As habilidades do doador de memórias. Entre Normas e afetos
Ultimamente o cinema vem se mostrando preocupado com o
futuro, admitindo sociedades fechadas como um adendo do que George Orwell
concebeu em “1984” romance que já apresentou duas versões no cinema.
Depois de “Jogos Vorazes” (The Hunger
Games), franquia iniciada em 2012, com um novo exemplar em 2013, outro em 2014
(e já finalizada uma edição para 2015), e, ainda, “Divergente” (Divergent,
2014), com possível sequência em espera, o tema olha o futuro do mundo com
divisão de classes e um domínio severo de mandantes em diversos países (que na
verdade não são especificados, ficando a ação num espaço que pode ser um estado
norte-americano).
“O Doador de Memorias” (The
Giver, EUA, 2014) vem de um livro de Lois Lowry e focaliza uma comunidade onde
as pessoas vivem o cotidiano de acordo com habilidades testadas e nomeadas por
uma guardiã (Meryl Streep). Para não serem alvos de memórias que mostrem
benesses do passado, todos são obrigados diariamente a se submeter a uma
injeção que lhes esvazia a mente. Dessa forma, eles não pensam em guerras, em
mentiras, em amarguras de qualquer tipo, sendo imunes a dor. Por outro lado,
não sabem o que é o amor, não fazem sexo (as crianças nascem de forma
laboratorial com uma seleção pós-nascimento que exclui as que pareçam fracas, e
não sintam inveja um do outro.
Logo no início se vê uma cerimônia de
despedida da infância onde muitos comparecem para receber os agradecimentos da
chefa por terem nascido. Trata-se, também de uma cerimônia de designação de
tarefas que os leva ás profissões. O enfoque maior é em Jonas (Brenton
Thwaites), encarregado de ser o receptor de memórias, como que filtrando o que
pensam seus pares. Para treinamento encontra o ancião mais conhecido como “The
Giver” (O Doador/Jeff Bridges). Ele é quem vai, por contato físico, apertando
as mãos do aprendiz, como se pensava antes, o que pode ser nocivo ao meio
atual. E afinal é quem vai mudar Jonas a ponto de preferir viver no mundo da
memória que começara a conhecer.
O filme começa engenhosamente em preto
e branco e vai ganhando cor a medida em que Jonas vai sabendo da memória dos
ancestrais. A “vida sem cor” é contestada inclusive quando o jovem começa a
gostar da colega Fiona (Odeya Rush). Ela e Asher (Cameron Monaghan) são amigos
de infância e parece muito natural que continuem apenas sempre amigos. Por
outro lado, num berçário que a jovem trabalha, Jonas simpatiza com um bebê que
um dos instrutores chama (e era proibido dar nome) de Gabriel ou Gabe (4 atores
representam o tipo : Alexander Jillings, James Jillings, Jordan Nicholas Smal e
Seige Fernandes, variando as idades de 3 a 12 meses). Fiona é encarregada de
selecionar os recém-nascidos mas no final da história Jonas acha que fugir da
comunidade levando consigo Gabriel é uma forma de fomentar a volta de uma sociedade
com memória, o que antes existia, embora “The Giver” mostre, em algumas
sessões, barbaridades que vão de uma caçada a um elefante às guerras diversas.
Basicamente o filme (e creio que o
livro, que não conheço) advoga a ideia de que o mundo cruel de hoje é, de
qualquer forma, melhor do que um mundo filtrado por algumas cabeças impondo uma
hegemonia que limita ou anula o livre-arbítrio. Ha quem pense numa apologia do
nazi-fascismo. Realmente dá para pensar nisso. A mandante é mulher, diferindo
do que se viu nos outros filmes semelhantes.
Impossível não refletir no nível
filosófico que o filme revela, ao avaliar a situação de um estado autoritário
onde a hegemonia se faz através de normas que são seguidas pela população ou
seja, há uma sociedade submetida ao estado que não questiona esse
comportamento, pelo contrário, está fascinada pela magia das coisas que vão
acontecer nas suas vidas. Por exemplo, as aspirações dos familiares de Jonas em
torno de sua tarefa profissional e ao ser encarregado do capturar a memória da
comunidade é visto como exemplar.
Outro ponto que emerge é o fato de a
aparente paz conseguida pela obediência às normas do bem viver ser definida,
nos bastidores, por um nível de violência. A exemplo, Jonas quebra as regras e
a mandatária impõe ao maior amigo dele eliminá-lo. Facetas fascistas repercutem
no horizonte de calmaria e sincronia desse novo mundo.
Luzia essas adaptações de livros voltados para o público jovem term atraido par ao cinema uma turma que por diversas razões estavam afastadas da tel grande, Isso par amim é excelente
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