O cinema brasileiro está “bombando” de repetições de temas
onde o filme que arrecadou boa quantia nas salas exibidoras terá versões para
satisfazer os que se divertiram no primeiro exemplar e, quem sabe, atrair
outras sendo este o caso de “Até que a Sorte nos Separe 2”(Brasil, 2013). No
enredo, a situação se define assim: três anos depois de ter perdido uma fortuna
ganha na loteria, Tino (Leandro Hassum) e Jane (Camila Morgado) estão reclamam
as dificuldades financeiras. Mas as coisas mudam quando recebem a visita de um
corretor avisando o falecimento de tio Olavinho, que deixou uma herança de R$
100 milhões a ser dividida igualmente entre Jane e sua mãe, Estela (Arlete
Salles). Como o último desejo, o tio pediu que suas cinzas sejam jogadas no Grand
Canyon (EUA) e isso é motivo para o esbanjador Tino aproveitar para uma viagem
a Las Vegas com a esposa e a filha (deixa o filho com a avó). Não é difícil
imaginar que o dinheiro desapareça nas mesas de jogo de um grande cassino. A
“novidade” será uma ultima aposta.
Como disse acima, o filme sofre do mal dos replays. Se a
primeira comédia, explorando o que Leandro Hassum interpreta na TV rendeu mais
de 3 milhões de espectadores, a segunda é uma consequência natural de um
esquema de indústria. Afinal, os norte-americanos produzem franquias com base
num primeiro sucesso. E até os japoneses fizeram isso. O problema é quando um
novo roteiro se restringe a simples cópia do anterior. É o caso desta produção
dirigida por Roberto Santucci de um roteiro de Paulo Cursino e Chico Soares, o
primeiro autor do trabalho anterior.
O espectador médio só vai suportar o que vê se faz parte
do grupo que acha graça do que já o fez rir. E é difícil uma pessoa conseguir
bisar o riso de uma piada muitas vezes contada. Fora isso, Hassum tenta segurar
o tipo do esbanjador com frases de gracejo inseridas a despropósito, como se
estivesse em um tele show. Há situações extremamente forçadas, inclusive
aproveitando diferença idiomática. Constrangedor. E assim se vê a “ponta” de
Jerry Lewis, cobrando um troco do comediante brasileiro. A sequencia é falada
em inglês (felizmente não dublaram Lewis). Vale pela presença do velho cômico
na ativa com seus mais de 80 anos no costado. Mas colocar “Até que a Sorte nos
Separe 2” no currículo desse grande ator é uma pilhéria marcada pela ousadia.
Por certo só constará por aqui.
As novas comédias nacionais que se amparam na TV, ao que
consta, caminham muito bem de público, mas ruins de ideias. Nem opino quando à
criatividade formal. É uma enxurrada de roteiros que buscam situações
pseudo-engraçadas, muitas deturpando fatos e personagens reais. Nessa evidencia
sente-se saudades das velhas produções da Atlântida que nos anos 50 eram
chamadas pelos críticos pejorativamente de chanchadas (coisas
ruins) e hoje se dá conta de um gênero que espelha nossa cultura em
um tempo. O que se vê como neochanchada, atualmente, só é melhor do que a
pornochanchada, um tipo de filme que se fazia, especialmente na Boca do Lixo
(São Paulo) para desafiar a censura do governo militar. Nesse tempo, em que se
colocavam bolinhas pretas no órgão sexuais de personagens como o foi em
“A Laranja Mecânica”, as peripécias de comediantes nacionais geravam dores de
cabeça nos pudicos censores que em tudo viam subversão e sexo.
Hoje o cinema brasileiro cresce muito em quantidade e
técnica. Mas o melhor luta para conseguir espaço nas salas de projeção. Sempre
houve uma obrigatoriedade de exibição de filmes nacionais, mas o baixo nível
supre o mando. A quantidade afoga a qualidade.
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