Benicio del Toro, Josh Brolin e Emily Blunt em "Sicário- Terra de Ninguém"
Denis Villeneuve é um diretor canadense
presentemente instalado em Hollywood. Alguns filmes seus são conhecidos como “Incêndios”
(indicado ao Oscar em 2011, na categoria de melhor filme estrangeiro) e “Os
Suspeitos” (2013) com Viola Davis, Hugh Jackman e Jake Gyllenhaal entre outros,
evidenciando uma linha tensa de ação. Este ano o diretor apresentou à Palma de
Ouro em Cannes seu mais novo filme, “Sicário - Terra de Ninguém” (2014) jogando
sempre com uma trama tensa, roteiro de Taylor Sheridan, um novato na profissão.
O argumento trata de uma
operação policial da CIA, com o objetivo de capturar um líder do cartel mexicano
de drogas (cidade de Juarez) e para isso solicita a uma agente do FBI, Kate
Macy que participe com o grupo, ela que se mostrou eficaz em uma operação
anterior. A atriz inglesa Emily Blunt, com 15 prêmios no currículo é a policial
Kate, indicada para essa operação na fronteira dos EUA com o México, combatendo
o intenso trafico de drogas. O ator Benicio del Toro, com 38 prêmios inclusive
um Oscar (por “Traffic”) é Alejandro Gillick, um promotor colombiano e colaborador das investigações para capturar com a polícia, de forma obsessiva, o chefão
Manuel Diaz (Bernardo Saracino), chefe do trafico e tido como um dos
responsáveis pela morte da esposa e da filha do promotor.
Nos créditos iniciais do
filme explica-se o que quer dizer “sicário”. Vem do latim “sicarious” (homem da
adaga, sica), grupo separatista de zelotes judeus por volta do ano 70 que
visava à expulsão dos romanos. Mas no México o nome é dado a “assassinos
contratados”, e se aplica aos que trabalham no tráfico.
O filme de Villenueve expõe
um assunto que se poderia dizer “gasto pelo uso” em filmes e seriados que
tratam de cartéis mexicanos e tráfico. Del Toro já esteve num exemplar do
gênero. Mas o roteiro de Taylor Sheridan procura variar dentro do tema. Não é
só o simples combate aos traficantes. É também uma denúncia à corrupção
policial e uma amostragem de uma situação que não se resolve com a luta de
mocinho-versus-bandido. Embora os tipos estejam pouco desenvolvidos, o de Kate
é o mais evidenciado. Mulher jovem, divorciada, sem filhos, acredita nos
valores que defende e resiste a pressões psicológicas e mesmo a agressões
físicas. Na sequencia dos novos embates, não reconhece os valores que julga
defender. O parceiro dela, Reggie (Daniel Kaluuya) tem pouca visibilidade e
desaparece no final. A equipe é liderada
por Matt Graver (Josh Brolin) policial debochado
sobre o uso das leis e o certo e o errado nessas ações. Dialoga com Kate/Blunt
sempre através de piadas sarcásticas, jogando-lhe questões para que ela própria
reconheça como parte da ação, deixando-a sem informações sobre o processo em
realização (diz-lhe: “Olhe e aprenda”). Por outro lado, Alejandro é visto como
“o homem que não ri”, que está sempre alerta a qualquer indicio de reação à sua
pessoa e que denuncia, em expressões, o ódio aos que persegue.
Há uma sequencia que é
uma espécie de “xeque mate” para dimensionar o caráter de Alejandro: quando ele
invade a casa do chefão do trafico e este se encontra na mesa de jantar com
mulher e filhos. A crueldade como forma de vingança pessoal ganha uma feição
aterradora. O filme, aliás, não tipifica quem é do bem e quem é do mal na
historia. Salva das aparências dúbias a jovem Kate, e mesmo assim ela demonstra
que antes de ser heroína é um ser humano sujeito às fraquezas naturais de quem
preza por sua vida.
Com uma direção de arte
impecável que deixa a impressão de que se está assistindo a um documentário, uma
edição de som que dá consistência aos vazios do roteiro “Sicario” consegue dar
interesse ao assunto em tempo de thriller, ou seja, fazer suspense. E deixa
nessa narrativa o elo de violência aterradora. Desde que se veem corpos em
decomposição envolvidos em sacos plásticos e escondidos em dependências de uma
habitação da fronteira mexicana (o odor é dimensionado com a reação dos
policiais) a direção se esmera nas sequencias de assassinatos em nome de uma
“legalidade”. Talvez haja certo exagero nessa amostragem. Mas Villenueve
consegue que não se tire os olhos da tela. Comenta-se que Benicio del Toro está
candidato ao Oscar no próximo janeiro. E Emily Blunt?
Um filme acima da média e
uma aula de cinema para quem se aprofundar no estudo da narrativa que apresenta.
Passou como um vento em Belém... Quando pensei em ir, na última quinta, já havia saído de cartaz... Olha que estamos falando de um filme cotado ao prêmios da academia.
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