quarta-feira, 13 de novembro de 2013

SERRA PELADA


Juliano Cazarre e Julio Andrade em "Serra Pelada"

Quem esperava, como eu, melhor enfoque no novo filme do diretor Heitor Dhalia (do excelente “A Febre do Ralo”) fica decepcionada com o que vê em “Serra Pelada” (Brasil, 2013),  o novo filme do cineasta.
As tomadas iniciais prometem uma forte dimensão funcional e de conteúdo, com fotos e cenas de arquivo mostrando a “febre do ouro”, no final dos anos 1970, em território paraense. Mas ao serem apresentados os dois protagonistas da trama, Juliano (Juliano Cazarre) e Joaquim (Julio Andrade), paulistas que resolvem enriquecer com base nas noticias que chegam sobre a “mina” nortista, a expectativa começa a declinar. O primeiro é um professor e pai de família que tende a se esforçar por manter uma conduta moral isenta do jogo que opera naquelas circunstancias vivenciadas, enquanto o amigo Joaquim se adapta ao ambiente de camuflagens onde o maior dos pendores é “tirar as diferenças” com o revolver no coldre. As desavenças emergem e entre os dois se instala a desconfiança enquanto a antiga amizade declina.
Os atores não conseguem dar corpo aos tipos a que estão encarregados de viver. Um é o estereotipo do hesitante que ora se mostra valente, pensando na esposa grávida que deixou, em busca de dias melhores, mas quase sempre se mostrando indeciso nas fortes decisões tomadas pelo amigo. Este de uma violência bem característica de vilão de western italiano, embora, por suposto, tenha acumulado a ganância pela riqueza que vê, a cada hora, “bamburrar” diante de seus olhos.
Com personagens sem muita estrutura, o filme se apega em coadjuvantes como Matheus Nachtergaele e Wagner Moura (este último também produtor e usando maquilagem que o torna um outro tipo, pouco expressivo, a exemplo de outros personagens que já investiu em dezenas de filmes) e na direção de arte. Neste caso, suficientemente capaz de criar em S.Paulo o ambiente de casebres que seria o da locação (visto em poucos planos). Mas, se há um visual interessante, e eu lembrei mais uma vez dos faroestes “spaghetti” na amostragem de tipos sórdidos e sujos, a ideia de fazer aparência realista com a câmera na mão trepidando como se estivesse sendo feita uma telerreportagem em lugar de difícil acesso, destrói o teor dramático e ainda prejudica o olhar do espectador que fica atarantado de ver imagens, com estas passando rápido e sem definição.
 “Serra Pelada” poderia ser um bom filme mesmo com o argumento que deu margem ao trabalho de Dhalia. Mas se rende a esquema de bandidos e mocinhos e a uma tentativa desesperada de imprimir “cor local”. Nós, paraenses, esperávamos muito mais do que se alardeou como filmagem na terra, sabendo que uma equipe esteve aqui tratando da produção e consequente locação. A rigor, pouco aparece identificável a quem vive em Belem e sabe do que aconteceu próximo a Marabá. O filme poderia tomar outro sentido (é possivel que a longa narração também tenha prejudicado), pois, mostrou a falta de organização da área com riscos à saude de mais de 60 mil homens na escavação para a retirada de pepitas, enquanto os lucros ficavam para os donos das fazendas que procuravam associar-se a esses pobres homens que mesmo naquele mundo de trabalho só ficavam com poucas gramas de ouro. Estão presentes e fortemente enfocados comportamentos que evidenciam a hierarquia dos “senhores donos das lavras” submetendo os garimpeiros, além da baixa qualidade de vida destes.
Ao que eu sei o filme tem tido má receptividade local. Creio que só esteja sendo ainda exibido em salas de shoppings distantes do centro, e em poucas semanas de permanência nas salas dos lançamentos mais ambiciosos. Uma pena, e creio que num aspecto global, o filme não agradou a críticos e espectadores.

Mas o mercado exibidor local anda com mais razões que a razão desconhece. “Capitão Phillips”, um filme sucesso comercial que ainda ocupa lugar entre os “10 mais” da bilheteria norte-americana lançado em Belém em poucas salas e em poucas sessões, perde para “Thor 2” exibido em vários espaços, em copias dubladas e legendadas. Certo que a garotada é quem paga os custos, pois, ao ir ver seus “heróis” prediletos é acompanhada de pais ou responsáveis que pagam ingresso junto com ela. E “Thor” é outra mina de ouro da Marvel, hoje do grupo Disney. Quer dizer: cinema comércio, sem nada deixar ao espectador na saída.


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