domingo, 1 de novembro de 2015

SICÁRIO – TERRA DE NINGUÉM



Benicio del Toro, Josh Brolin e Emily Blunt em "Sicário- Terra de Ninguém"

Denis Villeneuve é um diretor canadense presentemente instalado em Hollywood. Alguns filmes seus são conhecidos como “Incêndios” (indicado ao Oscar em 2011, na categoria de melhor filme estrangeiro) e “Os Suspeitos” (2013) com Viola Davis, Hugh Jackman e Jake Gyllenhaal entre outros, evidenciando uma linha tensa de ação. Este ano o diretor apresentou à Palma de Ouro em Cannes seu mais novo filme, “Sicário - Terra de Ninguém” (2014) jogando sempre com uma trama tensa, roteiro de Taylor Sheridan, um novato na profissão.
O argumento trata de uma operação policial da CIA, com o objetivo de capturar um líder do cartel mexicano de drogas (cidade de Juarez) e para isso solicita a uma agente do FBI, Kate Macy que participe com o grupo, ela que se mostrou eficaz em uma operação anterior. A atriz inglesa Emily Blunt, com 15 prêmios no currículo é a policial Kate, indicada para essa operação na fronteira dos EUA com o México, combatendo o intenso trafico de drogas. O ator Benicio del Toro, com 38 prêmios inclusive um Oscar (por “Traffic”) é Alejandro Gillick, um promotor colombiano e colaborador das investigações para capturar com a polícia, de forma obsessiva, o chefão Manuel Diaz (Bernardo Saracino), chefe do trafico e tido como um dos responsáveis pela morte da esposa e da filha do promotor.
Nos créditos iniciais do filme explica-se o que quer dizer “sicário”. Vem do latim “sicarious” (homem da adaga, sica), grupo separatista de zelotes judeus por volta do ano 70 que visava à expulsão dos romanos. Mas no México o nome é dado a “assassinos contratados”, e se aplica aos que trabalham no tráfico.
O filme de Villenueve expõe um assunto que se poderia dizer “gasto pelo uso” em filmes e seriados que tratam de cartéis mexicanos e tráfico. Del Toro já esteve num exemplar do gênero. Mas o roteiro de Taylor Sheridan procura variar dentro do tema. Não é só o simples combate aos traficantes. É também uma denúncia à corrupção policial e uma amostragem de uma situação que não se resolve com a luta de mocinho-versus-bandido. Embora os tipos estejam pouco desenvolvidos, o de Kate é o mais evidenciado. Mulher jovem, divorciada, sem filhos, acredita nos valores que defende e resiste a pressões psicológicas e mesmo a agressões físicas. Na sequencia dos novos embates, não reconhece os valores que julga defender. O parceiro dela, Reggie (Daniel Kaluuya) tem pouca visibilidade e desaparece no final. A equipe é liderada por Matt Graver (Josh Brolin) policial debochado sobre o uso das leis e o certo e o errado nessas ações. Dialoga com Kate/Blunt sempre através de piadas sarcásticas, jogando-lhe questões para que ela própria reconheça como parte da ação, deixando-a sem informações sobre o processo em realização (diz-lhe: “Olhe e aprenda”). Por outro lado, Alejandro é visto como “o homem que não ri”, que está sempre alerta a qualquer indicio de reação à sua pessoa e que denuncia, em expressões, o ódio aos que persegue.
Há uma sequencia que é uma espécie de “xeque mate” para dimensionar o caráter de Alejandro: quando ele invade a casa do chefão do trafico e este se encontra na mesa de jantar com mulher e filhos. A crueldade como forma de vingança pessoal ganha uma feição aterradora. O filme, aliás, não tipifica quem é do bem e quem é do mal na historia. Salva das aparências dúbias a jovem Kate, e mesmo assim ela demonstra que antes de ser heroína é um ser humano sujeito às fraquezas naturais de quem preza por sua vida.
Com uma direção de arte impecável que deixa a impressão de que se está assistindo a um documentário, uma edição de som que dá consistência aos vazios do roteiro “Sicario” consegue dar interesse ao assunto em tempo de thriller, ou seja, fazer suspense. E deixa nessa narrativa o elo de violência aterradora. Desde que se veem corpos em decomposição envolvidos em sacos plásticos e escondidos em dependências de uma habitação da fronteira mexicana (o odor é dimensionado com a reação dos policiais) a direção se esmera nas sequencias de assassinatos em nome de uma “legalidade”. Talvez haja certo exagero nessa amostragem. Mas Villenueve consegue que não se tire os olhos da tela. Comenta-se que Benicio del Toro está candidato ao Oscar no próximo janeiro. E Emily Blunt?

Um filme acima da média e uma aula de cinema para quem se aprofundar no estudo da narrativa que apresenta.  

Um comentário:

  1. Passou como um vento em Belém... Quando pensei em ir, na última quinta, já havia saído de cartaz... Olha que estamos falando de um filme cotado ao prêmios da academia.

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