quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

STAR WAR - TRAÇANDO UMA LEITURA


Star War: O Despertar da Força 

Para quem não é versada/o em um mundo ambientado com a diversidade criativa e fantástica sinalizado com a saga dos filmes da série Star War, mas que assistiu a todos eles desde 1977, a convivência hoje com uma geração toda voltada para um ambiente recoberto de expressões idiomáticas, lógica de luta, objetos variados e motivação emocional assumindo um posto na cultura pop não é uma convivência tão “pacífica”. Mas não é isso que me desloca para um não-querer-saber das coisas e dos acontecimentos nesse mundo e nessa cultura.
Gian Danton (Cultura Pop, 2002) elabora um texto muito interessante sobre esse mundo pop: “O conceito de cultura pop surge não para substituir o de indústria cultural, mas complementá-lo. Ele é aplicado onde justamente as teorias da escola de Frankfurt falham: nos produtos da indústria cultural que não conformam, mas provocam, não acomodam, mas incentivam uma leitura crítica da realidade. A cultura pop surgiria ou de uma vontade de se contrapor à indústria cultural num movimento "de dentro", ou daquelas peças que ganham uma nova dimensão em decorrência de sua carga arquetípica”.
Nessa ocorrência, o processo de criação de novos produtos da cultura para extrair um mundo intergaláctico proporcionado pela saga dos filmes da série “Star War” favoreceu uma re-visão de termos a serem definidos como integrantes desse ambiente. Do vocabulário às personas que povoam esse mundo um dicionário tende a fazer parte do processo de criação assimilado por aqueles que fizeram desse novo mundo sua base cultural.
Se perguntarmos a alguém da minha geração o que é geek? O que é jedi? E Millennium Falcon (ao menos esses), certamente não reconhecem porque estes termos não fazem parte do espaço cotidiano de suas conversas. Há, entretanto, pessoas que não gostam de filmes de ficção científica e por isso se afastam de conhecer mais o quadro referencial dominante desse gênero. Mas outros, embora gostem do gênero, não se “amarraram” na série.
A minha geração, principalmente os meninos, ficou marcada pela ficção científica vinda dos quadrinhos onde pontuavam Flash Gordon, desenhado por Alex Raymond, Brick Bradford (ou Dick James), personagem de Clarence Gray, heróis comuns daquela época. Os meus tipos marcantes eram o Super-Homem, o Capital Marvel (e o histórico grito Shazam que nos fascinava) e o Batman (editado pelo Guri, pelo Globo Juvenil, depois pela EBAL). Cinema em seriado pouco chegava na minha cidade. Mas, de qualquer forma, a intriga interplanetária e fantástica se arvorava nos quadrinhos para iluminar a leitura das crianças da época.
Então ao deslocar para o fascínio da “Guerra nas Estrelas” do final dos anos 70 confiro em mim algum interesse por esse mundo que não se apresentava mais tão misterioso. Daí em diante, sete episódios se configuram na série produzida por George Lucas: “Star War: Uma Nova Esperança” (epsiódio IV, 1977), Star War: O Império Contra Ataca (episódio V, 1980), O Retorno de Jedi (Episodio VI, 1983), A Ameaça Fantasma (Episodio I, 1999), Ataque dos Clones (episódio II, 2002), A Vingança dos Sith (episodio III, 2005), Star War A Guerra dos Clones (2008), Star War: O Despertar da Força (episodio VII, 2015).



UMA VIAGEM ENTRE AS NOVAS E VELHAS ESTRELAS DA SAGA

Pessoalmente aproveitei melhor este último episódio. Integraram-se, além de opiniões de experts do mundo “nerd”, as minhas novas leituras sobre os tipos suscitados para o realocamento da saga que apresentou outros personagens somando-se aos que já estavam entre os vários episódios.
“Star War: Uma Nova Esperança” (episódio IV, 1977) que intitula o primeiro da série, inicia a franquia do universo fantástico da ficção cientifica criado por George Lucas (lançado com o título “Star War” tornando-se sucesso mundial do cinema popular). No episódio, Luke Skywalker (Mark Hammil) se envolve em uma trama intergaláctica ao receber uma mensagem de um dos robôs adquiridos por seu tio dando conta do contato da Princesa Leia Organa (Carrie Fisher) com o jedi Obi-Wan-Kenobi (Alec Guiness) sobre a construção da estação espacial Estrela da Morte com alta capacidade de destruição do planeta. Dessa forma, o jovem Luke alia-se aos cavaleiros jedis numa frente de batalha para resistir a essa ameaça, a Aliança Rebelde, integrando o mercenário Hans Solo (Harrison Ford). Entre estratégias e planos de enfrentamento, os jedis rebeldes atacam a nave comandada pelo principal inimigo, Darth Vader, que explode, mas este escapa. Os três principais guerreiros, Luke, Solo e Chewbacca, são condecorados pela princesa Leia.
Em “Star Wars – O Despertar da Força”, o interesse para o sétimo episódio era apresentar a franquia quase quarentona (38 anos) aos novos nerds, aos de uma geração já entrosada entre tipos surgidos em outras cosmologias, além de agregar a avidez dos antigos fãs. Responsabilidade de direção de J.J. Abrams, roteiro de Michael Arndt e Lawrence Kasdan (um dos roteiristas de O Império Contra-Ataca e O Retorno de Jedi) com a equipe da Lucasfilm procuraram rejuvenescer os velhos tipos e fazer renascer os novos escolhendo o seguimento da saga dentro de um roteiro essencial para despertar a Força a partir desses novos emblemas.
No enredo, a trama inicia anos após o “O Retorno do Jedi” quando Darth Vader cai junto com o Império, surgindo, entretanto, a Primeira Ordem uma nova força que aspira o poder da República, sendo os principais expoentes Kylo Ren (Adam Driver), o General Hux (Domhnal Gleeson) e Snoke, o Lider Suppremo (Andy Serkis). A busca da Princesa Leia (Carrie Fisher) pelo irmão Luke Skywalker que se recolheu há muitos anos é um dos objetivos da Resistência liderada por ela. Mas a Nova Ordem captura o piloto Poe Dameron (Oscar Isaac) que ainda tem tempo de enviar aos seus colegas, pelo robô BB-8, o mapa do local onde está Luke. Na fuga, este encontra a jovem Rey (Dayse Ridley), catadora de destroços das naves antigas, que está abandonada no deserto. Com a ajuda de Finn (John Boyega), um stormtrooper (clones treinados para terrenos gelados) que rompe com a Ordem, eles escapam do domínio desta.
A tensão dramática se dá, portanto, entre os membros da Resistência incluindo-se os velhos tipos - Han Solo (Harrison Ford) e Chewbacca – ao lado dos novos seguidores, na espaçonave Millennium Falcon, que agora será pilotada por Rey (antes era por Solo) auxiliada por Chewbacca e em cujo interior há compartimentos ocultos e surpresas que podem detonar os inimigos.
O reencontro com os tipos anteriores acolhendo a sedução dos personagens e favorecendo uma retomada da preocupação com a sintonia entre estes é um dos pontos que favorece este novo Star War. Os fascinantes robôs conhecidos, o C3PO e R2D2 (me apaixonei por eles desde o primeiro filme), harmonizam-se com o novo BB-8 (que tem certa semelhança com este último) cuja missão é devidamente executada.



