quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

MARANHENSE E PARAENSES


Nesta semana, desde a última quarta (8/01) até o domingo 19/01, está ao alcance de nossos espectadores, no Cine Líbero Luxardo, uma das salas alternativas de Belém, o filme: “Exercício do Caos”, de Frederico Machado. No cine Olympia, no final de semana, há duas obras do cineasta Libero Luxardo (foto) que se tornaram clássicas por sua importância histórica: “Um Dia Qualquer”(1962) e “Marajó, Barreira do Mar”(1963).
“Exercicio do Caos” (Brasil/2013) é o filme de estreia do maranhense Frederico Machado, o proprietário da distribuidora Lume, conhecida pela veiculação de filmes artisticamente ambiciosos que dificilmente alcançariam o mercado brasileiros mesmo em DVD.
No filme, Machado trabalha um roteiro seu e focaliza em 3 etapas (Exercício, Limbo e Caos) uma família do interior do Maranhão composta de pai e três filhas. Eles vivem do cultivo da mandioca até a produção de farinha e não se sabe bem que fim levou a mãe das jovens. Vê-se um homem rude, tratando as filhas com rigor. Mas o quadro familiar não se sustenta nessa ordem imposta de forma despótica. Surgem problemas afetivos na oportunidade em que entra em cena um capataz que irá provocar um desequilíbrio na estrutura dramática.
“Exercicio....” traduz o quadro de personagens que se encaminham para um conflito utilizando com primazia a imagem, aproveitando o ambiente como um importante elemento narrativo. O conjunto reflete a densidade do argumento e a preocupação do cineasta é, justamente, reforçar sempre essa densidade. Por isso, o filme se fecha para o chamado grande público que está acostumado a ter “de graça” os elementos tradicionais do cinemão. “Exercício do Caos” é um exemplo corajoso de produção não comercial. Isso em se tratando de uma estreia na condução diz bem do comportamento do cineasta quando distribuidor (de vídeo e de cinema).
Nos créditos finais há uma dedicatória ao cineasta Robert Bresson, certamente inspirador da narrativa exposta.
O filme de Líbero, “Um Dia Qualquer”, não agradou aos críticos, na sua estreia. O tempo o dignificou como um trabalho pioneiro. Trata, como o título indica, das 24 horas de um personagem que circula por vários locais da capital paraense. Desse propósito passa-se em flash-backs por momentos nas vidas do próprio corifeu e de outras personagens, especialmente as interpretadas por Lenira Guimarães e Eduardo Abdelnor. O caminheiro é protagonizado por Hélio Castro. Aos poucos, o conjunto de sequencias vai mostrando o motivo da face transtornada dessa figura. Não sem levá-la a lugares que certamente contribuem para mostrar o desamparo que vive naquele momento e a situação dramática que o atinge. A fotografia do filme refere (IMDB) Ruy Santos, com o câmeramen Lucien Melinger.
Ver como era Belém do inicio dos anos 1960 é uma das experiências pitorescas que oferece “Um Dia Qualquer” com muitas sequencias filmadas nas ruas da cidade.
“Marajó Barreira do Mar” foi o segundo longa-metragem dirigido por Libero Luxardo no seu ciclo amazônico. O cineasta se baseou num antigo roteiro que chamara “Amanhã nos Encontraremos”, cujas noticias encontram-se em jornais de Belém (inclusive com referências de que até os atores já haviam sido contratados na cidade de Arari). A realização foi muito difícil e o filme restou como um panorama regional com imagens bonitas do arquipélago marajoara gravadas pelo fotógrafo que poucas pessoas conhecem hoje, Fernando Cabral de Melo, profissional que sempre trabalhou com Líbero. A música original é de Sebastião Tapajós
Esses filmes de Luxardo iniciam um programa especial no centenário Cine Olympia dedicado ao aniversário da cidade. Não sei é como faltou “Brutos Inocentes”, o último trabalho do cineasta e o único filmado a cores (consta que existem cópias no Museu da imagem e do Som do Estado).

Após esse programa pontuado pelo filme maranhense e o “duo” do diretor paulista que adotou o Pará como sua terra, a programação cinematográfica do Olympia anuncia a exibição do documentário “Mazzaropi” de Celso Sabadin, que focaliza o único artista brasileiro a enriquecer fazendo cinema. 

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