quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

O JOGO DA IMITAÇÃO



Benedict Cumberbatch, Keira Knightley e demais parceiros do filme. 

Alan Mathison Turing, matemático, lógico, criptoanalista e cientista britânico é considerado um dos precursores da invenção dos computadores. Durante a 2ª Guerra Mundial foi convocado a desvendar o segredo da senha Enigma do nazismo, responsável por missões bélicas fatais a navios aliados. Muitos foram céticos diante das investidas minuciosas e demoradas de Turing, mas ele conseguiu decodificar o Enigma e isto foi considerado como um fator importante no avanço inglês contra os alemães. É o que diz a História e acrescenta o fato de um processo contra esse inventor quando foi revelada a sua homossexualidade (opção proibida pelas leis inglesas por décadas).
O filme “Jogo da Imitação” (Imitation Game, UK, EUA,2014) biografa o personagem de forma tradicional, seguindo a linha narrativa de muitas cinebiografias como as de Zola, Pasteur, Marie Curie, Gaham Bell etc. Isto vale dizer que o filme é intrinsecamente popular, ganhando a simpatia da indústria e certamente uma das causas de estar concorrendo a 5 Oscar, inclusive os de melhor filme, diretor, ator e roteiro,
Um fator salta bem forte no sucesso de “Jogo...”: o desempenho de Benedict Cumberbatch. O ator já é veterano, com 50 filmes no currículo (incluindo-se séries de TV), mas sempre em papeis secundários. Agora ele se dedica ao protagonismo do técnico que se propõe a desvendar um grande mistério que pode decidir a guerra (embora se saiba que, historicamente, o fato não é bem assim e houve mudanças na senha alemã depois de decifrado o Enigma pelos ingleses), e repassa muito bem o preconceito que se apresentou à sua pessoa quando revelada a sua homossexualidade, chegando a ser indiciado e quase preso pela policia inglesa (só não foi por optar pelo “tratamento hormonal”, usado como um meio de mudar a preferencia sexual do ser humano, uma aberração que chegou a ser pensada em outros países e épocas inclusive aqui no Brasil há poucos meses). Alan Turing suicidou-se, embora o fato ainda esteja sendo contestado.
O desempenho do ator é um dos fatores que dinamizam o filme. E o roteiro de Graham Moore com base no livro de Andrew Hodges deixa campo para a narrativa artesanalmente correta do norueguês Morten Tyldun. Quem nunca ouviu falar do personagem, nem o coloca entre os inventores do computador, ganha a informação romântica de um homem inteligente e persistente no seu trabalho que chega a pedir em casamento uma assistente do projeto em que atua, mesmo sabendo de sua inclinação homoafetiva (e a narrativa deixa espaços de flashback revelando isso), como motivação para que ela permaneça na sua equipe de trabalho.
O filme delineia os tipos de forma que se pode chamar de tradicional em cinebiografias. O comandante Denniston com desempenho do veterano ator Charles Dance é visto como um homem intolerante que expõe a todo o momento sua antipatia por Alan, o contratado para desvendar o segredo da senha Enigma  e afinal ganhando a confiança do ministro Winston Churchill a quem se dirige quando as porta para seus inventos permanecem fechadas. Keira Knightley, veterana de 52 titulos incluindo-se o romance baseado em Jane Austen (“Orgulho e Preconceito”) acomoda-se na figura da jovem Joan Clarke, mulher inteligente que busca um marido no companheiro de trabalho chegando a aceitar a sua preferencia sexual.
Embora se possa pensar que não há traços mais profundos na construção das figuras históricas que se delineiam no filme, percebe-se, uma sequencia inicial em que Alan sofre bulling na escola masculina onde estuda, sendo trancado em uma espécie de urna sob o chão e deixado pelos colegas. Apenas um deles que se tornará seu amigo pelo qual se apaixona tira-o daquela situação. Christopher será o amigo querido por quem Alan se alia, embora este tenha falecido em um período de férias e não retornando à escola. Esta sequencia se propõe a retratar o humor acido do inventor e suas crises histéricas contra os membros de sua equipe. Mas a linearidade da narrativa favorece a linha que o cinema industrial aprecia desde a época dos “tycoons” ou donos de grandes estúdios produtores. Mesmo assim é bom salientar que o filme está acima da média que se exibe nos cinemas comerciais. Não o vejo como favorito de Oscar, mas nesse ponto, surpresas fazem parte do jogo.


Nenhum comentário:

Postar um comentário