Tom Hanks em "Capitão Phillips".
De um roteiro
escrito por Billy Ray baseado no livro, "A Captain's Duty: Somali
Pirates, Navy SEALs, and Dangerous Days at Sea”, de Richard Phillips e
Stephan Talty, o director Paul Greengrass realizou “Capitão Phillips”(Capitain Phillips, EUA, 2013). O filme foi
lançado no Festival de Cinema de Nova York este ano. Um dos autores é o proprio
personagem que em 8 de abril de 2009, comandando um navio carregado de contêineres, o Maersk Alabama, foi assaltado por piratas somalis e posto refém quando estes
procuraram sair do navio com segurança exigindo dinheiro de resgate.
O comandante Phillips
sentiu a morte de perto. E o roteiro do filme espelhou isso, mas naturalmente,
precisava de apoio técnico para dar ao público a emoção da historia que o livro
relatou em minucias. Para isso a Sony (companhia produtora) contratou o diretor
inglês Paul Greengrass, conhecido pelo ritmo dado a filmes como “Supremacia
Bourne”(2004), “Ultimato Burne”(2007) e, especialmente, “Vôo United 93”(2006)
este com base no trajeto do terceiro avião sequestrado em 11/09/2001 e
derrubado por ação dos próprios passageiros.
Na competência que
já marcou outros textos, o diretor Grass imprimiu o seu estilo em duas horas e
meia de projeção a ponto de o espectador manter-se concentrado durante esse
tempo. E o filme tem várias vantagens na área do “thirller”: não evoca um
sentido patriótico fatalmente xenófobo, não coloca o personagem como herói de
quadrinhos lutando com os adversários, nem endeusa os marinheiros norte-americanos
seja pela presteza de atendimento ao sequestro (o público se inquieta com o
retardo desse atendimento), seja pelo papel diante dos piratas, sem a pintura
simplória de bandidos sanguinários, embora esta marca se revele desde o começo
quando os jovens somalis são atraídos pelos chefes em sua cidade.
Se o filme não
procura se tornar panfletário, fica estabelecido, entretanto, um parâmetro
entre a dimensão do império capitalista norte-americano onde a correção e a
normatização de tudo é avaliada pelo Capitão Phillips (cf desde a despedida da
esposa, a conversa com ela sobre os filhos e a sua chegada e inspeção ao navio)
e o recrutamento dos jovens somalis para “ir em busca de dinheiro no mar”, por
chefes armados do submundo do país, mostrando a miséria em que vivem, a
estrutura física de cada um, o sentimento de presteza ao serviço. Creio que é
essa contrariedade que não deixa o filme cair na lógica da propaganda xenófoba
sempre ou quase sempre presente em filmes norte-americanos dessa natureza,
mesmo com base no fato real.
O filme ganhou
muito com os interpretes. Tom Hanks está em seus melhores dias e possivelmente
um candidato e, quem sabe, vencedor de Oscar, a sua terceira estatueta. Mas
expressivos são os somalianos Barkhad Abdi (como Abduwali Muse, o lider do
grupo) ,Barkhad Abdirahman (Bilai), Faysal Ahmed (Nakeel) e Mahat Ali (Elmi).
Esses jovens são atores amadores e foram contratados mediante seleção prévia na
própria Somalia. Suas máscaras impressionam. Um close de Barkhad Abdi suado,
confrontando Hanks, não só compara a desproporção física entre os dois, mas
define um tipo de tortura empregada contra Phillips.
Os detalhes da
vida das personagens, como referi acima, tem a ver com a desproporção entre os
dois “times em campo”. Da assepsia familiar do Capitão Phillips cujo diálogo
com a esposa reflete desânimo na educação de um dos filhos à varredura na área
Somália onde garotos esperam algo olhando o mar, comendo capim, miseráveis, à
espera de um “trabalho” que vem logo em seguida ao grito de outro capitão, armado,
seguro do que quer: dinheiro. Tudo o que é focalizado prende-se à viagem pelo
mar africano e o ataque em alto mar. Sabe-se também que os marinheiros, como o
comandante, não portam armas. Ficam a mercê dos atacantes que falam
arrastamente o inglês.
A limitação do campo
de ação lembra o que Cuaròn aplicou em “Gravidade”. Nada além do que se
encontra numa situação desesperadora. E Greengrass pinta de forma exemplar esta
situação usando com propriedade a câmera manual e os closes. Além da fina
crítica ao mundo capitalista. Um filme que prende a atenção e ganha elogios
espontâneos. Imperdível.
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