Desenho do filme de Scola nos 20 anos de morte de Fellini
Ettore Scola (83 anos) estava afastado do cinema desde
2003 quando realizou “Gente di Roma”. Atendeu a pedidos para dedicar um longa
metragem ao seu amigo Federico Fellini (1930-1993). O resultado foi este “Que
Estranho Chamar-se Federico” (Che strano chiamarsi Federico, Itália, 2013) que
entre nós só chegou em DVD.
Scola foi contemporâneo de Fellini na revista “Marc’Aurelio”, de Florença, fazendo charges
(texto e caricatura), ao lado de outros que depois se juntariam a ele em
roteiros de cinema. Ele aborda essa época e segue com o colega já cineasta e a
sua própria incursão na arte & indústria do cinema. Os cinéfilos e amantes
de Fellini (como eu) esperavam ansiosamente o filme. Alguns, entretanto, se
decepcionaram. Entretanto, esse diretor avisou antes o que faria : "un piccolo ritratto di un grande personaggio".
A meu ver imperdoável no filme é a não citação mais
enfática sobre Giulietta Masina (1921-1994) esposa e companheira de trabalho
durante 50 anos do autor de “Amarcord”. Nas sequencias do período em que houve
o contato entre os dois – Scola e Fellini - o primeiro ainda tinha 17
anos. Mas se conheceu nesse período o Federico com outras namoradas (como é
mostrado em um plano do filme), o seguimento desse tempo deu lugar a Masina que
conviveu durante 50 anos com seu marido Fellini. Sem dúvida há planos de “La
Strada” onde Giulietta surge tocando corneta para um número circense do
saltimbanco Zampanô” (Anthony Quinn) e, rapidamente de “Ginger e Fred”(1986).
Mas não trata de “Julieta dos Espíritos” (Giulietta degli Spirit, 1965) que
Fellini criou para ela depois de realizar o seu “Oito e Meio”(Otto i Mezzo,
1964), dizendo-se ser esse filme, uma retratação das “escapadas” que dava com
outras mulheres. Scola não usa também momentos de “A Trapaça”(Il Bidone, 1955).
E a cinebiografia também deixa muito a desejar. Não
trata com o destaque que lhe deu o mundo inteiro o clássico “La Dolce Vita”.
Nem cita “Entrevista” (1987), no caso, Fellini falando de Fellini, como, aliás,
pouca importância dá a “Roma” (1972), já um filme-memória, seguindo
aproximadamente “Amarcord” (1973) por sua vez o que seria “Moraldo in Cittá”
filme que continuaria “Os Boas Vidas”(I Vitelloni/1953) mostrando como o
personagem interpretado por Franco Interlenghi viveria na capital italiana depois
de deixar a sua cidade natal (Rimini).
Fiquei com a impressão que conhecia mais de Fellini
do que Scola.
O filme foi produzido a pedidos das filhas do
diretor, Paola e Silvia Scola. Consta que ele não queria mais fazer cinema. No
seu amarcord pousado no colega usou pelo menos uma cena de seu melhor trabalho:
“Nos que nos Amávamos Tanto...”(C’ Eravamo Tanto Amati, 1974).
Quem aprecia Scola sente que “...Estranho chamar-se
Federico” é obra de encomenda. O final é que me pareceu interessante: quando focalizado
o enterro de Fellini vê-se o corpo sair do caixão e correr pelas ruas,
perseguido por dois guardas. Acabaria defronte da praia como se observa no
começo. Por ali, à beira mar, por suposto, um “vitelloni” (boa vida) veria
desfilar suas personagens (começo do filme).
Espero que Ettore Scola não se despeça do cinema com este
trabalho. Autor de 89 roteiros e 41 filmes como diretor, ele é lembrado não só
por “Nos que nos amávamos...” como por “Um Dia Muito Especial” (Una Giornata
Particolare, 1977), “O Baile” (Le Bal, 1983) e “Splendor”, 1989, entre outros.
Observo que ainda falta muito para o cinéfilo completar
sua coleção de filmes em DVD de Scola e mesmo de Fellini. Deste último sente-se
falta de seu “canto de cisne”, o polemico “A Voz da Lua” (Voci della luna.
1990). Esse filme circulou em fita VHS, mas as distribuidoras em DVD ainda não
se lembraram da copiagem do filme nessa nova tecnologia, e creio que merecia
ser reestudado.
De Scola faltam pelo menos 26 dos 41 trabalhos na
direção (se contar os de roteiro, a soma é bem maior). Mas há esperança que as
distribuidoras brasileiras se lembrem do cineasta. Ele representa, com alguns
outros, o excelente cinema italiano da fase pós-neorrealismo.
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