Na noite de 12/03, foi promovida a entrega das
estatuetas anuais do cinema norte americano, considerada a “festa do cinema” em
que pese outros eventos promotores dessa arte e em níveis considerados mais
valorizados. Se antes era possível chamar de “festa de Hollywood” a entrega do
Oscar, presentemente não é mais possível essa designação. Houve inclusão de
filmes de produção internacional, nas categorias específicas e muitas
premiações que equivaleram reformular a dimensão da esfera nacional norte americana,
no convívio do mercado de produção, distribuição e exibição. Sim, esse aspecto
é que agora determina quem é quem nas indicações dos filmes, por meio de uma seleção
colegiada multidividida de eleitores e selecionadores para essa noite esperada por
milhões de cinéfilos e, principalmente, por espectadores médios mundiais.
As indicações deste Oscar 2023 seguiram a fórmula
de anos recentes em que o cinema asiático, europeu, africano e de outras
regiões trouxeram sua significativa presença para “encantar” esse mercado
exibidor norte-americano, porque para concorrer nesse evento e ao menos ser
indicado para receber essa estatueta, há regras datadas e específicas que dizem
respeito em especial aos produtores. Sabe-se que o sistema da arte sob o
capitalismo não foge à regra de se constituir um produto mercantilizado e exigente
das regras de distribuição.
Assisti, com Pedro Veriano, a maioria dos indicados
ao Oscar deste ano. Marco Antonio Moreira, nos emprestando cópias em DVD dos
filmes lançados e, também assistidos nos canais streaming facilitadores atuais
desses lançamentos. Tecnologias e narrativas interessantes que nos faziam optar
sobre este ou aquele vencedor na tal noite do Oscar.
A 95ª cerimônia de entrega dos Academy Words foi
longa. Com a lista dos indicados na mão e a caneta ao lado, discutia com o Pedro
e com o Marco Moreira (via WhatsApp), as premiações que iam sendo reveladas na
abertura dos tradicionais envelopes sob a guarda de atores e atrizes, algumas
caras novas nesse mundo do cinema. E nessa estratégia chegamos até a madrugada
deste 13/03.
Em dezembro do ano passado assisti, no Amazon Prime
Video, a “Tudo em todo lugar ao mesmo tempo” ( EUA, 2022, 2h19min) escrito e
dirigido por Daniel Scheinert e Daniel Kwan. Houve uma sensação inicial de
estranhamento pela narrativa em que milhares de partículas se interpenetravam, interagiam,
outras ficando estáticas, ou se movimentando loucamente. Esse processo incomoda
aos que estão acostumados com a “linguagem certinha” sobre um tema. Que tema? Perguntei
a mim mesma. E revi o filme. Fui juntando algumas ideias sobre ele, sobre as
personagens, sobre uma em particular. E fui gostando do que assistia.
Não li nenhuma análise crítica ao filme porque eu
precisava das minhas próprias ideias para a demonstração pessoal sobre um assunto
que o cinema estava dizendo – é difícil de entender – e eu acreditava estar vivendo
aquela realidade. Na ficção científica? Não era o caso. Emergiu a figura de Evelyn
(Michelle Yeoh), uma mulher, que administrava uma lavanderia familiar. Nessa
situação, outras tarefas se interpunham nas condições de vida dela, a
administração da casa, onde os cuidados com todos se trançavam entre suas próprias
despesas em confronto com as notas fiscais que teria que encontrar sobre os
custos na empresa, o cotidiano da família e as diversas decisões que tinha que
tomar em nome de sua vida afetiva, de seus preconceitos, do tempo para negociar
suas dívidas com a auditora implacável da receita (Jamie Lee Curtis) em torno da
papelada comercial que nem sempre estava conforme as demandas da fiscalização.
Esse multiverso que desdobrava a partir daquelas
cenas se confundiam com um jogo como se constituíssem em universos paralelos
que estavam em circulação no cotidiano de Evelyn. Ela priorizava tudo, defendia
seu ponto de vista, mas recorria contraditoriamente em novas pegadas a caminho.
O idoso, a quem alimentava e medicava, o marido que expunha algumas ideias ,
eram aceitas, mas ao mesmo tempo se
tornavam inúteis e havia a recomposição
da atitude. Revisão do preconceito homofóbico, do etarismo, do amor, de todas
as circunstâncias que escravizam , que destroem a liberdade, que desmontam o
afeto.
Então, vejam minha visão se integrava à de milhões
de mulheres que vivem nesse multiverso. Não era um filme de ficção científica,
mas a evidencia que estas condições em que o caos se ordena são vividas por
nós, mulheres.
Estou eu aqui, apaixonada pelo filme. Porque trata
de um multiverso feminino que espelha o fio das vivências das mulheres.
Vou re-re- ver o filme. Porque tudo em todo o
lugar ao mesmo tempo, é a nossa prática cotidiana.
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