quinta-feira, 5 de novembro de 2015

OS 33 - O FILME




Imagem do filme sobre os 33 mineiros soterrados na mina San Jose , no Chile

Em 5 de agosto de 2010, trabalhadores da mina San José com exploração de cobre e ouro, em Copiapó, no deserto de Atacama (Chile) ficaram soterrados quando aconteceu um desmoronamento. Numa profundidade estimada em 688 metros de profundidade eles repararam que uma escada de emergência tinha desaparecido com os escombros e só restava um pequeno espaço para sobreviverem até que os patrões providenciassem a busca de meios para tirá-los dali.
O filme “Os 33” (Los 33, Chile/EUA, 2015, 120 min.) dirigido pela mexicana Patricia Riggen baseia-se no livro do jornalista norte-americano Hector Tobar, narrando a odisseia dos mineiros que permaneceram 69 dias nas profundezas da montanha, tentando resistir, com restrição de comida e água, além de tentarem manter as baterias dos meios de iluminação, seja dos capacetes que usavam seja dos spots no espaço que estava dedicado aos intervalos de jornadas e sobrevivência em caso de acidente.
O roteiro de Mikko Alane, Craig Borten, José Rivera e Michael Thomas foi o grande problema da adaptação do livro de Tobar (por sua vez já esquematizando os fatos). A empresa de Hollywood 20th Century Fox adquiriu os direitos de filmagem e começou exigindo as falas em inglês alegando a comercialização nos EUA. A diretora achou por bem colocar seu elenco falando com um sotaque como os personagens dos westerns ou os hispanos de filmes de aventuras. Se isso apresentou um tom ridículo também sobraram algumas anedotas dentro e fora da mina, seja o caso da esposa e da amante de um dos soterrados que teriam de se dar as mãos na torcida pela sobrevivência do amado, seja alguns gracejos contados no recinto dos mineiros, algumas absolutamente improváveis no ambiente aonde todos viviam apavorados com a morte lenta no lugar onde as tentativas de salvação dependiam unicamente de quem estava em terra firme.
Há sequencias verdadeiras incluídas no trabalho ora em cartaz nacional. O caso das transmissões de TV e algumas cenas do acampamento que se formou nas vizinhanças da mina onde os familiares dos soterrados, depois a imprensa em geral, permaneceram acompanhando as tentativas de resgate. E é nestas tentativas que reside o suspense ainda preservado na apreciação do filme, mesmo sabendo-se como as coisas vão acontecer.
“Os 33” consegue ser, apesar de usar algum modelo de cinema norte-americano, um filme intenso onde a ação se modula pela eficiente montagem a partir de planos tomados em câmera manual e uma bem equilibrada iluminação responsabilidade do fotografo Checco Varese. Mas não consegue individualizar algumas personagens como os autores pretendiam. O líder do grupo, interpretado por Antonio Banderas, pouco é delineado a se reconhecer sua importância antes de uma resolução no espaço de sobrevida. Do lado de fora da mina, há tipos como o de Maria (Juliette Binoche), mulher que espera o irmão mesmo com certa animosidade entre eles, passam em poucas tomadas. Chega a surpreender Juliette em papel tão pequeno longe de sua pátria (e ela atuou também no blockbuster “Godzilla” do ano passado).
Há certas evidencias que mostram o interesse norte-americano de comercializar o produto. Primeiramente, a língua falada é a inglesa e alguns vão considerar que a diversidade de atores converge para essa decisão. Nesse caso, observa-se ainda que entre os principais personagens não houve indicação de um ator chileno (será que não existem bons atores nesse país?) e até o nosso Rodrigo Santoro ensaia um estereótipo que leva o drama dos mineiros à dimensão política e se sobressai nessa atuação representando a única pessoa do governo do presidente Sebastian Piñera a manter o objetivo de tirar os 33 soterrados do local, uma vez que o Ministério de Minas considera um caso encerrado já nos primeiros dias do acidente. Mas em 27  de agosto é criado a Superintendência de Minas.
Acima da média dos lançamentos locais, “Os 33”, embora nada acrescente ao que se sabe de um fato amplamente divulgado em um tempo, merece ser visto. E fica no espectador um caso de consciência ao saber por legendas que os homens que por pouco não morreram em serviço não foram indenizados (e certamente perderam o emprego, pois a mina fechou). Eles aparecem no final da projeção festejando estarem vivos e se dizendo sempre irmãos. Como conseguem manter um padrão dessa vida é a duvida. Os patrões mostram-se “bem, obrigado”.



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