Nesta semana, desde a última quarta (8/01) até o domingo 19/01, está ao
alcance de nossos espectadores, no Cine Líbero Luxardo, uma das salas
alternativas de Belém, o filme: “Exercício do Caos”, de Frederico Machado. No
cine Olympia, no final de semana, há duas obras do cineasta Libero Luxardo (foto) que
se tornaram clássicas por sua importância histórica: “Um Dia Qualquer”(1962) e
“Marajó, Barreira do Mar”(1963).
“Exercicio do Caos” (Brasil/2013) é o filme de estreia do
maranhense Frederico Machado, o proprietário da distribuidora Lume, conhecida
pela veiculação de filmes artisticamente ambiciosos que dificilmente
alcançariam o mercado brasileiros mesmo em DVD.
No filme, Machado trabalha um roteiro seu e focaliza em 3
etapas (Exercício, Limbo e Caos) uma família do interior do Maranhão composta
de pai e três filhas. Eles vivem do cultivo da mandioca até a produção de
farinha e não se sabe bem que fim levou a mãe das jovens. Vê-se um homem rude, tratando
as filhas com rigor. Mas o quadro familiar não se sustenta nessa ordem imposta
de forma despótica. Surgem problemas afetivos na oportunidade em que entra em
cena um capataz que irá provocar um desequilíbrio na estrutura dramática.
“Exercicio....” traduz o quadro de personagens que se
encaminham para um conflito utilizando com primazia a imagem, aproveitando o
ambiente como um importante elemento narrativo. O conjunto reflete a densidade
do argumento e a preocupação do cineasta é, justamente, reforçar sempre essa
densidade. Por isso, o filme se fecha para o chamado grande público que está
acostumado a ter “de graça” os elementos tradicionais do cinemão. “Exercício do Caos” é um exemplo corajoso de
produção não comercial. Isso em se tratando de uma estreia na condução diz bem
do comportamento do cineasta quando distribuidor (de vídeo e de cinema).
Nos créditos finais há uma dedicatória ao cineasta Robert
Bresson, certamente inspirador da narrativa exposta.
O filme de Líbero, “Um Dia Qualquer”, não agradou aos
críticos, na sua estreia. O tempo o dignificou como um trabalho pioneiro. Trata,
como o título indica, das 24 horas de um personagem que circula por vários
locais da capital paraense. Desse propósito passa-se em flash-backs por
momentos nas vidas do próprio corifeu e de outras personagens, especialmente as
interpretadas por Lenira Guimarães e Eduardo Abdelnor. O caminheiro é
protagonizado por Hélio Castro. Aos poucos, o conjunto de sequencias vai
mostrando o motivo da face transtornada dessa figura. Não sem levá-la a lugares
que certamente contribuem para mostrar o desamparo que vive naquele momento e a
situação dramática que o atinge. A fotografia do filme refere (IMDB) Ruy Santos,
com o câmeramen Lucien Melinger.
Ver como era Belém do inicio dos anos 1960 é uma das
experiências pitorescas que oferece “Um Dia Qualquer” com muitas sequencias
filmadas nas ruas da cidade.
“Marajó Barreira do Mar” foi o segundo longa-metragem dirigido
por Libero Luxardo no seu ciclo amazônico. O cineasta se baseou num antigo
roteiro que chamara “Amanhã nos Encontraremos”, cujas noticias encontram-se em
jornais de Belém (inclusive com referências de que até os atores já haviam sido
contratados na cidade de Arari). A realização foi muito difícil e o filme
restou como um panorama regional com imagens bonitas do arquipélago marajoara
gravadas pelo fotógrafo que poucas pessoas conhecem hoje, Fernando Cabral de Melo,
profissional que sempre trabalhou com Líbero. A música original é de Sebastião
Tapajós
Esses filmes de Luxardo iniciam um programa especial no
centenário Cine Olympia dedicado ao aniversário da cidade. Não sei é como
faltou “Brutos Inocentes”, o último trabalho do cineasta e o único filmado a
cores (consta que existem cópias no Museu da imagem e do Som do Estado).
Após esse programa pontuado pelo filme maranhense e o “duo”
do diretor paulista que adotou o Pará como sua terra, a programação cinematográfica
do Olympia anuncia a exibição do documentário “Mazzaropi” de Celso Sabadin, que
focaliza o único artista brasileiro a enriquecer fazendo cinema.
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