"Carrinho de Trilhos" do diretor Hirofumi Kawaguchi
Raro
exemplo do cinema japonês que chega até nós é este "Carrinho de
Trilhos" (Torocco, Japão, 2009, 116 min.). Trata de Yumiko que acompanhada
de seus filhos Atsushi e Toki, viaja de Tokio até uma cidade ao sul de Taiwan
para entregar a seus sogros as cinzas de seu marido morto. Eles são recebidos
pelo avô que fala japonês e vive suspirando pela “terra do sol nascente”. O
irmão mais velho leva uma foto onde seu avô, ainda pequeno, aparece em um
carrinho de trilho. Como o avô não se lembra do local, os irmãos começam uma
busca para identificação do lugar aonde se acha trilho da foto. Quando
acham geram um suspense posto que a mãe pensa que eles desapareceram de casa e
podem ter sofrido algum acidente na mata próxima. A volta ao encontro dos
familiares é dramática, pois os meninos fazem o longo percurso a pé e pouco conhecem
a região. Um enredo derivado de um romance de Ryunosuke Akutagawa (1896-1927),
autor de “Rashomon” ( seu primeiro conto e o filme de Kurosawa que revelou ao
ocidente, em 1950, o cinema japonês). O diretor Hirofumi Kawaguchi é estreante.
Notabilizou-se como roteirista e no Festival de Montreal foi considerado como a
revelação do ano.
O
filme se propõe a mostrar pessoas solitárias, seja o velho avô, saudoso do
filho que chega em cinzas, mora com serviçais em um pequeno rancho. Seja também
a viúva que transporta as cinzas do marido e não se sente bem longe de sua terra
natal, e sejam os dois filhos dela, garotos que passam o tempo desenhando numa
mesa ou tentando dormir. Este quadro é interrompido quando os meninos seguem um
rapaz da vizinhança e acham o carro do trilho de que seus ancestrais falavam. O
encontro se faz na mata, em local de difícil acesso, e ao verem o carrinho os
meninos descobrem a diversão que lhes faltava: andar pelos trilhos até quando
isso fosse possível (a clara metáfora de percorrer um caminho quando não se tem
qualquer esperança de um rumo na vida).
O
toque humano, que alguns críticos acharam ser de melodrama, exibe
características de alguns mestres do cinema japonês como Ozu. Isto porque há
uma predileção em explorar os comportamentos das crianças e do idoso. Deste último
lembrei-me do homem do interior do Japão que visita o filho em Tóquio e
sente-se deslocado, ao lado da esposa, porque o rapaz, ora pai de família, não
lhe pode dar a devida atenção. O ator Liu Hong lembra o mesmo tipo.
Personagens
carismáticos por seus dramas, os tipos deste “Carrinho de Trilhos” dão ao
primeiro trabalho de seu diretor um quadro familiar que não se restringe a
Tawain ou mesmo ao Japão lembrado de forma saudosa por alguns figurantes. O
argumento pousa nos sentimentos das quatro pessoas (a mulher viúva, sogro solitário
e filhos menores) que vão se encontrar numa decisão depois de uma situação
dramática. Basicamente a história segue os meninos perdidos na mata, a aflição
da mãe e o comportamento do avô que, depois do suspense pelo destino dos netos
toma uma decisão com vistas ao seu próprio isolamento, mormente quando perde a esposa,
sua velha companheira.
Um
filme que nos chega de uma escola cinematográfica pouco conhecida, nestes
tempos em Belém (antes o CC-APCC tinha melhor acesso a esses filmes), visto que
hoje a produção oriental dificilmente se desloca das distribuidoras do sul e
sudeste para exibição entre nós. A realização capturou toda a aventura das
crianças em belas locações, considerando-se um exemplar excelente para um
cineasta estreante e capaz de manter as qualidades que deve ter o origina
literário.
“Carrinho
de Trilhos” estará no Cine Olympia em sessões regulares (18h30) com apoio do
Consulado Geral do Japão.
vale a pena dar uma olhada nesta produção japonesa , que através de uma família nipônica - taiwanesa tratar de política, diferenças culturais.
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