terça-feira, 10 de setembro de 2013

O VENTO E A AREIA

Lillian Gish em "O Vento e a Areia". Hoje, 10/09, no Olympia.
Considerado um dos últimos clássicos do cinema mudo - o outro seria “Aurora” de Murnau realizado um ano antes, 1927 – “O Vento e a Areia”(The Wind, EUA, 1928) será exibido logo mais no programa “Cinema e Música” do Cine Olympia. A produção desse filme partiu da iniciativa de Lillian Gish (a atriz preferida do pioneiro David W. Griffith), que teve a ideia de adaptar o livro de Emily Dorothy Scarborough escrito em 1925 e publicado anonimamente. A pedido da atriz veio a autorização para Irving Thalberg, um dos diretores de produção da Metro Goldwing Mayer, onde se incluía a escalação do diretor Victor Sjöstrom e do ator Lars Hanson, pois ela já havia trabalhado com ambos em “A Letra Escarlate” (The Scarlet Letter) dois anos antes (1926).
O argumento pode ser resumido pela força de vontade de Letty (a personagem de Lillian) ,que se muda do leste para o oeste norte-americano, tentando viver no interior do Texas com um primo. O problema é que a esposa deste, Cora (Dorothy Cummings) passa a ter ciúmes da recém-chegada e força não só a sua despedida como o seu casamento com o fazendeiro Lige (Lars Hanson). O lugar é permanentemente sacudido pelo vento que eleva a areia para dentro das casas. Nesse cenário nada agradável e numa relação imposta, Letty vê piorar a situação quando chega o homem que havia conhecido no trem, ao viajar para a “terra do vento”, e que intenciona forçar seu afeto. Numa luta, a jovem, que havia se separado do marido, empurra e mata o intruso. E logo percebe que o vento e a areia cobrem o corpo. A chegada de Lige leva-a a revisar seus sentimentos e aceitar viver com o marido.
O vento é uma metáfora muito clara. A mudança de cenário especifica o que acontece com a principal personagem e, pontuando melhor a influencia do vento em sua vida há a lembrança que ela tem de uma lenda regional em que o vento seria comandado por um cavalo branco, encantado, que surgia em determinados momentos marcando a natureza.
O final do filme pode parecer convencional aos olhos de hoje. Mas a narração de Victor Sjöstrom avança e sai da métrica do cinema mudo em muitos momentos, deixando apenas algumas partes em que Lillian relembra a sua postura nas antigas produções em que atuou (especalmente com seu mentor David Wark Griffith) onde a gesticulação teatral era o recurso para o entendimento do enredo com um mínimo de legendas.
Victor Sjöstrom dirigiu mais dois filmes nos EUA - “The Mask of the Devil”(1928)  e “A Lady to Love”(1930) – e depois retornou à sua terra natal, a Suécia. Foi ele quem interpretou o velho médico de “Morangos Silvestres” de Ingmar Bergman, em 1957, tendo sido essa a sua despedida do cinema (faleceu aos 80 anos, em 1960, em Estocolmo).
Interessante observar que “O Vento e a Areia” não foi sucesso nem de critica ou de publico em sua estreia. Só em 1993 ganhou um premio, mas este dedicado à restauração do original. O tempo é que promoveu o trabalho, hoje considerado um clássico da época do cinema mudo. Este exemplar teria sido o último grande filme mudo da M.G.M. Em sua fase de edição as experiências com o som já se faziam sentir e isso contribuiu, certamente, para a fuga de plateia.
Na sessão em que o filme será visto (ou revisto) hoje, no Cine Olympia, haverá o acompanhamento ao piano do virtuose paraense Paulo José Campos de Mello. Esse tipo de programa, que está sendo realizado mensalmente pela ACCPA e FUNBEL tende a recuperar a memória dos primeiros anos dessa casa centenária. Diga-se também que foi no próprio Cine Olympia o lançamento e exibição de “O Vento e a Areia”.


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