Quando as Mulheres Esperam (Suécia, 1952)
Nos anos sessenta
conheci o cinema de Ingmar Bergman (1918-2007). Os primeiros filmes que assisti
dele: “Quando as Mulheres Esperam” (Suécia, 1952), “No Limiar da Vida” (Suécia,
1958) e “O Silêncio” (Suécia, 1963). Nesses três filmes, o que emergia de suas
imagens e da narrativa tão simples que ele traduzia em discussão de cotidianos
de homens e mulheres em várias circunstâncias, chamou a minha atenção e me
envolveu visceralmente. O resultado disso foi reconhecer que a cada filme desse
diretor uma maneira singular de vida se produzia em meio a inúmeras
circunstâncias. Isso me fez reconhecer que, ao longo de todas as suas fases
criativas de imagens para o cinema uma parte significativa de suas versões se
detinha na situação das mulheres. Não de todas, mas daquelas que se faziam
próximas de si, as europeias, brancas, a maioria letrada e de classe social
média ou alta, definida pela linha do enredo, e se da zona rural ou urbana.
A tradução dessa linha
de convergência de sua argumentação mantinha-se, contudo, nas instituições, na
forma de estas focarem questões fundantes da vida humana, favorecendo uma
repercussão mundial. A exemplo, a sociedade, o casamento, a religião, o Estado,
a família etc. Ou seja, tudo o que se detém em modelos instituídos. Nesses ele
revolve e desfaz as certezas que possam estar subjacentes.
O imperativo de Bergman
– para mim um fator dos mais importantes do processo reflexivo no cinema – é a
transferência de cenas do cotidiano numa sensível mostra de incertezas, usando
uma narrativa simples sem simbologias, mas direta. No cinema desse autor (daí a
sua infinitude criativa) – o tom dramático e emocional de um enredo traduz-se
numa argumentação que pode ser uma possibilidade ou não. Tratando de alguns
desses vê-se a subjetivação movimentar a câmera e/ou manter-se num plano
próximo, ou médio ou geral. Incidem sobre o que espera demonstrar a narrativa
simples e direta.
É o caso de “Quando as
Mulheres Esperam”, cujo o foco traduz-se em conversas entre quatro mulheres
casadas com quatro irmãos, estes a caminho do local onde as famílias passarão
as férias. Uma série de relatos individuais, com desabafo de fatos do cotidiano
vão traçando formatos do relacionamento entre elas, expondo a maneira de
organizarem a vida do jeito que então se mantêm naquela ambiência e parentesco.
Casa de campo, paisagens da propriedade, com recortes em planos médios, mas
utilizando, inicialmente, planos próximos para captar o contato entre as
cunhadas, favorecem a construção psicológica das personagens, evidenciando esse
movimento de câmera para que o espectador avalie, nas histórias contadas, os
dramas matrimoniais, e se afaste e circule pela casa quando o filme finaliza em
planos gerais não sem antes mostrar um momento de diversão com toda a família.
Bergman foca sobre as
histórias de mulheres casadas expondo os sentimentos que emergem em versão
conservadora ou mais liberal conferindo essa argumentação aos laços humanos
entre elas e os maridos. São relatos internos que ao tempo em que escancaram a
intimidade das vivências apontam um vazio existencial que as envolve num ciclo
social opressivo, as vezes conveniente, intentando que a vida que levam seja
mais suportável.
E Bergman segue seu
ritmo como criador de uma outra história do cinema por sua maneira de ver as
pessoas, as instituições opressoras e a arte convertida em possibilidade de
fugir da opressão. Os conflitos que ele aponta a partir da linguagem que adota
para mostrar, por exemplo, a simplicidade da trama que engendra para evidenciar
o horror da religião sobre uma criança, ou uma mulher, ou um homem, ou alguém
que busca conhecer a Morte, ganham importância no interior de cada filme seu.
Quais conflitos? Como resolvê-los? Não há respostas visto que o gran finale de seus filmes repercute em
divergências paradoxais em suas especificidades. É a irreverência. É a
incerteza. Não há respostas. Só questionamentos.
Esse é o Ingmar Bergman
que a cada obra inventa uma maneira de ver a vida. Esse é o maestro da
reflexão. Seu cinema investiga com amor e simplicidade o comportamento humano.
Ingmar Bergman, 100
anos! Presente!
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