Imagem do filme sobre os 33 mineiros soterrados na mina San Jose , no Chile
Em 5 de agosto de 2010, trabalhadores da
mina San José com exploração de cobre e ouro, em Copiapó, no deserto de Atacama
(Chile) ficaram soterrados quando aconteceu um desmoronamento. Numa
profundidade estimada em 688 metros de profundidade eles repararam que uma
escada de emergência tinha desaparecido com os escombros e só restava um
pequeno espaço para sobreviverem até que os patrões providenciassem a busca de
meios para tirá-los dali.
O filme “Os 33” (Los 33, Chile/EUA,
2015, 120 min.) dirigido pela mexicana Patricia Riggen baseia-se no livro do
jornalista norte-americano Hector Tobar, narrando a odisseia dos mineiros que
permaneceram 69 dias nas profundezas da montanha, tentando resistir, com
restrição de comida e água, além de tentarem manter as baterias dos meios de
iluminação, seja dos capacetes que usavam seja dos spots no espaço que estava
dedicado aos intervalos de jornadas e sobrevivência em caso de acidente.
O roteiro de Mikko Alane, Craig Borten,
José Rivera e Michael Thomas foi o grande problema da adaptação do livro de
Tobar (por sua vez já esquematizando os fatos). A empresa de Hollywood 20th
Century Fox adquiriu os direitos de filmagem e começou exigindo as falas em
inglês alegando a comercialização nos EUA. A diretora achou por bem colocar seu
elenco falando com um sotaque como os personagens dos westerns ou os hispanos
de filmes de aventuras. Se isso apresentou um tom ridículo também sobraram
algumas anedotas dentro e fora da mina, seja o caso da esposa e da amante de um
dos soterrados que teriam de se dar as mãos na torcida pela sobrevivência do
amado, seja alguns gracejos contados no recinto dos mineiros, algumas
absolutamente improváveis no ambiente aonde todos viviam apavorados com a morte
lenta no lugar onde as tentativas de salvação dependiam unicamente de quem
estava em terra firme.
Há sequencias verdadeiras incluídas no
trabalho ora em cartaz nacional. O caso das transmissões de TV e algumas cenas
do acampamento que se formou nas vizinhanças da mina onde os familiares dos
soterrados, depois a imprensa em geral, permaneceram acompanhando as tentativas
de resgate. E é nestas tentativas que reside o suspense ainda preservado na
apreciação do filme, mesmo sabendo-se como as coisas vão acontecer.
“Os 33” consegue ser, apesar de usar
algum modelo de cinema norte-americano, um filme intenso onde a ação se modula pela eficiente montagem a partir de planos
tomados em câmera manual e uma bem equilibrada iluminação responsabilidade do
fotografo Checco Varese. Mas não consegue individualizar algumas personagens
como os autores pretendiam. O líder do grupo, interpretado por Antonio
Banderas, pouco é delineado a se reconhecer sua importância antes de uma
resolução no espaço de sobrevida. Do lado de fora da mina, há tipos como o de
Maria (Juliette Binoche), mulher que espera o irmão mesmo com certa animosidade
entre eles, passam em poucas tomadas. Chega a surpreender Juliette em papel tão
pequeno longe de sua pátria (e ela atuou também no blockbuster “Godzilla” do
ano passado).
Há certas evidencias que mostram o
interesse norte-americano de comercializar o produto. Primeiramente, a língua falada
é a inglesa e alguns vão considerar que a diversidade de atores converge para
essa decisão. Nesse caso, observa-se ainda que entre os principais personagens não
houve indicação de um ator chileno (será que não existem bons atores nesse país?)
e até o nosso Rodrigo Santoro ensaia um estereótipo que leva o drama dos
mineiros à dimensão política e se sobressai nessa atuação representando a única
pessoa do governo do presidente Sebastian Piñera a manter o objetivo de tirar
os 33 soterrados do local, uma vez que o Ministério de Minas considera um caso
encerrado já nos primeiros dias do acidente. Mas em 27 de agosto é criado a Superintendência de
Minas.
Acima da média dos lançamentos locais,
“Os 33”, embora nada acrescente ao que se sabe de um fato amplamente divulgado
em um tempo, merece ser visto. E fica no espectador um caso de consciência ao
saber por legendas que os homens que por pouco não morreram em serviço não
foram indenizados (e certamente perderam o emprego, pois a mina fechou). Eles
aparecem no final da projeção festejando estarem vivos e se dizendo sempre
irmãos. Como conseguem manter um padrão dessa vida é a duvida. Os patrões
mostram-se “bem, obrigado”.
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