"Evereste" : lutando pela aventura e pela vida
A pergunta que não quer calar quando assistimos a “Evereste”(EUA,
UK, Islândia, 2015) : o que se leva uma pessoa ao interesse de arriscar a vida
na escalada de uma montanha onde sabe existir um clima inóspito capaz de matar
pela falta de oxigênio e o extremo frio (além das difíceis transposições entre
rochas íngremes e pedaços de gelo eterno)? Percebe-se que a sede do perigo faz
o jogo. Tanto que em 1966 existiam empresas que comercializavam escaladas,
pagando-se para subir montanhas mesmo com inexperiência em alpinismo e saúde
nem sempre boa.
O filme do finlandês Baltasar Kormakúr, ora em cartaz
internacional, reporta justamente a tarefa dos que se candidataram a escalar a
montanha mais alta do planeta no ano citado (1966). Sabe-se que o instrutor da
equipe, Rob Hall, interpretado por Jason Clarke, não sobreviveu ao desastre que
foi a missão, embora quase todos os membros tenham alcançado o objetivo (o
drama foi a descida). Mas outro intrépido montanhês (Josh Brolin) perdeu as
mãos e o nariz (congelados). Ao menos dois personagens ganham relevância no
fato de se abordar sua vida privada. O primeiro, chefe da missão deixa a esposa
grávida e com ela mantém contato por telefone até o último momento da situação
desesperada. Mostra a grande afeição familiar que inclusive ajuda-o a superar
os terríveis obstáculos a transpor. Beck Weathers(Brolin) passa pela memória os
momentos de grande afeição com a esposa e os dois filhos e dessa força retorna
sua energia e a sobrevivência desesperada. Os companheiros de jornada surgem em
poucos planos. O roteiro de William Nicholson e Simon Beaufoy desfaz o que
poderia dar mais interesse à trama desde que ao espectador fosse revelado mais
de cada um alpinista ou qualquer recurso que individualizasse tipos de quem só
se sabe quando morrem na região gelada. Mas esse despojamento tem o efeito de
desmontar o dramalhão que dai possa resultar.
“Evereste” realiza-se criando a dimensão geográfica do
ambiente da ação. Há um livro de Jon Krakauer escrito em 1997, que tratou o assunto, ao que
dizem, com muita propriedade. Até porque o autor conheceu alguns personagens. O
mesmo livro gerou um documentário filmado em média metragem e outro em curta.
Para o cinema, a produção de Hollywood (o filme é da Universal) pretendeu
estimular o visual. Para ser visto no processo IMAX (tela gigantesca) e em 3D,
registrando a grandeza e o consequente perigo que é atingir o cume da montanha
que se tem como o ponto mais alto da Terra.
De fato, o filme é um espetáculo visual. E desvia-se
dos chamados “filmes-catástrofes” por não perseguir um “happy end” nem colocar
em ação um inimigo poderoso além dos elementos de natureza. O que mais se
parece ao que escreveu a dupla Nicholson & Beuafoy é o que publicou James
Ramsey Ullman e que deu margem ao filme “Neve e Sangue” (The White Tower) de
1950 dirigido por Ted Tetzlaff (1903-1995) sobre a escalada do Monte Branco nos
Alpes Suíços. Mas neste exemplo o perigo iminente ameaçando tipos simpáticos
moldados na historia é privilégio da trama.
O que evidencia mesmo este “Evereste” é o visual, com
o esplendor do ambiente alternado por imagens digitais. A edição usou planos do
Nepal, onde fica a montanha, com algumas tomadas nas primeiras bases da
escalada, e ajustou essas tomadas com CGI, ou seja, fotografias do Everest ou
mesmo planos-conjunto de outros filmes.
É o tipo do programa para ser visto em 3D. Pena é que
em muitas salas locais a iluminação precária (lâmpadas com poucos lumens) desfaça
um pouco este prazer. Mesmo assim, é um exemplo de cinema-espetáculo, com o
bastante para se perguntar pelo desejo de tantos em enfrentar perigos de morte.
Mas é preciso dizer: o público sai do cinema angustiado pelas situações
mostradas.
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