Marcus Krojer, 11 anos, é Sebastian, o garoto que tem medo de morrer.
O título original do
filme (em exibição no Olympia, desde 22/09) está em alemão – “Wer Früher
Stirbt Ist Länger Tot” – mas a tradução em português dá mais informações sobre
o que o mesmo espera tratar: “Quem Morre Antes Está Morto Há Muito Tempo” (é
isso mesmo, Ernani Chaves?). Se o público vai ver como comédia, há situações
que levam a isso. Mas o centramento do tema é sobre a culpa e o medo da morte e
a ida aos infernos e purgatório, criações religiosas da Idade Média para
amedrontar os cristãos que cometem “pecados”, e o seu destino após a morte.
No caso do filme, o
garoto Sebastian (Marcus Krojer), de 11 anos, que mora com o pai e o irmão mais
velho, na expectativa de tirar sua bicicleta que está sob um caminhão, ao mexer
na marcha do carro cria sérios problemas matando alguns animais domésticos que
estão naquele lugar. A infringência não fica impune, pois ele sofre repreensões
do pai, e quanto ao irmão, é mais violento, impõe pedido de desculpas do irmão
para seus coelhos mortos e, como vingança acusa-o de ser o responsável pela
morte da mãe, inclusive mostrando a coincidência das datas do nascimento dele à
morte dela. Sebastian havia sido informado de que a mãe morrera num acidente.
Esta culpa se mantém na
mente da criança, causando-lhe sérios problemas psíquicos em pesadelos noturnos
e criando mecanismos para reaver a paz e não ir ao inferno pelo crime. Essa
ideia do castigo eterno é repassada pelos atores de um teatro que ensaiam suas
peças no bar do pai de Sebastian e ele ouve as frases dos personagens da peça.
Entre noites mal dormidas e o vai-e-vem ao cemitério pedindo luzes à alma da
mãe sobre o que fazer para sair desses impasses, o garoto vai seguindo seus
dias. Algumas situações são hilárias outras nem tanto, mas aos poucos vão se restabelecendo
os caminhos possíveis de sua “salvação” das penas aos mortos. Ele tem horror de
morrer e ir para um desses lugares criados para os “culpados”. Uma resolução
final leva-o a recriar-se na família e sentir-se amado pela alma da mãe.
O expectador deve
avaliar que a dita “comédia” no filme alemão é marcada pelo bulling familiar,
uma situação que hoje se vê com frequência como sendo “modos de cultura
doméstica”, a imposição de certos castigos e/ou crenças em episódios míticos
que embolam o entendimento das crianças tornando-as, muitas vezes, um adulto
com várias neuroses. E ninguém leva em consideração que esse adulto trouxe da
raiz o germe desses medos, dessa forma de viver uma situação que foi implantada
em sua mente infantil. Se formos avaliar o filme como um todo há mais drama do
que comédia no percurso de Sebastian em suas preocupações porque o que
predomina é a ideia da morte, do medo, da culpa.
Este filme é o primeiro
longa-metragem do diretor Marcus H. Rosenmüller (como Marcus Hausham
Rosenmüller) com o roteiro do diretor e de Christian Lerch. A linha narrativa
tende ao modelo norte-americano, sem que isso se torne um defeito porque o
cinema alemão dá seu retoque ao que lê no abecedário cinematográfico de uma boa
produção.
Os atores estão muito
bem, principalmente o principal intérprete, Marcus Krojer, cuja filmografia
marca sete filmes em que atuou, estando hoje com 22 anos. Nesse filme ele era
estreante e demonstra domínio de desempenho. Hoje ele está mais dedicado às séries
de tevê.
“Quem Morre Antes Está
Morto Há Muito Tempo”(2006) exibe-se entre nósaté o próximo dia 05/10 e tem o
apoio do Instituto Goethe/SP, tendo sido destaque do Festival de Cinema Alemão
de 2007. Entre o trágico e a fantasia superpõe-se uma realidade do mundo
infantil. Sessão às 18h30min (exceto domingos e feriados às 17h30min). Entrada
franca.
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