Timothée (Nauel Perez Bizcayart) em "No Fundo da Floresta"
Benoît Jacquot, diretor e roteirista francês
é muito conhecido pelo filme que realizou “Adeus Minha Rainha” (Les Adieux a la
Reine, 2012) sobre os dias sombrios de julho de 1789, às vésperas da Revolução
Francesa, com a corte de Luis XVI descontraída supondo nada ocorrer com eles.
Nesse meio se acha Sidonie Laborde (Léa Seydoux), jovem totalmente devotada à
Rainha, que não só não acredita nos desmandos do regime, como permanece ao lado
de Maria Antonieta, a rainha da França, até o fim.
Esse “cartão de visita” do diretor
pouco conhecido entre nós (muitos filmes europeu são só encontrados em DVD) dá
credito ao filme que está sendo exibido em Belém, “No Fundo da Floresta” (Au
Fond des Bois/França, 2010) assinando também o roteiro com Julien Boivent, é
uma espécie de “Bela e a Fera” com toque de crueza. Eles se interessaram pela
crônica da jurista e ensaísta franco-argentina Marcela Iacub que teria se
baseado em um fato real acontecido numa província francesa do século XVII. O
tema é o relacionamento de uma jovem de classe média, filha de um médico
conceituado, com um andarilho, Timothée (Nauel Perez Bizcayart) que a hipnotiza
e sequestra para viver ao seu lado na floresta próxima da casa da jovem, usando
para isso um estranho e eficiente poder de persuasão e truques de mágica. Este
tipo (uma verdadeira fera) passa a viver com a jovem Josephine (Isild Le
Besco), numa rotina de sexo e violência ela adquirindo uma gravidez e só nessa
condição voltando para casa.
O “fera” no caso, foi preso e condenado
a reclusão perpetua. A sua “bela” chega a visita-lo na cadeia levando o filho
recém-nascido. Havia casado com um homem de sua classe social.
Como
no conto de Leprince de Beaumont, a imagem da criatura monstruosa foi concebida
para ganhar uma certa simpatia do leitor/espectador depois de um tempo de asco.
Mas a verdade é que o tipo é mostrado numa linha de abusos à garota ficando
difícil o reconhecimento daquele estado da natureza onde a sexualidade se
propaga sem os recursos da formação de Timothée, que é apresentado nas
sequencias iniciais como um voyeurista, apreendendo-se dele uma máscara
alienada. O ator Nahuel Pérez Biscayart consegue deixar a imagem de uma feiura
extrema, não só, pela disposição de seu rosto. É uma figura feia e bizarra nas
atitudes, no modo como trata a companheira, ou presa, no jeito como se
vangloria de poderes paranormais, de seu poder de persuasão que extrapola a
tradicional forma de hipnose.
O
filme procura imagens realistas não só através da locação onde teriam
acontecido os fatos como, e principalmente, no trabalho dos atores, uma
excelente amostragem de rostos sofridos, de temperamentos que são divergentes
mas se acomodam através de uma força que assusta.
Nesta
versão inadvertida de “A Bela e a Fera”, o que não é proposital e sim procura
seguir um acontecimento chocante do passado, não deixa qualquer vestígio de
encanto ou lirismo. Timothée não chega a assustar a quem o vê na tela, mas o
que recebe do espectador é uma repugnância como se ele fosse uma “coisa”
asquerosa, um objeto de nojo.
O
filme quer sempre chocar. E nesse ponto difere dos 38 títulos do diretor antes
de realiza-lo. Até sua versão de “Sade”, em 2000 (a história do marquês que
deixou neologismos) é menos chocante. Aqui em “Au Fond de Bois” ele enfatiza o
feio, aliado ao sexo animal, no modo como contamina o belo a ponto de ganhar
desta uma passividade que mesmo assim apresenta momentos paradoxais, afiançando
uma espécie de contaminação do bizarro.
Poucos
filmes são tão impiedosos, inclusive nas sequencias de sexo (e são muitas) onde
se observa apenas um exercício físico violento (esse é um ponto que merece
observamos em relação à posição da ensaísta e jurista sobre a questão da
sexualidade).
Inédito
nos cinemas locais (e creio que nos brasileiros de um modo geral) o filme não
deixa de ser importante como um exemplar sobre a temática da sexualidade. Foi
exibido no Cine Olympia durante uma semana em horários regulares. Um programa
da Cinemateca da Embaixada da França.
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