Nicolas Cage em cena de "Fúria", do espanhol Paco Cabezas
Em exibição nos nossos cinemas, “Furia” (Tokarev, EUA, 2014)
que mantém no original o nome russo visto que a ação se dá entre um grupo russo
nos EUA. No enredo, Paul (Nicolas Cage) é um ex-criminoso e ex-integrante de um
grupo mafioso. No momento em que protagoniza a situação na qual se mete de
cabeça, está assessorando o prefeito de sua cidade. Certo dia, vê sua filha ser
sequestrada e achada morta. Considera ser obra de alguma gangue de seus
contemporâneos no mundo do crime. Sem que a polícia resolva o caso, ele assume
a liderança de um processo de vingança, saindo pelos becos onde sabe se
reunirem os marginais, matando quem lhe apareça pela frente. Sua presunção justamente é que os assassinos da garota pertençam à
máfia de Moscou.
O filme marca a estreia, no cinema de Hollywood, do diretor
espanhol Paco Cabezas, autor de 9 roteiros e 8 filmes (incluindo TV) de onde se
salienta o terror “Aparecidos” (2007) produção hispano-argentina. E não se pode
dizer que ele teve a felicidade de alguns poucos estrangeiros que entram no
mercado estadunidense. O argumento de seu filme dá para ser contado em poucas
linhas e como esse diretor é também o autor do roteiro dá para pensar que
aproveitou a ideia para um trabalho bem simples, uma historia de ação intensa
que afinal ganhe a faixa de mercado mais cobiçada na atual produção
cinematográfica comercial.
Procurei avidamente algum detalhe que justificasse o
trabalho de Cabezas. Há uma sequência em que Paul é focalizado olhando para a
câmera e no contracampo vê-se a sua filha sendo atacada por algumas pessoas que
não se sabe a identidade (dá a impressão de que ele está vendo o que acontece
com ela). Também o primeiro plano – um close dos olhos do personagem – é unido
pelo final como se isso tivesse alguma coisa a dizer da índole do tipo. Seria
possivel pensar também que a continuidade dos enfoques na hora em que a
adolescente é atacada representasse uma continuidade, pelo menos para ele, pai
da garota, uma ligação com o mundo do crime de onde emergiu. Mas a “rima” não
ganha substancia mesmo porque o enfoque real do sequestro surge de outra forma
antes da narrativa chegar ao fim.
O que salta na pouco mais de hora e meia de projeção é a
fúria do titulo. Justifica-se na dor de um pai que é visto por mais de uma vez
olhando fotos e brinquedos da filha deixando com isso a imagem de uma saudade.
E a procura dos pretensos raptores leva ao covil de mafiosos de onde saem
personagens sádicas, um deles em cadeira de rodas. Nada escapa dessa gente. Mas
o filme não se furta em mostrar torturas. Há uma em que um amigo de Paul é
preso, dependurado num esconderijo e torturado de diversas maneiras. Leva socos
com luva de ferro. O espectador se pergunta como ele pode aguentar vivo tanto
sofrimento. Mas essa demonstração de atrocidades leva a uma denúncia de outro
mafioso e o que se pode ver como uma sub-vingança, ou sub-furia (mafioso
matando outro).
Cabeza certamente pensou em nova forma de terror com seu
filme norte-americano. E esmerando na descrição da violência esqueceu os
atores. Nicolas Cage só acertou um trabalho em anos: aquele que atuou sob as
ordens de Werner Herzog, em “Vicio Frenético” (The Bad Liutenant: Port of
Call-New Orleans, 2009). Premiado com o Oscar por “Despedida em Las Vegas”
(Living Las Vegas, 1995), o sobrinho de Francis Ford Coppola vem trabalhando em
excesso, aceitando papéis degradantes como neste “Furia” de onde, na verdade,
escapa é a fúria do espectador que se sente enganado. Seu desempenho é muito
fraco.
Mas quem deve ganhar a Framboeza (Oscar do pior trabalho)
suponho ser Rachel Nichols, atriz que já chegou a ganhar prêmio em TV-movie
(Underwater, 2012). Ela interpreta a companheira de Cage. Sua “cara de choro” é
a recorrência da falta de máscaras para atuar.
Graças a Deus que o lançamento de “Furia” em Belém foi péssimo
(poucas sessões no Cinepolis Parque e num Moviecom, assim mesmo só em cópias
dubladas). O senso crítico dos exibidores se mostrou à altura do produto
lançado no mercado.
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