Greta Grewig é Frances Halladay. Sempre correndo.
Em “Lola, Corra, Lola”
(1998), o diretor alemão Tom Tyker explora uma situação e a resolução desta –
Lola deveria correr para conseguir juntar em 20 minutos, certa quantia em
dinheiro a fim de salvar a vida de seu namorado. A
narrativa utiliza desenho animado para ilustrar a corrida da jovem em alcançar
seu objetivo. A função imediata do tipo era esse e salvando isso, a
pressa toda teria fim.
Há outro filme,
“Simplesmente Feliz” (2008), do inglês Mike Leigh, que trata de uma jovem
professora primária, Poppy (Sally Hawkins)
cujo toque viisual e caracteristicas pessoais convergem para o transitório e o
lado positivo. Em vários momentos ela é vista como irresponsável tratando
situações sérias na brincadeira.
Ao assistir “Frances Ha”
(EUA, 2012) lembrei dos dois filmes, mas identifiquei mais em “Lola...”. Embora
os nós narrativos e a argumentação diferissem, há contudo, muito que ver como
liames entre os dois tipos. Veja-se que Frances Halladay (Greta Grewig) é uma
jovem residente em Nova York que sonha com uma vida independente como
bailarina. Enquanto espera uma chance de integrar a equipe de balé onde está
agregada e aprendendo novas coreografias ela ensina dança para crianças e divide
um pequeno apartamento com a amiga de infância Sophie (Mickey Sumner). Quando a
amiga encontra um novo namorado e se muda, ela perambula por outros espaços,
chega a voltar à casa paterna, passa uns dias em Paris, mas prossegue sonhando
com o seu ideal mesmo que seja preciso trabalhar como garçonete para se manter
sem precisar de voltar de vez para a família. Mas é nessa circulação entre o
sonho de ser contratada para um trabalho estável e a de se manter numa parceria
permanente numa determinada moradia, de preferencia com a amiga de infânacia é
que reside a ansiedade da jovem, transposta para a maneira de ela ser vista com
aquele temperamento sempre a procura de algo, sempre angustiada por conseguir
manter a custa da amizade, a proximidade com a amiga de infância.
O titulo do filme deriva
da dificuldade de Frances colocar todo o seu nome na portaria de seu prédio.
Mas não é só isso: é o enquadramento de um temperamento imediatista que
pretende viver a vida que escolheu para si sem esmorecer, sem retroagir e sem
perder a esperança em buscar seus objetivos, sempre mantendo um temperamento
alegre e em grande movimento, em velocidade que angustia o próprio espectador.
Com uma narrativa simples,
criada por Noah Bumbach, diretor de “Lula e a Baleia”(2005) e “O Solteirão”(2010),
títulos que chegaram por aqui embora só em vídeo, “Frances Ha” expressa um
tempo de buscas de uma juventude que está às voltas com o provisório, mas
ligadissima em afetos duradouros. O filme foi mencionado entre os melhores do
ano pelo Casting Society of America e a atriz Greta Grewig ganhou elogios de
toda a critica norte-americana (e europeia) sendo comparada, no tipo que representa,
a uma figura criada por Woody Allen. Greta atuou em “Para Roma com Amor”(For Rome
with Love, 2012) interpretando a personagem Sally.
O que interessou ao
roteiro do diretor e da própria Greta foi a pintura da personagem principal, a
“maluquinha” norte-americana que vive correndo pelas ruas acreditando que o seu
ideal vai se concretizar contra todas as adversidades possíveis. E isso o filme
consegue mostrar bem, usando o preto e branco e uma movimentação de câmera,
seguindo-se a dinâmica de uma edição, e os desempenhos excelentes do elenco.
É interessante observar
que os pais de Frances são interpretados pelos pais de Greta na vida real, assim
como Mickey Sumner (que interpreta Sophie) é filha do cantor Sting, e que
Chalotte d’Amboise (que interpreta a chefe da companhia de dança) é uma famosa
dançarina da Broadway, filha de
Jacques d’Amboise, que foi astro do New York City Ballet e um dos intérpretes do
filme de Stanley Donen em Sete
Noivas para Sete Irmãos (1954). O diretor é sobrinho de
Barbara Turner e do falecido ator Vic Morrow. Esse elo familiar pode ser
observado na felicidade com que se mostra o cenário. A Nova York do filme
lembra um pouco a Manhattan de Woody Allen e a lembrança de Allen se faz sentir
em todo o conjunto. Certamente porque os autores são muito ligados, ou melhor,
sabem compreender a cidade. E ela serve muito bem à pintura do tipo principal,
não esquecendo a sua posição numa geração da virada do milênio, só deixando
pensar na facilidade com que a personagem se movimenta a ponto de viajar pela Europa
por poucos dias e voltar ao seu país sem ter muito dinheiro em caixa. Mas até
aí serve a “ginástica” de Frances, tentando realizar seu sonho com o pouco que
recebe de uma devolução de imposto.
Um filme atraente, e que nos
chega através de sala alternativa. Está em cartaz no Cine Libero Luxardo em
horário regular dessa sala.
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