Robert Duval e Robert Downey Jr. em "O Juiz".
São muitos os chamados “filmes de
tribunal”, alguns inseridos entre os clássicos da cinematografia como “12
Homens e Uma Sentença” (de Sidney Lumet, 1957) e “Testemunha de Acusação” (de
Billy Wilder, 1957). As informações sobre “O Juiz” (The Judge, EUA, 2014) é que
este seria mais um título desse gênero, ou subgênero. Na realidade não é bem
isso. Focando um advogado de cidade grande que em meio a uma causa deixa tudo
para ir ao enterro da mãe numa cidade do interior, o que se vê é o confronto
dele com o pai, o juiz da localidade, de quem não possui boas lembranças por
relações conflituosas, a culminar com o fato deste, portador de doença
incurável, atropelar uma pessoa sem socorrê-la e ser incriminado, posto que o
sangue da vítima ficou na lataria do carro (e hoje o exame de DNA não deixa
dúvida). O filho advogado acaba sendo guinado a defender o velho pai.
O
roteiro de Nick Shenk e Bill Dubuque serve à primeira produção da firma Team
Downey cujos proprietários são o ator Robert Downey Jr. e sua esposa Susan.
Foi, aliás, a forma de Downey fugir de papéis de super-herói em superproduções
como “Homem de Ferro” (e mesmo Sherlock Holmes), alertando ao público que
também pode estar presente em dramas densos como esteve em “Chaplin”(1992)
indicado a candidato ao Oscar. Aliás, “O Juiz” tende a ser trampolim para o
ator, no protagonismo do bem sucedido advogado, Hank Palmer, arriscando uma
candidatura ao próximo premio da Academia de Hollywood. Mas o bom dessa ambição
é que a seu lado está o veterano Robert Duvall (83 anos dizendo-se no filme
como 72), já premiado por “A Força do Carinho” (Tender Mercies, 1983) de Bruce
Beresford. Este apresenta um trabalho a ficar nas antologias. Há momentos, como
numa sequencia em que o velho pai e também juiz, sofre uma crise de sua doença
em um banheiro, sendo socorrido pelo filho, de forma dramática, inegavelmente
marcantes.
A
historia vem do diretor David Dobkin, conhecido por comédias como “Penetras Bom
de Bico” (Wedding Crashers/2005) e um dos roteiristas, Nick Schenk . Pode-se
comentar que há desníveis percebíveis na hesitação entre um drama introspectivo
e um exemplo de “filme de tribunal”. Não resta dúvida de que uma preocupação
com o potencial mercadológico do produto (filme comercial) diminua uma das
pretensões. Em duas e horas e meia fica um hibrido entre a abordagem no
comportamento de tipos, especialmente de pai e filho (ou de advogado e réu, que
também é pai e juiz) e a estrutura psicológica dos personagens. Só não é mais
profunda essa distonia pelo desempenho dos atores. Especialmente Duvall,
compondo o enérgico e veterano juiz de uma pequena comunidade. Ele e sua prole,
a esposa – capturada de imagens de filmes de família - um filho mais
velho, casado, com filhos (Vincente D’Onofrio) e um mais novo, em parte, deficiente (Jeremy Strong) –
deixam no meio (até na concepção dramática) o distante Hank (Downey Jr). Um
momento a premiar.
Talvez
no roteiro não coubessem informações paralelas como o divorcio em andamento de
Hank e o seu romance antigo com uma garçonete de bar na cidade natal (Vera
Farmiga). Há inclusive uma hipótese de ele ser pai de uma filha dela, com quem
andou se beijando ao voltar para casa. Por outro lado, um desses enfoques dá
margem ao bom momento em que Joseph (Duvall) vê pela primeira vez a sua neta
Lauren (Emma Tremblay). O pai da menina (Hank/Downey) previne-a de que o avô
tem gênio “difícil”, mas o encontro surge carinhoso, com o velho juiz mostrando
o outro lado do afeto que o filho não conhecia (mais um bom momento de Duvall).
Apesar
de defender a postura de um trabalho sobre relações familiares, especialmente
atendendo ao molde das personalidades de filho e pai, ambos profissionais de
Direito, “O Juiz” arrisca ser mais, inclusive deixando o espectador em suspense
para saber o veredito do caso do ancião atropelador, haja vista que o caso se
torna mais grave com a insinuação do promotor (Billy Bob Thorton) de que
houvera premeditação no acidente, haja vista ser a vítima um antigo inimigo do
juiz. Com tantos elementos, a longa projeção não cansa. Certamente o objetivo
da produção que se ariscaria no mercado com maior apoio na estrutura de
personagens.
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