo vento que eleva a areia para
dentro das casas. Nesse cenário nada agradável e numa relação imposta, Letty vê
piorar a situação quando chega o homem que havia conhecido no trem, ao viajar
para a “terra do vento”, e que intenciona forçar seu afeto. Numa luta, a jovem,
que havia se separado do marido, empurra e mata o intruso. E logo percebe que o
vento e a areia cobrem o corpo. A chegada de Lige leva-a a revisar seus
sentimentos e aceitar viver com o marido.
O vento é uma metáfora muito clara. A mudança de cenário
especifica o que acontece com a principal personagem e, pontuando melhor a
influencia do vento em sua vida há a lembrança que ela tem de uma lenda
regional em que o vento seria comandado por um cavalo branco, encantado, que
surgia em determinados momentos marcando a natureza.
O final do filme pode parecer convencional aos olhos de
hoje. Mas a narração de Victor Sjöstrom avança e sai da métrica do cinema mudo
em muitos momentos, deixando apenas algumas partes em que Lillian relembra a
sua postura nas antigas produções em que atuou (especalmente com seu mentor
David Wark Griffith) onde a gesticulação teatral era o recurso para o
entendimento do enredo com um mínimo de legendas.
Victor Sjöstrom dirigiu mais dois filmes nos EUA - “The
Mask of the Devil”(1928) e “A Lady to
Love”(1930) – e depois retornou à sua terra natal, a Suécia. Foi ele quem
interpretou o velho médico de “Morangos Silvestres” de Ingmar Bergman, em 1957,
tendo sido essa a sua despedida do cinema (faleceu aos 80 anos, em 1960, em
Estocolmo).
Interessante observar que “O Vento e a Areia” não foi
sucesso nem de critica ou de publico em sua estreia. Só em 1993 ganhou um
premio, mas este dedicado à restauração do original. O tempo é que promoveu o
trabalho, hoje considerado um clássico da época do cinema mudo. Este exemplar
teria sido o último grande filme mudo da M.G.M. Em sua fase de edição as
experiências com o som já se faziam sentir e isso contribuiu, certamente, para
a fuga de plateia.
Na sessão em que o filme será visto (ou revisto) hoje, no Cine
Olympia, haverá o acompanhamento ao piano do virtuose paraense Paulo José
Campos de Mello. Esse tipo de programa, que está sendo realizado mensalmente
pela ACCPA e FUNBEL tende a recuperar a memória dos primeiros anos dessa casa
centenária. Diga-se também que foi no próprio Cine Olympia o lançamento e
exibição de “O Vento e a Areia”.
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