Cate Blanchett e Sally Hawkins : mulheres dos filmes de Woody Allen.
Desde “Interiores” (Interiors, 1978)
Woody Allen tem realizado filmes que focalizam a mulher. E sem contracenar com
elas. Admirador de Ingmar Bergman (e de Federico Fellini) Allen viu neste seu
trabalho em que focaliza 3 irmãs na expectativa do divorcio dos pais, um
mosaico e que as pessoas que aparecem quase não sorriem. E
todas pertencem à classe social abastada. Uma das obras mais depressivas dele. O
escritor-diretor certamente inspirou-se em dramas bergmanianos como “Gritos e
Sussurros” lançado meses antes. A experiência pode
não ter sido um êxito de público, mas recebeu 10 prêmios internacionais e foi
candidata a 5 Oscar. Viriam a seguir a Cecilia de “A Rosa Púrpura do Cairo”
(The Purple Rose of Cairo, 1985) interpretada pela então esposa de Allen: Mia
Farrow (e a crítica de Allen à indústria cultural). Esta é a única do grupo de
mulheres retradas pelo autor que consegue encontrar momentos felizes. E no
cinema, seja através de um ator de filme que sai da tela para vagar com ela
pela cidade, seja pela sorte de sempre ter um filme para que vá ver e amar.
Outras personagens femininas do
cineasta não têm a mesma chance de Cecilia, seja Lane (Mia Farrow) ou Stephania
(Diane West) de “Setembro” (September, 1987), seja a escritora Marion (Gena
Rawlands) ou Hope (outra vez Mia Farrow) de “A Outra” (The Other, 1988) ou,
ainda, as personagens de “Igual a Tudo na Vida” (Anything Else, 2003) ou a
Melinda (Radha Mitchell) de “Melinda, Melinda”(2004). Do grupo salva-se até por
representar um papel secundário, a Nola Rice (Scarlet Johansson) de “Ponto
Final” (Match Point, 2005), o melhor de Allen no gênero, até chegar a este
“Blue Jasmine”(2013) ora em cartaz por aqui.
Claro que nos filmes em que ele esteve
presente, como “Crimes e Pecados”(Crimes and misdemeanors, 1989) personagens
femininas surgiram em plano de sofrimento (no caso, Angelica Huston assassinada
pelo amante vivido por Martin Landau). Não se pode esquecer que em Meia Noite em Paris (2011) e Vicky Cristina Barcelona (2008) há
crises na vida de suas personagens também. Mas a volta a um tipo como Jasmine ganha um novo formato, pois, não me
pareceu “bergmaniano”. Ao contrário das irmãs que assistiam a agonia de uma
delas em “Gritos e Sussurros”, ou a enfermeira que assume a identidade da
sua paciente (“Persona”) aqui é uma personagem cujo drama emerge da condição
social. No argumento, Allen volta à Nova York depois de uma estada europeia bem
sucedida (“Meia Noite em Paris” e “Para Roma Com Amor”). E Jasmine, ou Jennifer,
é uma socialite novaiorquina, que no começo do filme já perdeu o “status”,
voando para São Francisco onde encontará a irmã que sempre foi pobre e por
isso, esquecida. A perda foi proporcionada pela própria Jasmine, ao denunciar a
corrupção do marido quando sabe que a traição dele (que ela já devia desconfiar)
está em domínio público (e não fica bem manter a posição de mulher traída. Mas
as fimbrias do filme deixam muito mais significados de que não é somente por
esse fator, mas pelo amor que sente por ele, difícil de creditar-lhe, diga-se).
Em “Blue Jasmine” a base dramática é
social que se transforma em drama psicológico. Entre morar no Brookyn ou
enfrentar o kitsch da casa da irmã
noutra cidade, a última opção parece melhor (até porque não a conhecem em San
Francisco). Mas é difícil a ex-milionária se adaptar ao modo de vida do que
seria, no máximo, um regresso ao que viveu com os pais (que se separaram). E
acima de tudo, àquela altura, impossivel despojar-se da cultura da riqueza
vivida por muito tempo, modos de vida internalizados que explodem a cada
situação apresentada pela irmã e/ ou por um dos acompanhantes. E o filme vai
confrontando as duas irmas (Sally Hawkins é a irmã Ginger e Cate Balchette a
principal figura – ou a que dá título ao filme) e não mostra caminhos de
redenção ou mudança que as façam sorrir. Pode-se dizer que a síntese é um close
de Cate chorando. Ou falando sozinha, num banco de praça de onde os que estão
ao seu redor se afastam. Além de Bergman, um Allen jogando fora a bola da sorte
que seu personagm buscou em “Match Point”.
Luzia, fui ver o filme com uma amiga psicologa e ao sair da sessão ela comentou comigo, que o filme tem vários recortes para se estudar psicologicamente, um aquestão interessante é a das aparencias, onde nem tudo que é gentil , meigo é bom ou tudo que aparentemente é bruto necessariamente será mal.
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