A meu ver percebem-se toques especiais em alguns pontos: o reencontro de novos e velhos personagens tornando emergente a preocupação com a odisseia anterior em cada caçada ao inimigo; a entrega à cosmologia atual pontuada pelos mitos do bem e do mal que ainda caminham na direção de refazer a Força objetivada na procura e no achado de Luke Skywalker; o  manejo dos objetos e instrumentais de guerra entre os quais o sabre de luz cujo raio compacto tende a se propagar em linha reta (possibilitando reconhecer a existência de um campo de força gravitacional) – para estabelecer a paz, no caso, a ruptura com a Nova Ordem que quer o poder; e a presença feminina convertendo uma jovem errante em uma bem dotada mulher cheia de objetivos de vitórias enfrentando o desconhecido, rompendo com a incerteza e apontando para novos caminhos que tendem à vitória na batalha final. Abandonada ainda criança no deserto do planeta Jakku Rey começou cedo a descobrir-se e às coisas que estavam ao seu redor. Com prática em trabalhos mecânicos sabia dos segredos que a levaram à manipular as naves que passa a pilotar. E assim dá-se conta, no filme, de uma figura que a representação social estabeleceu como apática às coisas da ficção cientifica e de engrenagens do tipo que transborda em Star War e nem se dá conta da importância que é o cinema adotar essa nova posição no terreno da produção. Mesmo que seja pelo filme seguir a linha do teste Bechdel (a produção de filmes estipula ao menos duas personagens femininas que conversem entre si sobre assunto que não seja homens). Mas esse tema pede novo comentário.
O visual de “Star Wars – O Despertar da Força” com efeitos especiais em várias cenas de ação de todos os níveis é muito bom, transitando entre criaturas, naves e figuras digitais que promovem o monumental do ambiente.
Embora sem o destaque de sempre, reconhece-se que a música de John Williams tem grande força de movimentos, encontrando o tema original de Leia e Solo.
Entre a nostalgia e o épico atual a “Força” recolocou-se em mais este episódio do filme. The Force Awakens captura citações e sequencias semelhantes, além do retorno de tipos, alguns não devem retornar no próximo episódio, o VIII, visto que, o final é revelado por duas significativas evidências. Não vou criar spoiler aos que ainda não assistiram ao filme.
Um blockbuster que vale a pena ver.


2 comentários:

  1. Luzia,

    Destaque para as diferenças neste filme.

    Rey é a protagonista, uma mulher forte, Finn um afrodescendente em papel de destaque e o piloto Poe, é um latino.

    Mais do que nunca Guerra nas Estrelas tornou-se um evento feito por pessoas do mundo e para o mundo.

    Belo retorno a jornada do herói.

    Abraços!

    Carlos Lira

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  2. Luzia,

    Replico meu comentário no espaço do Pedro Veriano.

    Assisti ontem, no Líbero, o excelente "Olmo e a Gaivota", filme muito interessante enquanto arte e experiência cinematográfica.

    Por sinal, é preciso dizer que é um trabalho cuidadoso e extremamente bem executado por Petra Costa e Glob, que optam por fazer um filme (ficcional?) sob um formato de documentário.

    Tal opção nos faz "confundir" o real com o imaginário no primeiro momento do longa. No entanto, com o avançar da trama, somos envolvidos pela crise de Olivia.

    Por sinal, é neste momento de cumplicidade com a situação de Olívia que nós deixamos de nos importarmos com real e fantasia, e mergulhamos na angustia claustrofóbica do personagem de Olivia.

    Por sinal, as diretoras foram muito felizes ao optar pelo close e supercloser, pois são eles que nos permite ver a transformações de Olívia ao longo da gravidez.

    Mais do que isso, são os closes que nos permite ver as inúmeras Olívias existente ao longo da película.

    Abraços!
    Carlos Lira

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