As trapaças e os labirintos na escalada da vida: Maze Runner
Mais um filme que visualiza um futuro nada agradável. “Maze
Runner, Correr ou Morrer” (Maze Runner, EUA, 2014) focaliza um espaço pós-apocaliptico,
onde jovens, num tempo não especificado, vivem acomodados sabendo que de lá não
podem sair, pois há um grande muro que os cerca do tipo labirinto e
atravessá-lo é impossível até porque nele habitam gigantescos artrópodes.
O principal personagem chega à clareira onde estão os
rapazes de sua idade viajando numa caixa metálica através de um elevador que
parece despencar no solo. Curioso é que ninguém se preocupa em saber de onde se
deslocou esse tipo de transporte, se ele voltará a subir, afinal onde se
encontra (a câmera não mostra o exterior do objeto). Com o passar dos dias uma
garota também atravessa o espaço desconhecido pelo mesmo veiculo. Ela chega reconhecendo
melhor quem é e sabendo que o jovem que chegou antes, e cujo nome sabe só muito
depois, chama-se Thomas.
O grupo de garotos vive numa clareira mantendo um esquema de
tarefas habituais, considerando-se, então que alguns já estão há algum tempo
por lá a ponto de serem os monitores dos demais. Eles poucos se aventuram a
entrar no labirinto (que abre e fecha diariamente) para tentar fugir do que a
rigor é uma prisão. Há os “corredores”, jovens que diariamente se aventuram a
reconhecer a parte oculta. Naturalmente que Thomas vai tentar. E no fim das
contas encontrar uma solução para o esquema secreto de vida. Mas o que descobre
como causa de tudo é um absurdo astronômico que dá margem a um segundo filme.
Como se pode constatar, “Maze Runner” é início de franquia
como os anteriores “Jogos Vorazes” e “Divergente” (o original literário consome 3
volumes). Não se diga é que segue a fórmula de “Harry Potter”, “Crepúsculo” ou
“O Senhor dos Anéis” (com a licença atual de “Hobbit” alongando a obra de
R.J.Tolkien). A fantasia, no caso do novo filme, é moldada num estllo pesadelo.
Mas se os tipos de sociedade apresentados nos exemplos de “Jogos Vorazes” e
“Divergente” assumem uma ditadura que impõe limites, as novas vertentes encapam
destes governos com meios de melhorar o mundo, cerceando as atitudes das
pessoas, fazendo-as acomodadas em situações que lhes possam parecer melhores se
comparadas com as guerras de diversos tipos que se observam na realidade do
planeta. Mas há os ousados ou aqueles que numa atitude corajosa entendem que
podem investir em conhecer os bastidores do desconhecido, mesmo que a custa da
própria vida. Vejam-se os personagens de “Maze Runner” que se acomodaram aos
habitos de sobrevivência naquele espectro prisional e ao depararem com alguém
que quer enfrentar o além-mundo consideram-no inimigo. Aplicam-lhe castigos e
culpabilizações pela investida de outros seres que passam a ser parte da
infringência, mas precisam ser enfrentados.
Comparando com “O Doador de Memórias”, este “Correr ou
Morrer” revela uma extrema pobreza de imaginação aliada a uma direção sem
brilho, uma cenografia pobre (as aranhas gigantes são vistas ou no escuro ou
tão de perto-e em câmera manual - que não chegam a ser perfeitamente
delineadas) e atores ruins (o melhor é Dylan O’Brien, mas ele não pode fazer
muita coisa num roteiro fechado em estereótipos).
O filme é baseado no primeiro livro de James Dashner, muito
vendido nos EUA. Aliás, é uma tendência atual: os filmes dos grandes estúdios
seguem publicações dedicadas à juventude. Se nos casos de J.K. Rowlins e J.
Tolkien a produção livresca não se prende inteiramente ao sucesso editorial
(que é bastante grande), o conteúdo é discutível e isso não quer dizer que seja
só do filme. Não conheço o livro, mas não me parece possível que ele seja tão
diferente do que foi filmado a ponto de ganhar muito mais substancia. No fundo
é a mesma fórmula de criar ilhas de esperança num estado de caos.
“Maze Runner” encerra como um trailer do que virá dentro em
breve. O que não se sabe é se a rentabilidade do produto atual alicerça a ideia
de uma franquia. Isso depende do box
ofice (norte-americano) e o filme só agora está estreando em seu país de
origem, afinal, o que pesa em termos de comercialização.
A porfia por enredos que pregam o fim dos tempos e os jovens
como vitimas ou salvadores da pátria merece uma abordagem mais densa.
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