Arnon Goldfinger, o diretor que descobriu segredo dos avós.
Um trabalho
pessoal do cineasta Arnon Goldfinger sobre sua família, “O Apartamento”(Die
Wohnung, Alemanha, 2009) é narrado em primeira pessoa. Sobre o roteiro que
escreveu diz Arnon: “Meus avós viveram num
apartamento no 3º andar de um edifício Bauhaus em Telaviv desde que imigraram
para a Palestina nos anos 30. Se não fosse a vista das janelas, poder-se-ia
pensar que este apartamento era em Berlim. Quando a minha avó morreu, aos 98
anos, fomos convocados para esvaziar o que ainda lá houvesse – objetos,
fotografias, cartas e documentos esperavam por nós e revelavam as memórias de
um passado perturbante e desconhecido. O filme, que começa com o esvaziar de um
apartamento, deriva para uma fascinante aventura que junta interesses nacionais
inesperados, uma amizade que atravessa as linhas inimigas e emoções familiares
profundamente reprimidas”.
O que Arnon não esperava era a descoberta da amizade de seus avós com um
elemento nazista responsável por tantas evidências anti-semitas. Sua câmera
observa alguns detalhes que identificou em um relato de viagem dessa figura,
documento de 1933, com quem os avós dele mantiveram contato até o final da
guerra. Inacreditável uma proximidade entre o barão de Mildenstein,
chefe do Departamento de Assuntos Judaicos da SS e um dos antecessores de Adolf
Eichmann e os judeus obrigados a emigrar para fugir ao exterminio nazista. Esse
é o leit-motiv para Arnon e sua mãe entrarem em ação em busca de identificar essa
proximidade. Pelos alfarrábios dos familiares, além de entrevistas com
historiadores e pesquisa em arquivos, o cineasta vai montando seu
quebra-cabeça. O depoimento de uma neta do barão nazista será de grande ajuda
para o desvendamento de uma parte do passado de seus avós.
É muito raro se ver no cinema um trabalho que aparentemente é “de família
para a família”. Mas a narrativa procura abraçar um capitulo histórico e com
isso faz pensar no cinema como trabalho de investigação com abrangência bem
maior do que um retrato de família.
O filme ganhou 5 premios internacionais inclusive da Academia de Filmes
Israelense 2011 – melhor documentário; no
Festival de Tribeca 2012 – melhor edição; e no Festival de Jerusalém
2011 – melhor diretor documentarista. O Instituto
Goethe o colocou em sua biblioteca e é programa atual do cinema Olympia (em
cartaz hoje, terça, e quinta feira).
Outra programação, nesta quarta, 13/11, no mesmo cinema será efetivada com exibição
do classico de David Wark Griffith: “A Garota que Ficou em Casa”(The Girl who
Stayed at Home, EUA, 1919) um filme silencioso que será acompanhado ao piano
por Paulo José Campos de Melo, dentro da programação “Cinema e Música” realizada
mensalmente com a colaboração da FUNBEL, do Instituto Carlos Gomes e apoio da ACCPA.
“A Garota...”é um dos menos conhecidos trabalhos do diretor de
“Intolerância” e “Nascimento de uma Nação”, considerado um dos mais legítimos
pioneiros da indústria e arte cinematográfica. Interpretado por Carol Dempster,
Richard Barthelmesss e Adolph Lestina tem, como terceiro personagem, o
paraense Syn de Conde (Synésio Mariano de Aguiar) que entre 1918 e 1920
interpretou 8 filmes, uma carreira que em si valia roteiro de cinema pois seu
pai pensava que ele estava estudando na Suiça, tinha casado e em 1920 se
divorciado, na verdade partilhando do mundo da indústria cinematográfica tendo
sido amigo do ícone Rudolph Valentino e se tornado intérprete de um trabalho do
famoso Griffith.
Syn de Conde está nesse filme protagonizando o Conde de Brissac, personagem
que pontua a aventura de um jovem filho de combatente sulista na Guerra da
Secessão e que se alista para lutar na I Guerra Mundial contra a vontade da
familia.
Conhecer o conterrâneo que foi o primeiro brasileiro a filmar em Hollywood (antes
de Raoul Roulien, o carioca Raul Pepe Acolti Gil que muitos afirmam ter sido o primeiro, mas na verdade este só seguiu
para Hollywood na década de 1930) é muito interessante. O filme foi legendado
em Belém por Horacio Higuchi para a então APCC. Uma relíquia histórica. A sessão de
amanhã será às 18h30 com entrada gratuita.
REGISTRO
Impossivel
deixar de registrar uma data importante para mim: no dia de hoje, 12/11, atinjo
41 anos de trabalho ininterrupto neste jornal, nesta mesma coluna Panorama,
inclusive criada pelo dono do jornal, Sr. Rômulo Maiorana. Passar sem lembrar
esta minha escola de vida profissional seria deixar o passado sem memória.
Obrigada aos atuais familiares de Rômulo por me acolherem sempre.
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