O ator Ellar Coltrane em três fases da realização do filme "Boyhood".
Causa admiração a filmagem sistemática da evolução física e
psicológica de uma pessoa, acompanhando-a durante 12 anos. Este foi o propósito
do cineasta Richard Linklater, texano de 54 anos, cujo currículo revela a
realização de 25 filmes como diretor, 16 como escritor, 10 como ator, 14 como
produtor e 3 como diretor de fotografia.
A realização de “Boyhood - Da Infância a Juventude” (Boyhood
EUA, 2014) se deu a partir de quando o ator convidado, Ellar Coltrane, tivesse
10 anos (no filme 8). Isto não impediu que o garoto (e rapaz) atuasse, no meio
tempo em que estava protagonizando esse filme, em algumas outras produções como:
“Halletsville”, “Nação Fast-Food, Uma Rede de Corrupção”(Fast Food Nation), ”Faith
& Bullets” e “Dinheiro é Má Companhia” (Lone Star State of Mind). De igual
modo Richard Linklater se manteve em atividades, criando e realizando a
trilogia de grande sucesso “Antes do Amanhacer”, “Antes da Meia Noite” e “Antes
do Por do Sol” (de 1995 a 2004).
A técnica foi filmar segmentos seguindo um roteriro que
especificasse o que importa na ascensão do menino à idade adulta. Tudo seria
muito simples como focar suas brincadeiras infantis, seus colegas, seu primeiro
flerte (e beijo) e sua estreia sexual. O diretor também utilizou o talento da
filha Lorelei, hoje com 20 anos, mas no inicio do filme, com apenas 10 (é bom
lembrar que a filmagem começou em 1999). No meio tempo ela atuou em “Waking
Life” e em um curtametragem para a TV, intitulado “The Substitute”. Em
entrevista, o pai cineasta conta que com ela houve problema no meio do caminho,
visto que a garota queria desistir da sua atuação (é a Samantha) no filme o que
obrigou a diminuir a participação dela na historia onde protagoniza a irmã do
ator principal no argumento (Mason).
Note-se que os outros atores também seguiram suas atividades
de atuação em outros filmes, intercalando nas filmagens de “Boyhood”. A atriz Patricia
Arquette, que interpreta a mãe das crianças/jovens, esteve presente em 11
filmes, além das séries de TV como “Medium” (Canal Universal). Curioso é que
Ethan Hawke que protagoniza o pai biológico de Mason e Samantha esteve com
Richard Linklater nos 3 filmes sobre o tema dos encontros pontuados pelo sol (a
série começada com “Antes do Amanhecer”) sempre parceiro da atriz Julie Delpy. E
ele atuou tambem em muitas outras produções, inclusive esteve presente no “canto
de cisne” do diretor Sidney Lumet, “Antes que o Diabo Saiba que V. Está Morto” (2007).
“Boyhood” apesar de
ter sido realizado num contínuum com recorte temporal mantém uma simplicidade
cativante. Não há sequencias “de choque” nem a música estimula momentos
dramáticos. É a “vida que corre” e a pontuação encontrada para isso é os
cabelos de Mason, cortados por um padrasto cruel e lentamente ressurgindo com o
passar dos meses.
O feito do diretor exibe uma realidade que escapa de
qualquer projeto de pretensão realista que se tenha levado ao cinema com a perspectiva
de avançar no tempo. O que se vê é o que existe. E não se exibe nenhum
resquício fotográfico que implique num intervalo de ação. É como se o tempo
fluísse como disposto numa horizontalidade nova em cinema.
“Boyhood” surpreende e apesar de longo (mais de 160 minutos
de projeção) cativa, a ponto de emocionar. Embora previsto para exibição pelos
que acessam os sites da Cinépolis e Moviecon, infelizmente não foi programado
para as nossas salas neste final de semana, embora tenha ganhado cinemas de
outros estados. Lastimável.
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