Annabelle, a boneca endiabrada.
Os filmes de terror sempre ganharam espaço na indústria cinematográfica
levando-se em conta que as plateias gostam desse gênero e sintonizam com os sustos.
Pode-se comparar com aquelas visitas a brinquedos de parque de diversão tipo
“Trem Fantasma” ou “Gruta Misteriosa”. O visitante sabe que tudo é fantasia,
mas se assusta quando surge um esqueleto à sua frente.
Quem teve bom desempenho com o gênero foi o expressionismo alemão. O
diretor Robert Wiene (1873-1938) ganhou fama com “O Gabinete do dr Caligari”,
em 1919, embora o crédito seja historicamente devido a Carl Meyer (1894-1944),
escritor judeu que trabalhou com F. W. Murnau em “A Última Gargalhada” (1924) e
“Aurora” (1927). Ele escreveu “O Gabinete do dr,Caligari” para o teatro, por
ser um perfeccionista trabalhava lentamente e por isso entrava em conflito com
os financiadores de filmes.
No inicio do cinema sonoro os títulos da Companhia Universal ganharam a
simpatia das plateias e seus filmes como Dracula, Lobisomem e outros monstros
vindos da literatura chegaram aos ingleses nos anos sessenta com a produção da
Hammer Films, os melhores títulos dirigidos por Terence Fisher (1904-1980). Hoje
o terror está em muitas produções que lembram por seu baixo orçamento as
criações do diretor William Castle (1914-1977) nos anos 1950.
O filme “Anabelle” (EUA, 2014) que está fazendo tanto sucesso de publico
nas salas aonde se acha em exibição, podia ser assinado por Castle, mas é um
filme de John R. Leonetti, diretor de fotografia do recente “Invocação do Mal” (de
James Wan), com suficiente tirocínio para fazer valer todos os clichês do
gênero. E desde os primeiros planos se encontram esses elementos: um casal
jovem, ela bonita e grávida, chegam a uma bela casa onde moram, em meio a
enlevos românticos. No quarto de trabalho onde costura, a jovem enfeitou de
bonecas de todos os tamanhos, seu “hobby”. Certo dia seu marido chega em casa
com uma grande caixa onde a esposa encontra a boneca de seus sonhos, que ele dá
de presente antecipado a ela. Uma noite, o casal ouve brigas na casa de seus
vizinhos e o marido vai verificar. Chega assustado, chama a polícia, mas os
invasores já estão em sua casa onde agridem e esfaqueiam a mulher. Os
assaltantes morrem pelas balas da polícia, os agredidos são levados ao
hospital.
Obviamente a boneca participa desse encontro violento posto que na
montagem ela é focalizada em planos próximos entre as cenas. O marido chega a
jogar a boneca na lata do lixo haja vista as marcas de sangue na roupa da
mesma. E é natural que eles se mudem para um apartamento, as situações aterrorizantes
segue nesta mudança, inclusive pela volta da boneca (a Anabellle do titulo, por
sinal protagonista de “Invocação do Mal”) com uma nova fonte de temor: a
presença da criança que nasce e muitas vezes é deixada no berço pela mãe que
vai a outros afazeres.
O que o filme difere do comum do gênero é a menor participação dos
artifícios de linguagem, como os acordes em momentos de tensão e os relâmpagos
em meio a tempestades que reforçam o quadro de isolamento das personagens
(mesmo dentro de casa). O diretor mostra competência no arranjo do material
disponível e ainda utiliza muito bem o uso da arquitetura dos planos como o corredor
do apartamento onde a profundidade de campo funciona ao mostrar a mãe ao longe
procurando a filha que de repente sumiu do berço. E outras sequências nessa
linha.
“Anabelle” é um exemplo de filme comercial em que os produtores estimam
lucro. Tanto que sugere uma sequência quando se vê a boneca sendo
comprada por outra pessoa. Estranho é que a tal boneca “renasce”
sistematicamente, na narrativa, supostamente envolvida em situações que
demonstram ser ela receptora de uma entidade do mal. Mas em se tratando de
objeto de terror uma “ressurreição” é sempre possível.
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