James ‘Whitey’ Bulger (Johnny Depp) em "Aliança do Crime"
Baseado no
sucesso do livro de Dick Leher e Gerard O’Neill, “Aliança do Crime (Black Mass, EUA,
UK, 2015) explora a história do criminoso irlandês James ‘Whitey’ Bulger
(Johnny Depp) e de sua Winter Hill Gang, atuantes em Boston por duas
décadas – 1970-1980). Independente de ser irmão do Senador William ‘Billy’
Bulger (Benedict Cumberbatch) “Bug” se torna informante do FBI, devido à amizade
desde a infância com o agente John Connolly (Joel Edgerton), posto que o
objetivo de ambos é lutar contra a máfia italiana que controla o norte da
cidade. A parceria é realizada, mas o que emerge é a criação de um poder
pessoal de ambos cada qual em sua unidade de ação – o policial (Connolly) e o
criminoso (Bug/Deep), sem que haja uma real responsabilidade de ambos em
exterminar os criminosos. A sustentação da afinidade política é dada pelo não
importismo do Senador Billy Bulger (Cumbbernatch) aos desmandos do irmão.
Construído
em três tempos narrativos – o passado em flashback , o presente no enfoque do
tempo da investigação através dos interrogatórios e punição aos culpados cria as
fronteiras com o futuro evidenciando, nos créditos finais, os recursos
reveladores sobre o processo da máfia irlandesa e italiana - oferecendo, com isso, cenários de múltiplo
alcance – das sala ascéticas dos escritórios do FBI, a de interrogatório, às
ruelas escuras onde a guerra se dá.
O filme reflete
duas maneiras de comercialização: pela atuação de Depp, o único tipo
desenvolvido exemplarmente, e pela violência exacerbada com efeito simbólico,
mas também explícito. Teria apresentado um maior exercício dessa violência,
segundo informações, se tratasse o livro de Leher & O’Neill de uma forma
menos estereotipada, desligando-se de um compromisso industrial ou dando forma
a uma maneira mais expressiva quando apresenta os demais tipos que se tornam
apagados, salvo Edgerton e Cumberbatch (os demais atores são subutilizados como
Kevim Bacon, Peter Sarsgaard e Adam Scoth). Mesmo assim, “Aliança do Crime”
mostra assassinatos como poucas vezes se vê em cinema, especialmente de
Hollywood. Mas o simbólico de uma carga de intersubjetividade que evidencio se
dá com certa sutileza ao menos em três atitudes cotidianas de James Bulger/Deep:
a instrução que dá ao filho (nas poucas horas que o visita) para se defender do
bulling na escola; a reação contra o parceiro a quem solicita uma receita culinária
que é segredo de família e este revela; e a atitude questionadora sobre a ausência
da esposa do amigo na hora do jantar. Estas menções se tornam nuances do
caráter do gangster que não se vale só do efeito físico da violência praticada
mas das entrelinhas que apontam para um caráter perverso que definem seu tipo.
Interessante essa abordagem.
A empresa
detentora dos créditos da distribuição, a Warner, certamente pensou que seu
novo produto tem a ver com o ciclo que lançou nos anos 30/40 do século XX e que
se conhece como “filmes de gangster”. Reinou nessa fase atores como James
Cagney, Humphrey Bogart, John Grafield e diretores como Michael Curtiz, Raoul
Walsh e Joseph Pevney. Procede a expectativa e mesmo porque seria mais
“realista” o modo de tratar agora crimes e criminosos sem a preocupação de
censura como o Código Hays que norteava a produção de Hollywood de antes da 2ª Guerra
Mundial. Afinal hoje é possível filmar sangue jorrando de ferimentos. Antes
isso era proibido. Os alvos caiam por terra sem derramar uma gota de liquido
vermelho de seus hipotéticos ferimentos.
Também é
nuançada uma critica politica. O senador ligado a mafiosos e mafiosos com raio
de alcance nas esferas governamentais pode não ser novidade, mas é mais
evidente no roteiro.
Enfim o
filme é de Johnny Depp e é ele quem arranha candidatura ao próximo Oscar.
Maquilado de forma a se tornar muito diferente da imagem que deixou em muitos
filmes, o ator esforça-se para ser visto como o tipo cruel que nunca antes
experimentara viver. Por ele o trabalho do diretor Scott Cooper merece crédito.
Embora o roteiro deixe em aberto muitos flashbacks que interrompem a narrativa
e com isso uma linha emocional, o resultado está acima da média. Copper, aliás,
só é conhecido por “Coração Louco” (Crazy Heart, 2009) pelo qual ganhou dois
Oscar. No seu currículo há mais títulos como ator (14) e desse grupo nada que o
enalteça.
Embora “Aliança
do Crime” não seja um filme extraordinário vale a pena assisti-lo.
Como sempre, aprendo mais depois de ler seu comentário.
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