Juliano Cazarre e Julio Andrade em "Serra Pelada"
Quem esperava, como eu, melhor
enfoque no novo filme do diretor Heitor Dhalia (do excelente “A Febre do Ralo”)
fica decepcionada com o que vê em “Serra Pelada” (Brasil, 2013), o
novo filme do cineasta.
As tomadas iniciais prometem uma
forte dimensão funcional e de conteúdo, com fotos e cenas de arquivo mostrando
a “febre do ouro”, no final dos anos 1970, em território paraense. Mas ao serem
apresentados os dois protagonistas da trama, Juliano (Juliano Cazarre) e
Joaquim (Julio Andrade), paulistas que resolvem enriquecer com base nas
noticias que chegam sobre a “mina” nortista, a expectativa começa a declinar. O
primeiro é um professor e pai de família que tende a se esforçar por manter uma
conduta moral isenta do jogo que opera naquelas circunstancias vivenciadas,
enquanto o amigo Joaquim se adapta ao ambiente de camuflagens onde o maior dos
pendores é “tirar as diferenças” com o revolver no coldre. As desavenças
emergem e entre os dois se instala a desconfiança enquanto a antiga amizade
declina.
Os atores não conseguem dar corpo aos
tipos a que estão encarregados de viver. Um é o estereotipo do hesitante que
ora se mostra valente, pensando na esposa grávida que deixou, em busca de dias
melhores, mas quase sempre se mostrando indeciso nas fortes decisões tomadas
pelo amigo. Este de uma violência bem característica de vilão de western
italiano, embora, por suposto, tenha acumulado a ganância pela riqueza que vê,
a cada hora, “bamburrar” diante de seus olhos.
Com personagens sem muita estrutura,
o filme se apega em coadjuvantes como Matheus Nachtergaele e Wagner Moura (este
último também produtor e usando maquilagem que o torna um outro tipo, pouco
expressivo, a exemplo de outros personagens que já investiu em dezenas de
filmes) e na direção de arte. Neste caso, suficientemente capaz de criar em
S.Paulo o ambiente de casebres que seria o da locação (visto em poucos planos).
Mas, se há um visual interessante, e eu lembrei mais uma vez dos faroestes
“spaghetti” na amostragem de tipos sórdidos e sujos, a ideia de fazer aparência
realista com a câmera na mão trepidando como se estivesse sendo feita uma
telerreportagem em lugar de difícil acesso, destrói o teor dramático e ainda
prejudica o olhar do espectador que fica atarantado de ver imagens, com estas
passando rápido e sem definição.
“Serra Pelada” poderia ser um
bom filme mesmo com o argumento que deu margem ao trabalho de Dhalia. Mas se
rende a esquema de bandidos e mocinhos e a uma tentativa desesperada de imprimir
“cor local”. Nós, paraenses, esperávamos muito mais do que se alardeou como
filmagem na terra, sabendo que uma equipe esteve aqui tratando da produção e
consequente locação. A rigor, pouco aparece identificável a quem vive em Belem
e sabe do que aconteceu próximo a Marabá. O filme poderia tomar outro sentido
(é possivel que a longa narração também tenha prejudicado), pois, mostrou a
falta de organização da área com riscos à saude de mais de 60 mil homens na
escavação para a retirada de pepitas, enquanto os lucros ficavam para os donos
das fazendas que procuravam associar-se a esses pobres homens que mesmo naquele
mundo de trabalho só ficavam com poucas gramas de ouro. Estão presentes e
fortemente enfocados comportamentos que evidenciam a hierarquia dos “senhores
donos das lavras” submetendo os garimpeiros, além da baixa qualidade de vida
destes.
Ao que eu sei o filme tem tido má
receptividade local. Creio que só esteja sendo ainda exibido em salas de
shoppings distantes do centro, e em poucas semanas de permanência nas salas dos
lançamentos mais ambiciosos. Uma pena, e creio que num aspecto global, o filme
não agradou a críticos e espectadores.
Mas o mercado exibidor local anda com
mais razões que a razão desconhece. “Capitão Phillips”, um filme sucesso
comercial que ainda ocupa lugar entre os “10 mais” da bilheteria
norte-americana lançado em Belém em poucas salas e em poucas sessões, perde
para “Thor 2” exibido em vários espaços, em copias dubladas e legendadas. Certo
que a garotada é quem paga os custos, pois, ao ir ver seus “heróis” prediletos
é acompanhada de pais ou responsáveis que pagam ingresso junto com ela. E
“Thor” é outra mina de ouro da Marvel, hoje do grupo Disney. Quer dizer: cinema
comércio, sem nada deixar ao espectador na saída.
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