Jack Nicholson é "Um estranho no Ninho" (1975) de Milos
Forman.
Baseado num livro
de Ken Kesey sobre um condenado que se faz passar por louco para evitar os trabalhos
pesados, “Um Estranho no Ninho” (One Flew on the Cukoo’s Nest, EUA, 1975) foi
aproveitado, primeiramente, numa peça de teatro. Kirk Douglas, entusiasta do
texto, produziu e atuou nos palcos, mas, para sua surpresa, foi um grande
fracasso comercial, com a peça ganhando pouco tempo em cartaz. Esse desgosto
levou Kirk a incentivar o filho Michael Douglas a entrar no projeto de levar o
assunto ao cinema e este se associou a Saul Zaentz (1921-2014), produtor
internacional que inclusive foi o produtor de “Brincando nos Campos do Senhor” (1991)
que Hector Babenco realizou na Amazônia. Eles procuraram um ator para o papel
principal e acharam o novato Jack Nicholson, logo preferido pelo diretor Milos
Forman (de “Amadeus”, 1984) a ponto de este conter a produção por sete meses
para que Nicholson finalizasse outro filme em que estava atuando.
O texto centra
sobre a figura do prisioneiro excentrico Rundle Patrick McMurphy que, para não
ficar na prisão, inventa uma suposta doença mental e vai parar num hospital
onde outras pessoas estão em tratamento, a maioria diagnosticada de esquizofrenia.
A representação de loucura de Rudle só
encontra oposição na enfermeira-chefe do local, Mildred Ratched (Louise
Fletcher) porque o novo interno se rebela contra as normas impostas pela
enfermeira estimulando os demais pacientes. O verdadeiro duelo entre os dois
exibe a diferença da sanidade mental com o que se tem por loucura (uma forma
comum de uma pessoa ser diagnosticada como doente mental). Mas há um preço para
a rebeldia.
Saul Zaentz e Michael Douglas visitaram
quatro hospitais diferentes até que encontraram um onde pudessem filmar. E a
equipe passou meses nesse hospital saindo apenas para as poucas tomadas em
exterior (feitas no final dos trabalhos por exigência de Forman).
Premiado varias vezes inclusive com cinco
principais Oscar (também Globo de Ouro, David de Donatello etc), o filme está
inscrito entre os clássicos básicos de Hollywood. Mas o coadjuvante Brad Dourif
que interpreta Billy Bibbit (embora tenha ganhado o Bafta inglês, na categoria),
ficou apenas na indicação das premiações do Oscar incorporando um paciente que
havia tentado se suicidar por varias vezes. Esse ator hoje tem 65 anos e ainda ativo,
tendo estado em filmes como “Padre” (2011), “O Senhor dos Anéis” (2002, 2003) e
muitas séries de TV (há cerca de quatro trabalhos dele a estrear).
O cinema mostrou por muitos anos a
figura do doente mental. Um clássico, “O Gabinete do Dr. Caligari” (1919) de
Robert Wiene, considerado o primeiro título famoso do movimento expressionista,
tratava justamente de uma conversa entre loucos num hospício. É fácil entender
que um bom ator persegue um papel de louco por dar-lhe margem a nuances de
interpretação. Jack Nicholson foi muito feliz em ter encontrado esta chance. E
seu melhor papel depois deste “estranho no ninho” foi do maníaco em “Melhor é
Impossível” (As Good as it best, 1997) de James L.Brooks. Não à toa o seu
segundo Oscar.
Nicholson não filma desde 2010 (“Como
Você Sabe”, How do you know) também de James L. Brooks. Há noticias de que o
ator está enfermo e ainda por isso a exibição agora de “Um Estranho no Ninho”,
na Sessão Cult do Cine Libero Luxardo, é em sua homenagem.
Note-se que o trabalho de Milos Forman
não é apenas o rendimento de um elenco. Há toda uma criação do ambiente
hospitalar específico, de como se comportam os internos, e como são tratados
(ou eram, nos anos 60-70). Pergunta-se: mudou alguma coisa nesse cenário muitas
vezes impositivo de diagnósticos devido a um determinado comportamento de
sujeitos considerados fora da norma social? Um filme de agrado geral. E que tem
um forte conteúdo crítico para debate. As regras sociais impostas estão aí.
Veja-se o “Estatuto da Família”.
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