Benedict Cumberbatch, Keira Knightley e demais parceiros do filme.
Alan
Mathison Turing, matemático, lógico, criptoanalista e cientista britânico é
considerado um dos precursores da invenção dos computadores. Durante a 2ª
Guerra Mundial foi convocado a desvendar o segredo da senha
Enigma do nazismo, responsável por missões bélicas fatais a navios aliados.
Muitos foram céticos diante das investidas minuciosas e demoradas de Turing,
mas ele conseguiu decodificar o Enigma e isto foi considerado como um fator
importante no avanço inglês contra os alemães. É o que diz a História e
acrescenta o fato de um processo contra esse inventor quando foi revelada a sua
homossexualidade (opção proibida pelas leis inglesas por décadas).
O
filme “Jogo da Imitação” (Imitation Game, UK, EUA,2014) biografa o personagem
de forma tradicional, seguindo a linha narrativa de muitas cinebiografias como
as de Zola, Pasteur, Marie Curie, Gaham Bell etc. Isto vale dizer que o filme é
intrinsecamente popular, ganhando a simpatia da indústria e certamente uma das
causas de estar concorrendo a 5 Oscar, inclusive os de melhor filme, diretor,
ator e roteiro,
Um
fator salta bem forte no sucesso de “Jogo...”: o desempenho de Benedict
Cumberbatch. O ator já é veterano, com 50 filmes no currículo (incluindo-se
séries de TV), mas sempre em papeis secundários. Agora ele se dedica ao
protagonismo do técnico que se propõe a desvendar um grande mistério que pode
decidir a guerra (embora se saiba que, historicamente, o fato não é bem assim e
houve mudanças na senha alemã depois de decifrado o Enigma pelos ingleses), e
repassa muito bem o preconceito que se apresentou à sua pessoa quando revelada
a sua homossexualidade, chegando a ser indiciado e quase preso pela policia
inglesa (só não foi por optar pelo “tratamento hormonal”, usado como um meio de
mudar a preferencia sexual do ser humano, uma aberração que chegou a ser
pensada em outros países e épocas inclusive aqui no Brasil há poucos meses).
Alan Turing suicidou-se, embora o fato ainda esteja sendo contestado.
O
desempenho do ator é um dos fatores que dinamizam o filme. E o roteiro de
Graham Moore com base no livro de Andrew Hodges deixa campo para a narrativa
artesanalmente correta do norueguês Morten Tyldun. Quem nunca ouviu falar do
personagem, nem o coloca entre os inventores do computador, ganha a informação
romântica de um homem inteligente e persistente no seu trabalho que chega a
pedir em casamento uma assistente do projeto em que atua, mesmo sabendo de sua
inclinação homoafetiva (e a narrativa deixa espaços de flashback revelando
isso), como motivação para que ela permaneça na sua equipe de trabalho.
O
filme delineia os tipos de forma que se pode chamar de tradicional em
cinebiografias. O comandante Denniston com desempenho do veterano ator Charles
Dance é visto como um homem intolerante que expõe a todo o momento sua
antipatia por Alan, o contratado para desvendar o segredo da senha Enigma
e afinal ganhando a confiança do ministro Winston Churchill a quem se dirige
quando as porta para seus inventos permanecem fechadas. Keira Knightley,
veterana de 52 titulos incluindo-se o romance baseado em Jane Austen (“Orgulho
e Preconceito”) acomoda-se na figura da jovem Joan Clarke, mulher inteligente
que busca um marido no companheiro de trabalho chegando a aceitar a sua
preferencia sexual.
Embora
se possa pensar que não há traços mais profundos na construção das figuras
históricas que se delineiam no filme, percebe-se, uma sequencia inicial em que
Alan sofre bulling na escola masculina onde estuda, sendo trancado em uma
espécie de urna sob o chão e deixado pelos colegas. Apenas um deles que se
tornará seu amigo pelo qual se apaixona tira-o daquela situação. Christopher
será o amigo querido por quem Alan se alia, embora este tenha falecido em um
período de férias e não retornando à escola. Esta sequencia se propõe a
retratar o humor acido do inventor e suas crises histéricas contra os membros
de sua equipe. Mas a linearidade da narrativa favorece a linha que o cinema
industrial aprecia desde a época dos “tycoons” ou donos de grandes estúdios
produtores. Mesmo assim é bom salientar que o filme está acima da média que se
exibe nos cinemas comerciais. Não o vejo como favorito de Oscar, mas nesse
ponto, surpresas fazem parte do jogo.
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