Elmar Wepper em "Hanami, Cerejeiras em Flor"
A proximidade da morte de um ente
querido para uma das personagens revela-se nas cenas iniciais de “Hanami,
Cerejeiras em Flor”(Kirschblüten – Hanami, Almanha, 2009), filme da diretora
Doris Dörrie (em cartaz no cinema Olympia). Depois de apresentar gravuras
japonesas como “pista” de que a trama levará ao Japão, veem-se os exames feitos
em Rudi (Elmar Wepper) que indicam uma doença terminal ainda assintomática. Os
médicos informam à esposa Trudi (Hannelore Elsner) que o marido pode não estar
sentindo nenhum indicio do mal que o acomete, mas tem os dias contados.
Aconselha-a a priorizar um programa que há anos possam estar adiando realizar
para que alivie a percepção dramática que se aproxima.
Trudi é apaixonada pela cultura
japonesa e quer muito ir ao Japão, especialmente ver de perto o Monte Fuji. Mas
o marido, um funcionário público da coleta de lixo, casmurro, não se interessa
em sair da cidade. No final, aceita primeiramente ir à Berlim visitar um casal
de filhos, um deles já com familia, e a jovem em relacionamento com uma jovem. À
primeira vista sente-se uma recepção afetiva, aos pais, mas em todos os
sentidos a presença deles se torna desarticuladora na base dos poucos espaços
do apartamento e do próprio momento em que se acham, com atividades de trabalho
sem tempo para cuidar deles. Vê-se, a partir daí, a distancia que existe entre
eles, sempre em queixas secretas sobre o vínculo familiar originário e
preocupados apenas com os dias que vivem.
Para cada momento do filme, mesmo na
fase inicial, há uma espécie de marcação que enfatiza os caracteres das
pessoas. Por exemplo: o olhar de Trudi para as moscas. Nada se percebe até o
momento em que a nora mata o inseto que está no meio da mesa. Aquele ato é um
choque para os filhos e o marido, pois eles sabem que a mãe preza aquele
inseto, para ela, um símbolo de vida livre e, no caso, de uma vida efêmera (a
mosca dura só um dia). Naquele momento liga-se ao que se passa com o marido e
que só ela tem ciência.
Mas a todos os detalhes que dimensionam
personagens (há três blocos definindo o grupo), o roteiro consegue se despreender
do toque melodramático que parece fatal. O espectador se surpreende quando é Trudi
quem morre primeiro. Fica o marido solitário, difícil de tratar posto que muito
ligado à esposa em tudo o que fazia. Os filhos, seja a jovem que reside na
capital alemã seja o caçula que mora em Tóquio e viaja para Berlim quando sabe
da morte da mãe, veem um transtorno ter de cuidar do velho pai. E este,
procurando reagir ao drama, segue para o Japão com um objetivo: realizar o
sonho da amada que morreu, se achando causa do cerceamento da liberdade dela.
Ali encontrará primeiramente o difícil e às vezes, rude relacionamento com o
filho. O encontro com a cultura oriental embora lhe seja desconhecida tem uma
objetividade ao conhecer uma garota de 18 anos que dança à beira de um lago,
próximo do monte Fuji, e nessa dança evoca a sua própria mãe, recém-falecida, a
quem ela representa fazer contato através de um telefone.
O monte Fuji é quase sempre coberto de
neblina sendo por isso muito difícil aparecer como se vê nos cartões postais.
Mas, depois de certo tempo, o espaço se abre para Rudi, satisfeito, enfim, por estar
no cenário cultuado pela querida esposa.
Dentre muitos elementos usados para
dimensionar poeticamente o drama de duas pessoas que se amam e que transitam
para a morte, o filme utiliza em especial a flor da cerejeira. Esta beleza
vegetal também dura pouco e simboliza muito bem o amor de Rudi e Trudi que nos
momentos finais da narrativa chegam em belíssimas imagens sem que isso resvale
para a simples exibição de cartão postal.
Como flores de cerejeira os personagens
desaparecerão em pouco tempo. Mas a curta vida serve para uma reflexão, na bela
amostragem de Doris Dörrie, sobre o relacionamento familiar, a distância da
idade e as diferenças culturais.
Um belíssimo filme que não chegou aos
nossos cinemas e só foi conhecido através de vídeo. É um raro titulo capaz de
ficar na lembrança de quem assiste ao filme.
Nenhum comentário:
Postar um comentário