terça-feira, 1 de outubro de 2013

ARMADAS E IRREVERENTES



Sandra Bullock e Melissa McCarthy em "As Bem Armadas"
Na linguagem brasileira de divulgação de filmes o termo “heat” pronunciado “hit” quer dizer emocionante/ excitante quando se evidenciava “tal filme é um hit”. O titulo do novo trabalho do diretor Paul Feig – The Heat (EUA, 2013) - foi mudado no Brasil para “As Bem Armadas”, sugerindo o comportamento de duas policiais, Sarah (Sandra Bullock) e Shannon (Melissa McCarthy). A primeira é lotada na CIA de Nova York, tendo grande talento em perseguir/capturar vilões, mas quando realiza uma caçada bem sucedida se investe de superioridade dai não ser bem vista pelos colegas. Para adequar a corporação seu superior a envia para Boston com o objetivo de descobrir o paradeiro de um grande traficante. Shannon, da polícia de Boston, é mal vista também pela forma de tratar tantos os colegas como os marginais, além dos impropérios verbalizados em palavras chulas.
A base do roteiro de Katie Dippold é o confronto de temperamentos antagônicos entre a certinha e elegante Sarah e a desbocada, briguenta e mal vestida Shannon. O meio de a comédia ser criada neste caso repousa, justamente, nas personagens. Sandra Bullock, que tem passagem por filmes dramáticos, compõe satisfatoriamente a funcionária exemplar que usa de ironia contra seus auxiliares homens, nas suas descobertas de criminosos. Melissa usa mais o físico como elemento cômico. Gordinha e capaz de expressões sisudas se apresenta, logo no início, brigando com a colega. E neste começo está uma sequencia hilária que traduz a fórmula física. É quando Shannon disputa uma vaga no estacionamento da delegacia e tem de sair pela janela de seu carro. Espremendo-se para passar por um espaço exíguo vai amaldiçoando a dona do veiculo que fez “espremer” o seu espaço.
O filme é divertido, mas poderia ser menor. Com duas horas de projeção esgota o poder de fazer rir pela intoxicação de situações. São muitos os caminhos que levam aos chefes da gangue distribuidora de drogas e o espectador fica tentando adivinhar quem é o chefe dos bandidos já que muitas personagens surgem no caminho das investigadoras mesmo na área em que elas trabalham.
Por certo que a dupla vai voltar em outro titulo e provavelmente com o mesmo diretor (por sinal a produção já começou). Ele dirigiu Melissa em “Missão Madrinha de Casamento” (Bridesmaids, 2010). E sabe que a atriz de 42 anos vem se firmando no tipo e esteve levando muita gente ao cinema como no recente “Uma Ladra em limites” (Identity Thief, 2010) onde se apoiava na trama ao clonar o cartão de crédito de um empresário interpretado por Jason Bateman. O que não se sabe é até quando ela vai usar só esse tipo de papel ou quando vai deixar que o seu aspecto físico seja alvo de situações cômicas.
Aventuras policiais em tom de comédia é um subgênero muito popular no cinema desde a fase silenciosa. Ultimamente o enfoque com base no submundo dos toxicômanos é parte de uma fórmula. A derivação pousa no terrorismo. E saturados de usar personagens masculinos, os produtores apelam para os femininos. Hoje se vê, por exemplo, a policial derrubar um vilão com gestos de caratê ou mesmo socos dignos de mocinhos de faroeste. A novidade na dupla que se vê neste “The Heat” é mesmo o corpo de Shannon (Melissa). Vai por águas abaixo o preconceito para com as garotas e as gordinhas. O tipo que se vê na atual comédia é pródigo no uso de palavrões (a tradução nem sempre coloca todos que ela pronuncia) e não atura desaforo, seja de bandido seja de colega. A estratégia do uso do corpo equivale a alguns revolveres que deixaram de ser detonados. A irreverência na linguagem gestual e acrobática circula como meio de defesa e se torna uma arma mortal quando a situação se justifique para o uso da força física. Isso tudo bem administrado por “mãos femininas”, diga-se. Outra arma é a da intuição, atitude que as assessora quando o meio de campo policial está se tornando um espaço de traidores.
“As Bem Armadas” é filme típico da nova Hollywood onde a hilaridade está no que antes a censura cortava. Nada de obra-prima, mas um programa realmente divertido.


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