sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

CLUBE DE COMPRAS DALLAS

Matthew McConaughey num grande desempenho. Provável Oscar

A primeira sequência de filme “Clube de Compras Dallas” (Dallas Buyers Club, EUA, 2013  ) mostra, nos bastidores da arena onde cowboys desafiam o tempo de permanência montados em touros ou cavalos selvagens, o eletricista heterossexual Ron Woodroof (Matthew McConaughey) fazendo sexo com alguém. No fim do filme volta-se à arena e ao personagem, mas ele aparece montado num dos touros em competição e sai acenando orgulhoso o seu equilíbrio, congelando-se o plano.
Esta elipse, comparando prefácio e epílogo do filme dirigido pelo canadense Jean-Marc Vallée, evidencia o drama do personagem que se torna vitima da AIDS, adquirindo o vírus HIV de suas porfias sexuais e uso de drogas, sendo diagnosticado em 1985 e cujo período de sobrevida de apenas 30 dias. Woodroof se nega a aceitar esse prognóstico conseguindo sobreviver na época em que a doença matava incontinente. Primeiro apela para a aquisição camuflada da medicação em uso nos hospitais, o AZT, depois, como seu fornecedor se nega a vender-lhe a dose necessária, indica-lhe, entretanto, um médico e pesquisador mexicano que poderia ajudá-lo. Até então em fase experimental, sem liberação para o consumo pela FDA dos EUA, Ron não só adquire para si o medicamento, mas para outros com o mesmo problema, criando empresa com taxa para associados ao custo de 400 dólares mensais. Embora ainda homofóbico, sua maior aproximação passa a ser com Rayon (Jared Leto), seu parceiro no hospital.
O filme é exclusivamente do ator principal. Poucas vezes se vê no cinema um empenho tão grande por um papel. Matthew emagreceu cerca de 20 quilos, reforçou a maquilagem para se mostrar mais debilitado, usou uma expressão corporal incomum, expandindo suas atitudes e ganhou presença em quase todos os planos. É um trabalho exaustivo que eleva o filme ultrapassando algum percalço do roteiro, um pouco fragmentado, mesmo seguindo linearmente a historia do homem que se ufana de “machão”, repelindo o diagnostico de uma doença ligada aos homossexuais, àquela altura marcada pelo preconceito sobre a sexualidade na “terra dos hetero”, e de sua luta pela cura contra todas as estimativas médicas de seu tempo.
Vallée que dirigiu o muito bom “C.R.A.Z.Y.”(2005) também consegue um desempenho de coadjuvante excelente em Jared Leto como o travesti Rayon. Basta compara com o Nemo de “Sr. Ninguém”, o filme do belga Jaco Von Dormael. Os dois atores, Leto e Matthew, disputam o Oscar no próximo domingo, com o primeiro sendo o favorito, mas os dois já premiados no recente “Globo de Ouro”.
“Clube de Compras Dallas” é, sobretudo, a luta pela vida. Por  mais que o tipo do cowboy se mostre uma pessoa sofrida, e isso se vê quando procura tratamento alternativo para o seu mal e encontra um médico exilado do meio profissional, um pesquisador voluntário que lhe oferece a chance de usar não só o AZT, mas uma combinação com proteína capaz de estancar o efeito do vírus sobre as defesas de seu organismo deixa o tipo com a chance de se vangloriar da passagem do tempo marcado por quem primeiro o atendeu em um hospital.
Ron doma a doença como doma o animal que monta. E não pára seus hábitos durante o tratamento que faz, continuando a usar cocaína e a fazer sexo sem precaução. E vai além da ousadia com o seu próprio corpo: ganha dinheiro contrabandeando as drogas anti-HIV para pessoas que necessitam. Forma um verdadeiro laboratório paralelo e isso chama a atenção das autoridades levando o caso a julgamento. Com todos os empecilhos, o doente sobrevive 7 anos, além da estimativa dada pelos clínicos, ganhando a confiança de uma médica que se admira da coragem dele.
O filme se baseia em fatos reais e o roteiro de Craig Borten e Melisa Wallack veio de uma conversa com o próprio Ron Woodroof. É desses trabalhos que nos créditos afirmam se tratar de fatos reais. No caso, uma realidade surpreendente que acaba ganhando feitio de homenagem mesmo em se tratando de um contraventor.
Mas não é só isso. O caso de Ron é mostra, pelos roteiristas, as engrenagens da agencia farmacêutica e as barganhas que os laboratórios realizam para “vender” seus produtos mesmo a custa de vidas humanas, o que já foi denunciado, inclusive, por Fernando Meirelles em “O Jardineiro Fiel (2005) envolvendo governos e multinacionais nas tramas do setor financeiro.

O lançamento do filme em Belém está em poucas sessões, numa sala distante do centro da cidade.

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