sexta-feira, 10 de outubro de 2014

SIN CITY 2, A MULHER FATAL





Desconheço a real motivação de Roberto Rodriguez (“O Mariachi”, “Machete”) filmando a “graphic novel” de Frank Miller exibir por quase duas horas sequencias graficamente trabalhadas de sexo, violência (tudo explicito), detalhes de assassinatos, personagens tresloucados, um mundo sombrio onde só o bizarro é eleito. Desde o início sua opção foi seguir essa linha. 
“Sin City 2, A Mulher Fatal” (Sin City, A Dame to Kill For/EUA,2014), para alguns críticos, traduz o que hoje está sendo estudado como filme neo-noir que segundo o autor e fotógrafo aclamado internacionalmente Robert Arnett “ é um estilo que se “tornou tão amorfo como um gênero / movimento, qualquer filme com um detetive ou um crime qualificado”. "Sin City..." é construído em capítulos intercalando-se diferentes histórias e seus personagens, com os atores que os representam: “Just Another Saturday Night” tem Mickey Rourke  (Marv) vagando à noite pela cidade. Em “The Long Bad Night” é Joseph Gordon-Levitt (Johnny), mais Powers Boothe (Senator Roark), Julia Garner (Marcy), Christopher Lloyd (Kroenig), Jude Cicolella (Lieutenant Liebowitz) e Lady Gaga (Bertha) atormentados por uma vingança. “A Dame to Kill For” mostra Josh Brolin (Dwight McCarthy), Eva Green (Ava Lord), Dennis Haysbert (Manute), Christopher Meloni (Mort), Rosario Dawson (Gail), Ray Liotta (Joey), Juno Temple (Sally), Jeremy Piven (Bob), Stacey Keach (Wallenquist), Jaime King (Goldie), Marton Csokas (Damien Lord)e Jamie Chung (Miho) entre ciclos de matança. E em “Nancy’s Last Dance” é Jessica Alba (Nancy Callahan) e Bruce Willis (John Hartigan) entre amor e ódio com direito a facadas.
O filme segue duas das primeiras histórias do “Sin City” de 2005, da mesma dupla (o diretor de cinema e o desenhista) - “A Dama Fatal” e Just Another Saturday Night”, e mais dois contos originais criados para o novo filme. A meta era transpor a estética dos quadrinhos ao gênero “neo noir”, aumentando o que se sugeria em termos de violência e aproveitando a atual liberdade de expressão para mostrar as personagens desnudas ou imitando o ato sexual.
O interesse do filme é captar a plasticidade dos quadrinhos originais. Filmado em preto e branco, e agora em 3D, assume a iluminação que dosa o claro e escuro lembrando a linha expressionista (não chega ao caligarismo, pois a alternância de tons é gratuita, sem a pretensa fantasmagoria dos filmes alemães que inauguraram o gênero em cinema seguindo a pintura). A primeira parte já exibe a iluminação bem detalhada que de qualquer maneira ajuda na trama do personagem que sofreu torturas e segue numa missão de vingança. Ruas, prédios, detalhes de lugares dão margem ao adjetivo que designou um tipo de filme: “noir” (André Bazin chamou assim os policiais que preferiam a ação na penumbra para reforçar o mistério procurado pela câmera). Mas se o noir é sutil, como mostrou John Huston no clássico “The Maltese Falcon” (no Brasil “Reliquia Macabra”), nos dois “Sin City” é uma posição estilística, usando a opção para reforçar o macabro. Isto já se percebe no segundo episódio da narrativa e Rodriguez seguindo o falecido Miller mostra que a aventura policial é irmã da fantasmagoria de um Nosferatu de Murnau. Nesse ponto há uma controvérsia: o “filme noir” não é obrigatoriamente um filme de terror. Pergunta-se: o neo-noir assume essa outra expressão? Murnau, ao realizar “Aurora” (Sunrise/1927) usou o claro e escuro na forma de um romance, com até mesmo licença cômica (a sequência da festa em que um participante passa a suspender o decote do vestido de uma dama cuja alça no ombro teima em cair). Em “Sin City” (que quer dizer “Cidade do Pecado”), a alternância de claro e escuro serve também para reforçar a expressão estética de violência. As duas mulheres vingadoras lutam e matam como seus ancestrais masculinos de tantos filmes machistas do passado. Para reforçar a fúria sanguinária desses tipos usa-se a sombra por sobre corpos e espaços ao redor. Na 3D fica mais evidente o aspecto plástico. E é isso que Frank Miller quis nos desenhos. Rodriguez tentou obedecer o estilo. Quem pergunta a motivação de tantas cenas agressivas sai do programa. Ou da plateia.


Nenhum comentário:

Postar um comentário