Hana no ato, Depois das Flores, o filme de Kenji Nakanishi
Dizia-se
que os filmes de Akira Kurosawa (1910-1998), os que revelaram o cinema japonês
no ocidente depois do premio em Veneza para “Rashomon” (1950) não eram
considerados, pelos japoneses, como característicos de sua cultura. Mais tarde,
conhecendo as obras de Yasujiro Ozu (1903-1963), de Kenji Mizoguchi (
1898-1956), de Kaneto Shindo (1912-2012) e outros diretores, fomos aprendendo
que, de fato, há um outro lado do cinema nipônico. Mesmo assim, os filmes
desses cineastas renomados, com prêmios em festivais, carregavam um apego
universal, ganhando fácil exportação e consequente mercado. Se é possível
considerar “um filme bem japonês” seria como este “Depois da Flor” que está
entrando em cartaz no cinema Olympia, através da Embaixada do Japão.
“Hana no ato” (Depois das Flores, Japão, 2009) faz parte de uma
trilogia do escritor Fujisawa Shuhei (1927-1997) que privilegiava a ficção
histórica, já tendo sido abordada pelo cinema. O filme dirigido por Kenji
Nakanishi trata de Ito (Keike Kitagawa), a personagem principal, contando a sua
historia para a neta. Desde criança ela fora estimulada a usar espada pelo pai
e, na idade adulta, conhece um samurai que acredita em sua eficiência como
espadachim, uma raridade à época em que a mulher era relegada a trabalhos domésticos
a serviço de seu “amo” (marido ou genitor). Esse reconhecimento leva a jovem a
se apaixonar pelo estranho. Mas ela está prometida em casamento para outro
samurai e no decorrer do tempo sabe que seu amigo de antes havia se suicidado
em consequência de uma intriga com familiares. Decide vingar esta morte e
enfrenta hábeis espadachins. Mesmo demonstrando o papel não estratificado da
mulher, o final revela Ito compreensiva aos mandos paternos e observando as
flores de cerejeira que teimam não cair (uma metáfora de que as mudanças da
hábil lutadora não implicam numa mulher-samurai). Nesse caso, há coerência em
abordar essa questão, pois, sabe-se que a cultura japonesa mantém uma
representação patriarcal difícil de fugir àqueles ditames já ultrapassados. Contudo,
se há reconhecimento entre os costumes da cultura dos antepassados, muitas das
regras nas relações entre os gêneros que o ocidente tem demonstrado avanço, não
seria possível encontrar nessa cultura. Seguir as normas dos antepassados é
manter o fortalecimento da tradição e sabe-se que esta é uma regra fortemente
cultivada.
Imagens belas e lutas esmeradas fazem do filme um espetáculo
para os olhos. A beleza plástica está acima do conteúdo que poderia ser
mostrado como incitante ou renovador se fosse essa a proposta. Não conhecendo a
trilogia que afirmam ser a base da historia, “Depois da Flor” é, primeiramente,
um filme japonês fora dos limites estéticos endereçados a países distantes.
Seria este o exemplo de cinema típico que reclamavam os que viam comercialismo
em Kurosawa.
Impressiona,
sobremodo, as sequencias de luta. Com uma edição que deixa planos sucessivos de
ângulos diferentes há ritmo e consegue a analogia com o balé, afinal, a magia
formal de um gênero dramático. Crédito para Yishiyuki Okuhara (editor), Katsumi
Kaeda (diretor de arte) e Tokusho Kikumura(fotografia). A leveza no desempenho
da personagem conduz o filme aquele momento de sublimação entre a magia dos
lances da luta marcial e a dança clássica japonesa.
O
filme esteveem cartaz no Olympia em distribuição da filmoteca do Consulado do
Japão. Diariamente (exceto 2ª) às 18h30 com entrada franca.
Em
tempo: o lançamento se prende a um trio de produções japonesas programado para
o cinema centenário de Belém. Depois do muito bom “O Chef do Polo Sul”, e deste
“Depois das Flores”, vai chegar a animação “Hoshi O Kodomo” ou, em inglês,
“Childern Who Chase Lost Voices”(Crianças que buscam Vozes Perdidas). Uma
amostra de que o gênero no Japão não se limita à genialidade de Hasao Myiasaki
(de “Chihiro”). Este um filme candidato a 3 prêmios internacionais e aplaudido
pela critica de muitos países. A coluna tratará dele por ocasião de seu
lançamento local.
ja na minha relação de melhores do ano.
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